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sexta-feira, 27 de março de 2015

Como era verde o meu vale (How Green Was My Valley) - 1941; decepcionante

Como era verde o meu vale (How Green Was My Valley), lançado em 1941.
Um filme de John Ford.
Um dos mais conhecidos de John Ford, Como era verde o meu vale;é baseado no best-seller homônimo de Richard Llewellyn. Conta, pelos olhos e narração de uma criança, a fragmentação de uma família de mineiros numa vila galesa do início do século XX. Lembrado sobretudo por tirar o Oscar de melhor filme de Cidadão Kane - melhor e mais inovador - o filme tem suas qualidades e poesias, mas apesar de ser um clássico também deixa muito a desejar.


Huw, um garoto, vive com os pais e cinco irmãos numa vila no País de Gales, onde a economia é baseada numa mineradora. Quando numa vila vizinha uma metalúrgica quebra, os empregados demitidos se oferecem para trabalhar na mina, o que leva a uma redução de salário para os mineiros e demissões em massa. Diante da crise os mineiros armam uma greve. Uma irmã de Huw se apaixona por um padre mas casa com o filho da mina. Huw e sua mãe sofre um acidente que os deixam de cama por meses e Huw ainda tem uma paixão platônica infantil pela cunhada.


Assim como Vinhas da Ira, também de John Ford e lançado apenas um ano antes, Como era verde meu vale é sobre uma família em tempos de crise. Se, porém, no primeiro temos altas doses de realismo, um drama amargo sobre a miséria humana e a desigualdade, em How Green...;parece haver um certo otimismo quanto ao futuro, um sentimento de nostalgia em relação a zonas rurais do passado, infância romantizada e um punhado de cenas e falas cômicas que não deveriam estar lá (tem até uma vendedora de doces que mais parece uma bruxa de filmes infantis). Mas ambos possuem suas "mãezonas", filhos com tendências socialistas e todo um retrato de um período e de uma sociedade.

Numa vila britânica com estilo de vida rural da primeira metade do século XX é natural que fofocas, pré-julgamentos, rejeição doentia contra o socialismo, e escandalização social diante de uma possibilidade de divórcio sejam observados. E, de fato, Ford procura mostrar esses pormenores da vida de seus personagens. Há de se observar também o sentimento de solidariedade que existe em pequenas comunidades como um todo. Mesmo que filmes como Dogville estejam aí para denunciar que nem tudo é altruísmo, ninguém pode negar que nesse tipo de lugar há um certo sistema de cooperação, ainda que frágil. E isso também é mostrado aqui. A fragilidade dessas boas relações. Na fartura, companheirismo, paz e tolerância. Em tempos de crise é cada um por si. Sobram, quando muito, as famílias.

Ainda assim há fragmentações. Ainda mais nesta família de estrutura patriarcal. Acaba havendo espaço para o conflito entre pais e filhos. Sonhos e ideologias mudam com as gerações. Isso a música, o cinema e a literatura já cansaram de nos ensinar. Aqui tudo materializado numa fotografia viva e agradável, com alguns raros travelings e enquadramentos amplos.

Porém o filme falha em vários aspectos. Sem mencionar o overacting típico da época, que aqui parece soar ainda menos crível, sobram personagens muitas vezes estereotipados, que não cativam em momento algum (é fácil ficar indiferente às desgraças e alegrias que acontecem a eles) e ações igualmente falsas. Hum é chato, desinteressante. Há algo de ruim com o cenário também. Claramente montado em estúdio, na fotografia ele parece irreal. Ver a vila com perspectiva não é gratificante. E o horizonte e o céu, qualquer um percebe serem painéis.

Com certeza John Ford tem filmes melhores.

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