Um filme de John Wells.
Este é um daqueles dramas familiares arrebatadores. Assim como Deus da Carnificina, é uma adaptação de uma peça, e em ambos os casos verdades ácidas acabam formando um humor negro capaz de provocar alguns bons risos. Mas se a obra de Polanski mostra o conflito numa situação mais fechada, este aqui se aprofunda muito mais nos personagens e possui uma carga dramática muito mais pesada (aqui o riso surge muitas vezes como um desconforto). E embora Carnage não seja simplesmente teatro filmado, Osage County é mais cinematográfico. Com ele Meryl Streep recebeu a sua 18ª indicação ao Oscar.
Beverly Weston (Sam Shepard) é um velho poeta alcoólatra que se suicida, deixando para trás a esposa Violet (Streep), que é viciada em remédios e tem câncer de boca. Estes acontecimentos levam boa parte da família para casa, incluíndo as três filhas Barbara (Julia Roberts), Karen (Juliette Lewis) e Ivy (Julianne Nicholson) e a irmã Mattie Fae (Margo Martindale). Mas há segredos e mágoas que levam essas pessoas a se atacarem, cheias de rancor e culpa.
O roteiro foi adaptado pela própria escritora a peça homônima, Tracy Letts. E deu certo. John Wells não deixa seu filme virar teatro, ele extrai atuações quase sempre naturais do elenco fantástico (há momentos exagerados e monólogos desnecessários, reconheço), filma belos planos externos (e as cenas acontecem em diversos cenários diferentes), dá closes e faz cortes inteligentes. Por outro lado não acrescenta nada de muito autoral e desliza as vezes na questão da verossimilhança.
Mas o maior acerto do filme é mesmo o texto e as atuações. Embora seja um pouco duvidoso que uma família tenha sempre uma inteligente fala afiada para ferir uns aos outros (duvidoso as falas serem tão inteligentes, não afiadas), é impossível não se deixar levar por elas. Diálogos dinâmicos são um ajuste de contas que essa gente - ressentida por problemas próprios e pelos problemas que acompanharam a família ao longo dos anos - faz quando se reúne numa situação difícil. O calor da região é insuportável, a paisagem é seca e triste. O fogo cruzado esquenta ainda mais as coisas.
Streep é quase sádica, fere a todos sem pensar com suas acusações, ironias e revelações, ele dá voz a uma verdade que foi calada ou que é encoberta para preservar a paz. Julia Roberts (belíssima, sem muita maquiagem), é a filha durona que tenta colocar as coisas em ordem, mas sua relação com a mãe é péssima e está com problemas no casamento e na educação da filha. Ela também recebeu uma indicação ao Oscar, de coadjuvante. Outros atores brilham, inclusive as rápidas cenas em que o bobo personagem de Benedict Cumberbatch aparece em cena.
A trilha sonora é de Gustavo Santaolalla (O Segredo de Brokeback Mountain), e realça a solidão e a amargura dessa gente. No final o filme pode ser esquecível, se considerarmos ele apenas como filme; mas falando de dramas da casa que se desfaz, é sim memorável.
#ficaadica
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