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segunda-feira, 14 de abril de 2014

As bicicletas de Belleville (Les triplettes de Belleville) - 2003; animação madura que surpreende pelo visual

As bicicletas de Belleville (Les triplettes de Belleville), lançado em 2003.
Um filme de Sylvain Chomet.
Em sua estreia atrás de um longa, Sylvain Chomet cria uma obra-prima poderosa e singular. Com traços que fogem ao convencional (mesmo assim belíssimos) e esbarram com o absurdo, Les triplettes de Belleville criam um mundo único. Silencioso e com traços de realismo (com becos miseráveis, sujos, habitados por prostitutas fumantes) é um filme voltado para o público adulto, que emociona com sua delicadeza e faz rir com seu humor negro.

Numa parte pobre de alguma cidade francesa, vivem uma velha portuguesa e o neto (ou seria o filho adotivo?). O garoto vive deprimido, mesmo com todo o amor que a mulher dá. Ela tenta alegrá-lo dando um cão, e mais tarde uma bicicleta. O garoto continua infeliz e cresce assim, mas faz do ciclismo sua profissão. Sob os treinos da avó, ele participa do Tour de France. Mas durante a competição ele é sequestrado e levado para Belleville. A avó e o cão vão atrás para salvá-lo.

A primeira impressão que esta obra causa é estranhamento. Seus traços estéticos são bastante incomuns, uma espécie "light" de expressionismo, onde as cores predominantes são de tons quentes. Tudo beira o absurdo, as diferenças de estatura das pessoas; suas aparências; seus físicos que variam do magérrimo à obesidade; seus narizes enormes. As cidades também são um caos de prédios, cores e sujeira. Mas basta um pouco de mente aberta para perceber o quão precioso é esse mundo que Chomet nos oferece, o quão belos são seus traços. Estranhamento que acompanha algumas ações da película, que conta com cenas bem peculiares (inclusive uma chuva de sapos à Magnólia). Há até algumas cenas que podem ser consideradas bem violentas. Se formos considerar que estas ações estão numa animação, o estranhamento aumenta.

Mas não é só a parte estética que é incomum. O filme é quase mudo. Há trilha sonora (ótima) e uma ou outra fala curta. Entendemos as emoções que os personagens estão sentido com base em seus gestos, olhares, expressões faciais e suspiros. A dinâmica, a trama, também é compreendida com as ações.

E para melhorar ainda mais, a obra é uma verdadeira crítica social. Belleville (muito claramente inspirada em Nova York) é uma metrópole, cheia de pessoas - gordas - vivendo em seu próprio mundo individualista, cheia de diferenças sociais, de atrações e becos sujos de periferia, ocupados de lixo e da "ralé" que as "zonas nobres" da cidade não aceitam. Mas Chomet vai além dessa pequena crítica e volta seus olhos para a terceira idade. Aqui os velhos não são problema da Previdência, mas seres cheios de sabedoria e experiência, capazes de criar arte e batalhar por objetivos.
Não deixe de conferir essa incrível pérola francesa.
#ficaadica

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