Um filme de Gus Van Sant.
Quando Van Sant lançou My Own Private Idaho, terceiro longa de sua carreira, ele já era reconhecido na cena do cinema independente norte-americano e já tinha alguma projeção internacional pelos seus outros dois filmes. Era o que faltava para que aprovassem a produção de My Own Private Idaho, filme de temáticas densas e pouco comerciais, cujo projeto era antigo. Apesar do renome, porém, este filme entrega menos do que se espera dele.
Mike (Piver Phoenix) e Scott (Keanu Reeves) são dois garotos de programa que vivem em Idaho, atendendo clientes de ambos os sexos. Mike sofre de narcolepsia e muitas vezes tem ataques de sono em horas impróprias e de tensão. Já Scott, seu melhor amigo, é o filho rebelde do prefeito da cidade, que pretende deixar a vida de prostituto assim que puder colocar as mãos no dinheiro do pai. Ambos vivem sob a tutela de um ladrão mais velho e mentiroso. Os dois saem em busca da mãe de Mike, que ele não vê a muitos anos, e durante a viagem Mike confessa estar apaixonado por Scott, que supostamente é hétero.
Van Sant fez um filme discreto. Mesmo com a temática corajosa e polêmica, a obra em si mal possui cenas homoeróticas, violentas ou inquietantes. Nesse ponto até Elefante choca muito mais. Mas o cineasta se aproveita da liberdade que o cinema independente oferece na hora de moldar o estilo visual e narrativo que usa aqui. Capas de filmes pornô conversam entre si, o tempo vai e volta, o sexo é estilizado, orgasmo é um galpão se espatifando no chão, um amigo segurando o outro que está desmaiado parece a Virgem Maria com o filho morto no colo, poesia sai da boca de mendigos, personagens contando histórias que parecem mais entrevista para um documentário. O maior mérito é a atuação de River Phoenix (irmão do Joaquin), que teve um boom em sua carreira devido ao filme e ganhou até o prêmio de atuação do Festival de Veneza - mas o ator morreu em 1993. Reeves também aparece muito bem. Apesar disso o filme carece de uma trama sólida e mais interessante. Há um certo vazio de sentido em torno de tudo aquilo. A trama lenta e desinteressante faz os noventa minutos parecerem mais.
Vagamente baseado numa peça de Shakespeare, Henrique IV, o filme às vezes adquire um tom teatral e bem-humorado que não combina com o restante da trama, que é de pura melancolia e desilusão. Van Sant filma personagens marginalizados da sociedade. Alguns que pararam ali devido às reviravoltas da vida, outros como Scott que escolheram aquele caminho para afrontar a família. Ali se mistura solidão, sofrimento, culpa, rebeldia, hedonismo. Um atrativo para quem gosta da "sujeira humana" suburbana no cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário