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sábado, 19 de abril de 2014

Má educação (La mala educación) - 2004; a auto-reflexão de Almodóvar

Má educação (La mala educación), lançado em 2004.
Um filme de Pedro Almodóvar.
Mais uma obra incrível que reafirma a genialidade de Almodóvar. Só que La mala educación traz algumas surpresas, algumas características que o diferenciam um pouco de outros trabalhos do diretor. É um filme masculino, e mais adulto que os outros. Desta vez quase não há mulheres na trama, e sempre que aparecem é em papéis pequenos; aquele doce humor que se mistura ao drama praticamente não tem espaço aqui, e o diretor dessa vez brinca com o tempo cronológico, corta e emenda tramas, usa metalinguagem e cria um pequeno thriller.

Nos anos 60, Ignácio e Enrique estudam num colégio religioso, onde começam a descobrir juntos o amor e a sexualidade. Entre eles há um dos padres, que nutre uma paixão por Ignácio. Eventualmente todos os três se separam e passam anos sem se reencontrarem, até que tornam a entrar em contato uns com os outros, numa trama cheia de intrigas, mentiras, chantagens e jogos de interesses.

Almodóvar chegou a declarar que este é um de seus filmes mais pessoais, embora não seja uma autobiografia de sua infância como especulou-se. Independente disso, o resultado é incrível. Talvez haja mais uma reflexão sobre sua vida pessoal e carreira.  
Já é uma marca registrada do cineasta textos com enredos pouco prováveis e personagens profundos, bem desenvolvidos. Aqui não é diferente, Almodóvar cria um charme incrível com um material que nas mãos de outro se tornaria um trash de gosto muito duvidoso. Só mesmo ele para transformar Gael García Bernal num travesti usurpador sem parecer estupidez ou apelação (aliás, o ator mostra ser muito corajoso e competente com esse trabalho).
E desta vez a trama é fragmentada, não linear, psicológica. Não se sabe o que é verdade e o que é fantasia, e a dúvida, junto ao resto dos desdobramentos, cria um suspense delicioso. Aliás, nessa obra ele faz bela homenagem aos filmes noir da década de 40 e 50 (mas aqui o que há é um homme fatale), entre outras referências à clássicos.
Difícil definir a temática dessa película, que parece sobretudo debater sobre a sexualidade e a homossexualidade.
La mala educación é também uma clara crítica à Igreja Católica, apontando os casos de pedofilia dentro da instituição e a má educação que as crianças recebem dela. Mas isso também é feito de uma forma um tanto despretensiosa e elegante, preferindo mostrar como isso reflete na vida adulta das crianças envolvidas a ser um filme-denúncia barato.

A estética que o fez famoso também está aqui. Os cenários e figurinos continuam coloridos, rendendo uma fotografia muito bela. Toda a sensualidade que o diretor é capaz de criar também está presente. Em seus outros filmes ele sempre filmou com paixão ardente as curvas de suas mulheres. Dessa vez não houve pudor em mostrar a beleza e as curvas do corpo masculino. Isso atinge seu ápice na cena do mergulho, com o ator mexicano voando para dentro da água, em câmera lenta. A câmera lenta reaparece eventualmente em outras belas construções, como o da batina de um padre goleiro tremulando ao vento durante um salto para apanhar a bola. Momentos incríveis do cinema do diretor.

Almodóvar tem uma paixão muito grande pelo cinema, que sempre se revela ao longo de seus filmes, uma paixão que vale a pena acompanhar e que ele declara pouco antes dos créditos finais.


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