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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sem teto nem lei (Sans toit ni loi) - 1985; o que é a liberdade?

Sem teto nem lei (Sans toit ni loi), lançado em 1985.
Um filme de Agnès Varda.
Embora tenha uma obra vasta, com ficção e documentários, curtas e longas, o trabalho da cineasta belga Agnès Varda não é muito conhecido no Brasil. Fui saber da existência dessa mulher assistindo ao documentário brasileiro Janela da alma. Numa entrevista ela contou detalhes de sua percepção visual do mundo que a rodeia, bem como sobre a criação de dois de seus filmes. De longe uma das melhores partes do documentário, prometi a mim mesmo que iria ver pelo menos um filme dela. Não pretendo parar no primeiro.

Uma mulher é encontrada morta em uma vala, sem sinais de violência. Nada mais que uma notícia, uma morte natural. Mas iremos voltar no tempo para conhecer quem era essa mulher e o que andou fazendo em seus últimos dias de vida. Então descobrimos que Mona é uma andarilha que vive de caronas, doações, pequenos trabalhos e furtos.

Uma das fundadoras da chamada Nouvelle Vague (estilo de cinema francês dos anos 60 que propunha um cinema mais autoral - feito pelo diretor - e caracterizado pela juventude de seus cineastas, pelos padrões diferentes dos padrões comerciais e suas temáticas "rebeldes"), Agnès Varda, em Sans toit ni loi, resgata um pouco desse seu passado e cria um filme rebelde sobre uma mulher rebelde. Muito além de simples feminismo, Varda levanta uma profunda reflexão sobre a solidão e a liberdade, trazendo uma personagem não convencional fugindo de si mesma. Também inova trazendo uma narrativa não linear e uma trama fragmentada e subjetiva. O passado da anônima morta é desvendado por meio dos testemunhos de quem a conheceu, cada um deles acrescentando ao relato suas impressões e sentimentos que por vezes se contradizem. A câmera ágil de Varda parece ter vida própria, um trabalho cinematográfico irrepreensível.

Mona não é a mulher mais simpática que você já viu num filme, pelo contrário. Mas ela possui um magnetismo que não permite que você desvie o olhar dela. O que Sandrine Bonnaire faz com seu papel é uma verdadeira encarnação, absolutamente nada do que ela faz ou diz soa falso. Tudo que ela faz parece apontar em direção a sua morte, se alimentando e se higienizando precariamente, passando frio, se entupindo de álcool e fumando um cigarro atrás do outro. Ela não se ajusta ao meio nem tenta agradar ninguém; Mona é a personificação de uma liberdade nociva, na qual a falta de identidade e objetivos, aliada ao medo de se deixar envolver com outras pessoas, conduz a ela a um estado de auto-destruição. Sozinha ela mergulha num estado de decadência humana sem muitos paralelos no cinema. Mas esse desencanto reafirma a pergunta que Mona não se faz: o que é a liberdade?

Sans toit ni loi é um filme amargo e poderoso de Varda, talvez um de seus mais reconhecidos, tendo inclusive sido premiado com o Leão de Ouro em Veneza. Cheio do estilo e da sensibilidade da diretora e sustentado principalmente pela atuação impecável de Bonnaire, ele é uma ótima porta de entrada para o mundo da cineasta.
#ficaadica

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