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quinta-feira, 9 de abril de 2015

Bye Bye Brasil - 1980; modernização brasileira

Bye Bye Brasil (Bye Bye Brasil), lançado em 1980.
Um filme de Carlos Diegues.
Não escondo que o quê me levou a assistir este filme foi a canção-tema homônima do Chico Buarque, que considero uma das mais geniais da carreira deste homem. E ela aparece aqui sob diversos arranjos - todos diferentes da que aparece no disco Vida - boa parte instrumental, a voz de Chico entoa só durante os créditos iniciais (numa inesperada falta de ordem) e finais, também em versões distintas. A parte boa é que é um grande filme independente da trilha sonora. 


Estamos num vilarejo nordestino onde uma caravana de artistas, a Caravana Rollidai, realiza uma apresentação. Os artistas que a compõe são o mágico e proprietário Lorde Cigano (José Wilker), a dançarina, prostituta e amante dele, Salomé (Betty Faria), e o fortão mudo Andorinha. A eles se junta Ciço (Fábio Júnior), um sanfoneiro sonhador que se apaixona por Salomé, e sua esposa Dasdô, em avançada gravidez. Juntos eles percorrem o nordeste o norte do país em plena transformação econômica, social e cultural, na forma de um quadrado amoroso.

Bye Bye Brasil é um retrato do sertão nordestino do final dos anos 70 e da popularização massiva da televisão no país. Numa cena icônica um punhado de pessoas pobres assiste a uma telenovela numa televisão pública, todos vidrados. Há ali uma ruptura dos métodos tradicionais de cultura e entretenimento, que dão lugar à televisão. Pessoas que antes se divertiam com bailes, repentes e apresentações teatrais, passam a consumir o produto televisivo. A cultura regional e certas tradições dão lugar à imagem de moldes americanos e estilo de vida carioca. Até o cinema, que naquela região tardou a chegar e era novo para aquela gente, foi logo esquecido com a chegada da televisão. Era a chegada da modernidade, do capitalismo moderno. O título remete a essa mudança, um adeus ao país rural e arcaico.

A sobrevivência da Rollidai depende da ausência da televisão, quanto mais isolado um vilarejo, sem sinal de antenas de TV, maiores as chances de conseguir algum dinheiro. Por isso fogem para cada vez mais para o interior, chegando enfim em Altamira, que para eles é uma espécie de terra prometida. No caminho os efeitos, positivos e negativos, da implantação da Transamazônica. A ocupação da região amazônica era amplamente incentivada pelo governo militar da época. E a mineração atraía milhares de nordestinos para o Pará, assim como de todo o sertão emigravam famílias para o sudeste e centro-oeste.
A terra prometida, porém, também já está mudada. Não só já há televisão como problemas de urbanização desenfreada e desigualdade afligem a população. A floresta dá lugar a grandes pastos, indígenas são expulsos e vivem à custa de mendicância ou semi-escravidão.

Esse Brasil feio, pobre, castigado pela seca ou pelo capitalismo desenfreado, é lar de um punhado de pessoas desenganadas, mas que se agarram à esperança de um futuro melhor. Tempos que eram de esperança também para a população urbana, incluindo o cineasta: era o início da reabertura política, a recém implantada lei da anistia permitia que exilados voltassem e a censura diminuía. Diegues celebra com a nudez de suas atrizes, a nudez que é dos maiores símbolos de liberdade existentes.

Fábio Júnior que é um péssimo cantor consegue ser ainda pior como ator, inexpressivo, com cara de mosca morta. Sua presença no elenco protagonista é o maior defeito da obra. Felizmente isso é balanceado com o brilho de José Wilker, talvez o maior papel de sua carreira, e de Betty Faria, que também brilha no papel de uma mulher amargurada, desiludida e forte.

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