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sábado, 2 de maio de 2015

Aurora (Sunrise: A Song of Two Humans) - 1927; marco no cinema

Aurora (Sunrise: A Song of Two Humans), lançado em 1927.
Um filme de F. W. Murnau.
Citado por gente como Scorsese, John Ford e Truffaut como um dos filmes mais belos já realizados, Aurora, mesmo feito em tempos de grandes estúdios e cinema exclusivamente comercial, é bastante autoral. Uma das primeiras grandes produções dos estúdios Fox, o diretor, o alemão F.W. Murnau, teve uma liberdade relativamente grande na hora de conceber a obra, que fez uso de técnicas inovadoras para a época e é um dos mais lembrados do cinema mudo. A protagonista, Janet Gaynor, foi a primeira atriz a ganhar um Oscar, na primeira cerimônia do prêmio.

Uma mulher da cidade passa uma temporada de férias no campo. Lá conhece e se torna amante de um fazendeiro casado e pai de um bebê. A amante tenta convencê-lo a matar a esposa afogada para juntos fugirem para a cidade. O homem quase faz isso, mas depois, arrependido, tenta reconquistar a esposa.

Famoso na Alemanha devido a seu cinema expressionista (este movimento de vanguarda, iniciado na pintura, acabou se espalhando por todas as vertentes artísticas), Murnau foi convidado pelo dono da Fox a se mudar para os EUA e filmar em Hollywood. Disso surgiu Aurora, bastante influenciado pelo movimento.
O cinema expressionista, assim como a pintura, almeja expressar sentimentos ou visões de mundo do autor, mesmo que isso represente uma "ruptura com a realidade". A pessoalidade da obra é mais importante que uma simples representação objetiva de algo. É um estilo bem subjetivo, e que na maior parte das vezes representa uma visão de desespero ou desolação em relação ao mundo. Aqui, estes elementos surgem em forma de altos contrates na fotografia, jogos de sombra e luz, dualidades entre bem e mal, expressões exageradas de atores, maquiagem carregada e uma trama sobre tragédias, más intenções e até pessimismo em relação às mudança que ocorriam no mundo.

Numa mistura de drama, comédia, romance e suspense, o filme é um legítimo e dos mais antigos representantes do melodrama; outra consequência das influências expressionistas que queriam atingir o emocional do público. O protagonista, homem errante, ambíguo em tempos de personagens maniqueistas, depois da falta cometida por sucumbir às tentações, precisa reconquistar a mulher, adquirir seu perdão. Este triângulo amoroso é parte essencial de todo o simbolismo da obra. A amante, mulher da cidade, segura de si, ambiciosa, que se veste de colant preto e tem os cabelos curtos da moda, cheia de malícia e, por que não dizer, maldade, é a oposição da esposa, mulher campestre, submissa, ingênua, pura, de olhos infantis, metida em simples e largos vestidos brancos, de cabelos loiros longos e rosto angelical que em certo momento parodia imagens da Virgem Maria. Uma sempre aparece em cenas escuras, sombra em meio às sombras, a outra é iluminada pela luz do dia. A cidade, para onde a população do mundo, até então rural, se dirigia naqueles tempos é o mar do mal, berço do capitalismo predador e da destruição da família. Na primeira parte do filme, o pecado e a escuridão; depois a redenção que o deixa mais leve e bem iluminado.

De um ponto de vista mais técnico, este filme foi o primeiro longa a usar de uma trilha sonora gravada (antes a música, quando existia, era executada por músicos ao vivo durante a exibição) e efeitos sonoros (sons de trens, trovoadas, trânsito, sinos, complementam o filme). A novidade só não foi maior porque poucos dias antes estreava o primeiro longa falado da história, O cantor de Jazz (post em breve) e o cinema mudo começaria a definhar em breve. Além disso, o filme tem um uso interessante de sobreposições e recortes, os efeitos especias da época. São usados para ilustrar os sentimentos, sonhos e ilusões de personagens, como quando o homem se imagina sendo abraçado pela amante ou o casal caminha pela cidade com a impressão de estarem num paraíso rural.
Mas o filme ficou conhecido mesmo foi pelo seu inovador uso de movimentos de câmera, uma ruptura com o passado de câmeras estáticas. Claro que há os momentos de tripé, maioria, mas também aparecem travelings, perseguição a pegadas e nucas, closes, e até discretos planos-sequência a explorarem cenários. Uma cena lindíssima é a feita dentro do bonde, que avança filmando seu caminho.

Além de lindo e sensível, Aurora é imprescindível para entender melhor a história do cinema.

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