Um filme de Angès Varda.
Há muito tempo que estava na expectativa de ver este filme. Desde que vi o excelente documentário Janela da Alma, onde Agnès Varda dá entrevista falando sobre o cinema, o poder da visão e sensibilidade, e explica o porquê de ter feito este filme aqui na época que fez, nos últimos dias de vida de seu marido.
Mas deu muito trabalho o encontrar, ainda mais com legenda em português. E não à toa, Jacquot nunca foi lançado comercialmente no Brasil nem em Portugal, tanto que não há título lusófono para a obra. Com muito esforço consegui. E infelizmente fui com muita sede ao pote. Jacquot de Nantes tem sua beleza, mas é bem menos do que aparentava ser.
O filme narra a infância do cineasta Jacques Demy, que foi casado com Varda por trinta anos, até ele morrer de AIDS em 1990. O pequeno Jacquot desde muito cedo tinha enorme interesse pelas artes, e ainda criança começou a fazer pequenos filmes de animação em stop-motion. Esse conto de descoberta de vocação é intercalado com filmagens de Demy feitas por Varda meses antes de sua morte.
O trecho que eu vira em Janela da Alma que tanto me despertou interesse foi uma sequência onde a câmera de Varda passeia vagarosamente pela pele de seu esposo algum tempo antes de sua morte. Em macro é possível ver os poros, as manchas, os pelos. A textura de Demy, como a própria cineasta falou na entrevista para o documentário. E também segundo ela própria, fez isso com um olhar carregado de um sentimento forte de amor e de medo de perder o marido, como de fato aconteceu seis meses depois de terminar as filmagens de Jacquot.
O roteiro foi escrito por ela e por Demy, que colocou suas memórias no texto. A maior parte do filme é em preto e branco, mas há diversas cenas coloridas. Para fortalecer a mensagem da importância das artes na vida do menina, as cores sempre aparecem em momentos onde há cantores, atores, bonecos ou animação. Era a arte que coloria o mundo do garoto, que vivia na França da Segunda Guerra.
O filme é sobre um menino que desde cedo sabia o que queria, e teve a sorte de conseguir chegar onde queria. Porém não é dos mais interessantes nem bonitos. Agnès, a mais importante mulher da Nouvelle Vague, tem filmes muito melhores.
No fim o maior êxito de Jacquot é o amor que a diretora colocou nele, ela que tanto amou o protagonista. Tirássemos esse sentimento tão bonito, muito pouco sobraria do filme.
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