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quarta-feira, 18 de março de 2015

Se... (if....) - 1968; como se moldam as tragédias

Se... (if....), lançado em 1968.
Um filme de Lindsay Anderson.
Um dos mais famosos filmes britânicos dos anos 60, if...., vencedor da Palma de Ouro, filmado por um dos precursores da Britich New Wave, Lindsay Anderson, traz Malcolm McDowell, em seu primeiro papel no cinema, na pele de um revolucionário.

Numa escola pública (porém paga e só frequentada pelas classes altas) interna e masculina da Grã-Bretanha, há inúmeras regras tolas, professores e tutores abusivos. Violência e intimidação entre os alunos também é frequente Mas um trio do penúltimo ano, liderado por Mick Travis (McDowell), rapaz de ideais revolucionários violentos, planeja um ataque.

if.... chocou a Grã-Bretanha imediatamente. Além de classificado para maiores de 18 anos, o filme foi alvo de críticas de diversos políticos que o consideraram uma afronta ao país. E de fato o filme de Anderson - um crítico de cinema que começou a filmar e acabou sendo um dos fundadores da New Wave daquele país, um dos ecos da Nouvelle Vague francesa - critica sobretudo os valores morais e tradicionalistas do Reino Unido. Uma terra que até hoje é lembrada quando se fala em regras sociais e de etiqueta absurdamente exageradas e estúpidas.

Filmado no contexto do pós Maio de 68 e da explosão da contra-cultura que influenciou profundamente todas as vertentes artísticas, do cinema ao grafíti, passando pelo teatro, artes plásticas e música popular, Se... ataca o conservadorismo da época e o modo que a Academia passava conhecimento mastigado e perpetuava tradições em vez de ser um ambiente de debate, inovação e trocas de ideias. Como um ambiente profundamente repressor e impessoal pode abalar a personalidade de uma pessoa. Se... já profetizava massacres como o de Columbine, ocorrido em 1999 e que inspirou o também ganhador da Palma, Elefante.

O filme é dividido em oito "capítulos". Num deles, "Discipline", uma das cenas mais fortes e tensas da obra marca presença. Numa cena longa e praticamente sem cortes, vamos os três protagonistas serem castigados com chicotadas pelos coordenadores (alunos formados responsáveis pelos estudantes), devidamente planejadas de forma que os outros alunos ouvissem os golpes, de modo a intimidá-los também. Praticamente todos os professores e funcionários do internato são hipócritas, incompetentes, tratam os alunos com descaso e há até relações pedófilas que sequer são acobertadas. Alunos mais velhos ou fortes praticam bullying contra os mais suscetíveis.
É nesse ambiente pouco saudável - porém tradicionalista e bem-visto pelos pais dos alunos e do resto da sociedade - que os alunos são moldados como seres humanos e cidadãos. Naturalmente eles procuram os meios possíveis para afirmar sua individualidade enquanto crescem, recorrendo à rebeldia, às bebedeiras e ao despertar sexual, tão evidente na cena surrealista em que Travis luta nu contra a garçonete, quando o trio vê revistas pornográficas ou na figura de Phillips, garoto de aparência mais ou menos andrógina que é tanto alvo quanto fonte de desejos e que vai se juntar ao grupo terrorista.

A obra conta com sequências em preto-e-branco, que muitas das vezes, mas não todas, são em cenas absurdas, surrealistas. A lenda é que o dinheiro acabou e cenas faltantes tiveram que ser filmadas sem cor. Independente de cor, Anderson faz sempre planos longos com uma câmera na mão, porém estática, quase sem as tremulações típicas. Impossível também não fazer um comentário positivo sobre o desempenho de McDowell. Sempre confrontando as regras com uma expressão irônica, ele chega ao final com um olhar carregado de ódio. Pouco depois ele seria realmente imortalizado na pele do ainda mais perturbado Alex, no Laranja Mecânica de Kubrick.

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