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sábado, 11 de maio de 2013

Eu, Você e Todos Nós (Me and You and Everyone We Know) - 2005; peculiar e delicado

Eu, Você e Todos Nós (Me and You and Everyone We Know), lançado em 2005.
Um filme de Miranda July.
Este não é um filme perfeito, mas esteticamente falando é quase isso. 
Miranda July é uma reconhecida artista audiovisual, com trabalhos expostos em diversos museus importantes de arte contemporânea. Ela acabou também entrando para o mundo do cinema com curtas-metragens e apaixonando-se pelo meio fez o filme citado. O primeiro longa de sua carreira, que ela escreveu, dirigiu e estrelou. E nesse filme ela traz o que aprendeu com sua arte. Daí um filme, esteticamente falando, perfeito. São cenas belíssimas, com uma fotografia, sutil, delicada e sensível.

Um homem acaba de se divorciar, e se muda com os dois filhos, um de 6 anos e outro de uns 14, para uma nova casa. Sua ex-mulher inicia um novo relacionamento, enquanto isso ele trabalha numa loja como vendedor de sapatos, onde conhece uma taxista de idosos e artista plástica amadora, que se apaixona por ele, embora ele tenha medo de se relacionar tão cedo após a separação. Mais ou menos paralelamente a isso, os dois irmãos usam a internet num chat sexual. E também paralelo, duas garotas provocam sexualmente um vizinho adulto. 

Ao assistir este filme me veio à mente outros três títulos: Magnólia, Beleza Americana e A árvore da vida. O que estes quatro filmes têm em comum? Todos são filmes que homenageiam a vida. Fazem-nos pensar o quão estranho e maravilhoso é estar vivo. Mas não foi bem por isso que me lembrei deles. Me and you and everyone we know entrelaça histórias paralelas de personagens ligados, como Magnólia; ele mostra a vida no subúrbio e sua mediocridade e solidão como em Beleza Americana; e usa de fotografias fantásticas e uma trilha sonora excêntrica porém discreta, como em A árvore da vida.
O roteiro é falho, falta alguma coisa nele. Talvez um melhor desenvolvimento das tramas e de alguns personagens. E alguns diálogos são pouco críveis, embora sejam espirituosos, originais e poéticos. E a trilha sonora, quase constante, me desagradou por parecer pretensiosa. Mas tirando isso temos uma sucessão de acertos. 

Este é um filme triste. É fácil notar a melancolia dos personagens, envolvidos em seus problemas e dilemas. Mas ao mesmo tempo é alegre e engraçado (a cena do porta-retrato me fez gargalhar). E aí entra o trabalho de atores desconhecidos mas de talento. July, além de escrever e dirigir, atua no filme, e atua como se espera de uma grande atriz. Está ótima. John Hawkes, que faz o papel do pai divorciado, também dá vida a seu personagem estranho e meio pateta. Mas quem rouba a cena é o ator mirim Brandon Ratcliff (que na época devia ter uns 6, 7 anos), ele merecia uma indicação ao Oscar.

Além da solidão e do amor, a película ainda nos apresenta o sexo. Sexualidade infantil; mas não sou capaz de explicar o quanto é inocente o modo que isso é feito. A cena do sexo oral é, no mínimo, poética. Nessa linha de pensamento, temos o menino de seis anos. Ele não sabe nada de sexo, apenas acredita que "cocô" tem haver com o ato. O que poderia escandalizar o público com insinuações de pedofilia, cativa-o. Não há sexo entre adultos e crianças, apenas provocações que deveríamos esperar de adolescentes curiosas com a sexualidade que começam a descobrir, e também um selinho (uma das três melhores cenas de todo o filme). Definitivamente, é um filme verossímil. 
A poesia está ainda em outras cenas memoráveis, a do passeio pela calçada - e pela vida; o quadro de uma ave sendo colocado num galho, os sapatos "you" e "me" (maior expressão da arte da diretora, e que lembra a cena da sacola voando ao vento em Beleza Americana) e finalmente uma sequência de cenas no início do filme que é uma das mais peculiares e belas que já assisti, que é a do peixe.

Me and You and Everyone we know é um filme que equilibra a tristeza com a alegria, de modo humano e crível, e principalmente... artístico.

#ficaadica

2 comentários:

  1. "[michael] Há muito tempo parei de tentar fazer com que as pessoas façam coisas que elas não querem fazer.
    [christine jesperson] Mas ela é o amor de sua vida. Você apenas vai deixar ela ir?"

    A impotência e toda a fragilidade das relações humanas nesse mundo pós-moderno, retratada de forma poética e igualmente verdadeira, neste dialogo que expõe o nosso medo da solidão e nossa busca por encontros [o quase-amor].

    Flávio, não quero que me alongar no comentário. Concordo com você sobre a poesia, a sensível fotografia, as atuações impecáveis de um elenco desconhecido (e realmente o pequendo Brandon Ratcliff é um das melhores crianças atuando, vivendo um drama adulto, mas sem perder a ingenuidade infantil)... Posso falar muito mais coisas... mas quero agradecer... OBRIGADO PELA DICA, CARA.

    Só acrescentaria como cena poética, a cena de abertura (do vídeo sendo gravado - e isso sim me fez lembrar "Beleza Americana" - até a mão pegando fogo), e a impagável cena do encontro no parque.

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    1. Não agradeça a dica, estou aqui para isso, meu amigo.
      E concordo com a propaganda da Master Card, ver a cena do parque não tem preço.

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