Meninos não choram (Boys Don't Cry) - 1999; a intolerância à homossexualidade

Meninos não choram (Boys Don't Cry), lançado em 1999.
Um filme de Kimberly Peirce.

O título pode enganar. Ouvindo isso assim, "Meninos não choram", o que se vêem à mente é algum filme da Sessão da Tarde, destinado a pre-adolescentes. Mas não. É amargo, violento, sexualizado, desnudo e cheio de palavrões demais para isso (e bom demais, a Globo prioriza sempre filmes ruins). Por este incrível trabalho, Hilary Swank venceu seu primeiro Oscar (o segundo veio em 2005, com Menina de Ouro), e não merecia menos; ela faz mais do que raspar a cabeça, colocar uma meia na calça e fingir ser um homem, ela encarna a personagem que por sua vez encarna o papel de homem. E para nos surpreender ainda mais, a história é verídica. Que temos aqui é uma cinebiografia.

Brandon Teena é uma garota que se identifica como homem. Após passar sua adolescência sendo forçada pela mãe a se vestir e se comportar como garota, ela corta o cabelo, veste roupas masculinas e passa a viver como homem, adotando o nome de Brandon, apenas. Por ser ameaçada de morte, ela vai para uma cidade vizinha, onde conhece dois ex-presidiários, John e Tom, com problemas de personalidade, a ex-namorada de um deles, Lana (Chloë Sevigny), com quem vem a ter um caso amoroso, a mãe de Lana e Candace, uma amiga. Brandon falsifica cheques e é repreendido por dirigir em alta velocidade. Pelo jornal John e Tom desconfiam de sua identidade falsa enquanto ele é preso pelas falsificações. Brandon mente para Lana que nasceu hermafrodita, e Lana diz que não se importa e paga a fiança. Enciumado John revela a verdade a várias pessoas e obriga Lana a ver Brandon nu, forçadamente despido. Depois os dois o levam a um local afastado e o estupram. Mesmo sendo denunciados a polícia se recusa a tomar alguma providência. Mais tarde ele e Candace são mortos a tiros.

Meninos não choram aborda o tema da homossexualidade de um modo muito interessante, pois em nenhum momento levanta bandeiras ou dissemina esterótipos; talvez seja ele quem abriu as portas para o mercado com temas ligados à homossexualidade abordada de um modo natural, possibilitando a estréia de O segredo de Brokeback Mountain seis anos depois. As semelhanças com Monster - Desejo Assassino, onde novamente temos um relacionamento entre lésbicas que acabou em tragédia, também são notórias. O filme aborda ainda temas como liberdade, auto-aceitação, coragem, identidade própria, drogas, conflito familiar; e a intolerância e machismo de toda uma sociedade. Muito bom.

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