Um filme de John Cassavetes.





Mabel não é pura e simplesmente louca, ela também é afetada por todo o ambiente no qual está inserida. Além da predisposição patológica, ela é afetada pelas pessoas que não acreditam na sua capacidade de ser mãe, pelas constantes visitas dos colegas do marido, que não são da família nem lhe são íntimos mas que acabam por saber muitos dos assuntos internos de sua família, pelos parentes que aparecem em hora imprópria apenas para observar, pela pouca atenção que recebe do esposo que ela tanto ama. Gena Rowlands é intensa. Mabel é imprevisível, paranoica, bipolar; oscila entre o total desequilíbrio e um grande afeto e atenção com o marido e com os filhos; e Rownlads, que era esposa de Cassavetes, caminha bem entre esses extremos, cheia de exageros sentimentais e tiques nervosos, risos, choro e gritos. E o diretor com planos-sequências e câmera na mão explora ainda mais a intensidade da personagem. Já Nick, vivido por Peter Falk, é o típico pai de família dos anos 70: viril, dominador e ciumento. Entre gritos e safanões ele tenta acalmar a mulher, lhe dar algum juízo, receber atenção dos filhos. Quando eventualmente precisa cuidar das crianças sozinho, mostra-se tão ou mais disfuncional e mal-sucedido que a esposa.
Aqui os personagens moldam a história, não o contrário. O realismo é tanto que chega a parecer improvisação por parte do elenco, embora também o texto seja de Cassavetes. Uma família não é nada mais que um punhado de loucos com laços sanguíneos (ou não). Essa do filme apenas é pior em mascarar a loucura aos olhos dos outros.
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