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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Um Lugar Qualquer (Somewhere) - 2010; reconstruindo os laços de paternidade

Um lugar qualquer (Somewhere), lançado em 2010.
Um filme de Sofia Coppola.
É difícil entender como Somewhere conseguiu ganhar o Leão de Ouro em Veneza, se a por meio de lobby, se uma tentativa de indiretamente homenagear o Coppola pai, ou porque a concorrência estava fraca mesmo. Por outro lado especula-se favorecimento por parte de Quentin Tarantino, parte do juri e ex-namorado de Sofia. Polêmicas à parte - apesar do filme não ser uma obra prima que merecesse um prêmio tão importante -, o quarto longa da filha Coppola encanta pela sua sinceridade, ainda que seja quase impossível não compará-lo e notar semelhanças com o seu doce (e melhor) Encontros e Desencontros.

Johnny Marco (Stephen Dorff) é um ator de filmes de ação no auge de sua fama. Ele tem a vida que todos invejam: dinheiro, fãs, carros caros e mulheres. Mas ele não está bem, passa por uma espécie de crise existencial e não está muito confortável com sua situação. A filha aparece para morar alguns dias com ele, tendo um papel importante em sua mudança emocional.

 Aqui Sofia estuda como a vida é construída de aparências. A exemplo do personagem de Bill Murray em Encontros e Desencontros, Johnny Marco sente-se deslocado no meio em que está inserido. Ele tenta se adequar, mas ele sente um grande vazio, mesmo que o mundo pense que a vida de um astro é glamourosa e interessante. Mas numa tomada uma colega de trabalho com quem está posando aos sorrisos, mostra como o meio artístico pode ser cínico.
Ele vive entediado, desencantado, e já no início há uma cena em que isso fica claro: duas dançarinas contratadas de pole dancing fazem um show particular. Ele nem sorri. Na cena maçante do molde do rosto, ele se sente impotente e sufocado. O contato com a filha, de quem sempre foi distante, acaba despertando um olhar um pouco mais otimista em relação ao mundo.

O cinema minimalista, com tomadas longas, silenciosas e monótonas da diretora está aqui. Não é uma obra para todos os públicos, muitos a classificariam simplesmente como "chata". Mas isso é menosprezar Coppola e ignorar o que ela nos oferece. Ela é uma diretora apaixonada pelo ser humano. Aqui ela divide essa paixão com o público, nos convidando a contemplar a vida de dois deles. Como uma cronista ela capta momentos da rotina de seus personagens. Pouco acontece nada na trama em si, mas os personagens estão sofrendo mutações a todo instante. Não há muito diálogo, mas basta observarmos os atores, seus gestos e expressões, para compreendermos o turbilhão de sentimentos neles. A diretora trabalha nisso dando closes nos atores, fechando os planos neles, filmando-os de ângulos sutis e naturais. Observar de perto um homem fumando pode ser muito revelador. E um pai reconfortar a filha melancólica ou brincar com ela na piscina, mágico.
Nesse ponto Stephen Dorff e a doce Elle Fanning são importantes. Além de dosarem muito bem suas atuações, tornando seus personagens completamente críveis, a química entre eles é ótima. E a trilha sonora é boa e bem dosada.

O difícil é não nos perguntarmos se este filme não é muito pessoal, se Coppola pai, em sua fama, não se distanciou da filha e deixou que ela crescesse sozinha. Se for o caso, a película revela que houve perdão.

#ficaadica

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