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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Whisky (idem) - 2004; sorrisos amarelos

Whisky (Whisky), lançado em 2004.
Um filme de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll.
Este drama com ares de comédia vindo do Uruguai tem recebido críticas positivas desde sua estreia. Na época chegou a ser premiado em alguns festivais ao redor do globo. Mais recentemente, numa pesquisa de 2013 com pessoas envolvidas em festivais de cinema latino-americanos realizada pelo Festival de Valdivia, no Chile, Whiskychegou a ser apontado como o melhor filme latino-americano dos últimos vinte anos. Superestimado, é certo, mas ainda sim um filme sensível.

No Uruguai Jacobo é um judeu dono de uma velha e pequena fábrica de meias. Solitário, vive para trabalhar, sem no entanto possuir ambições de expandir o negócio ou enriquecer. Uma das funcionárias é Marta, igualmente solitária e sem perspectivas. Quando o irmão dele, Herman, sai do Brasil onde vive há anos para presenciar uma espécie de celebração post mortem judaica de sua mãe, Jacobo contrata Marta para fingir ser sua esposa diante do irmão.

Whisky(nome originário de um costume uruguaio de dizer "whisky" na hora da fotografia, de modo a forçar um sorriso; semelhante ao "Xis" brasileiro) é um filme sobre aparências, solidão e vidas vazias.

Não é difícil perceber que os dois irmãos são praticamente estranhos entre si. Após anos sem se verem se cumprimentam com um aperto de mão seco, trocam presentes por obrigação e seguem calados. Aparentemente há entre eles alguma mágoa, remoída sobretudo por Jacobo; talvez pela ausência do irmão nos difíceis últimos dias de vida da mãe, talvez inveja por ele ser mais bem sucedido, talvez por ele ter excluído totalmente o Uruguai de sua vida ou talvez tudo isso. O certo é que ele quer parecer estar melhor do que realmente está diante do irmão. Nisso entra Marta na história, a fingir ser sua esposa. Inventam uma lua de mel, tiram uma fotografia juntos e dormem no mesmo quarto. Ela por sua vez é uma mulher tão solitária e sem perspectivas quanto o patrão, mas parece sentir algo por ele. Ela aceita participar da farsa com uma expressão de melancolia, resignação e alguma esperança. Ele talvez também guarde algum afeto incomunicado. É um filme de poucas palavras mesmo, conduzido muito mais pelas expressões faciais sutis do trio de atores principais. Quanto a Herman é o mais alegre e jovial dos três, embora pareça às vezes que assim como o irmão está a fingir e que na verdade é menos feliz do que tenta parecer. Pelo sim, pelo não, é um homem mais falastrão e mais bem encaminhado que o irmão. Diferente do resto do mundo ele olha para Marta e ouve o que ela diz, o que mexe com o coração amargurado dela e parece causar ciúmes no irmão. Procura também, de alguma forma, se redimir com o irmão por sua ausência.

Stoll e Rebella filmam com uma câmera completamente estática e fotografia cálida. Filmam a rotina monótona para então quebrá-la e mudá-la permanentemente. O que realmente aconteceu ou acontecerá com os personagens nem sempre é contado ao público, mas sabemos que a vida desse trio há de mudar. A nós, o público, o que sobra é a certeza maior que nunca de que a solidão atormenta a alma.

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