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domingo, 4 de janeiro de 2015

Hoje eu quero voltar sozinho - 2014; mal interpretado e superestimado

Hoje eu quero voltar sozinho (Hoje eu quero voltar sozinho), lançado em 2014.
Um filme de Daniel Ribeiro.
Escolhido para representar o Brasil no Oscar 2015 - não foi pré-selecionado, Hoje eu quero voltar sozinho faz referência ao curta-metragem Eu não quero voltar sozinho, lançado quatro anos antes. Daniel Ribeiro, diretor por trás dos dois filmes, usando o mesmo elenco base, aqui reconta, com algumas modificações, a trama do premiado curta: um adolescente cego que se apaixona por um novo colega da escola.

Leonardo, deficiente visual, estuda numa escola comum, onde acompanha as aulas munido de uma máquina de escrever em braile. Sua melhor amiga, Giovanna, nutre por ele uma dessas paixões adolescentes, não correspondida. A chegada de um novo rapaz na sua turma, Gabriel, que se torna amigo dele e de Giovanna, acaba por fazê-lo sentir sentimentos inéditos, enquanto em casa ele enfrenta seus pais em busca de mais indepedência e sonha com um intercâmbio.

O mal que caiu sobre este filme (premiado e bem recebido em diversos festivais no país e no exterior) foi ter sido rotulado como um "romance homossexual" - assim tem conquistado a curiosidade do público - quando na verdade de romance há muito pouco; é sobretudo um drama, ainda que voltado para adolescentes e, por isso, leve e meio superficial. O filme de Daniel Ribeiro tem uma premissa muito mais próxima do ótimo Educação: também é um conto de amadurecimento e um estudo de afetos. Aliás isso é muito bem resumido no título; mais que qualquer outra coisa o protagonista quer é independência e autonomia para seguir sua vida, mesmo que em parte limitada pela sua deficiência.

Assim como o curta que lhe deu origem, o filme tem um tom leve, gracioso, igênuo. É inegável que é mais voltado para o público adolescente, podendo soar insoso para um público mais maduro. Há uma certa ausência de conflitos, falta intensidade.
A maior qualidade do curta, porém, se repete aqui: Ribeiro humaniza seu protagonista. Se por um lado o bullying que Leonardo sofre por ser cego e depois por aparentemente ser gay parece brincadeira de bebês se comparado a todas as desgraças que incontáveis crianças e adolescentes reais sofrem no dia a dia, por exemplo, ao menos isso contribui para não vitimizar em excesso o garoto nem levantar bandeiras ativistas. Esse é o maior mérito pois faz de Leonardo um simples adolescente, em vez de um "jovem gay cego". Não é um filme-denúncia, é uma delicada narrativa da vida de uma pessoa, sua procura de independência, indentidade própria e suas relações com os pais, amigos e amores.

Os mesmos problemas do curta, também são repetidos. O roteiro tropeça feio várias vezes. Há personagens que não passam de adolescentes estereotipados; muitos dos dramas são universais e característicos dessa fase da vida; outros, porém, soam forçados. Isso prejudica o elenco pois por mais que os atores se esforcem, ainda parecem fracos. Os pais do protagonista são anormalmente superprotetores, parecem terem medo de que o filho engasgue com água. No colégio, toda a turma parece já muito velha para acreditarmos em cenas de primeiro porre e de primeiro beijo. Primeiro baseado ou primeira carreira de pó (um abraço para nosso melhor senador mineiro) seria mais crível. Juro que não sei como o valentão do filme usa um cabelo estilo Justin Bieber. Seria mais crível ser ele o judiado. O roteiro também possui diálogos péssimos, com conversas infantilizadas para adolescentes quase a irem para a faculdade. Como assim piadinha sobre plutão não ser mais um planeta?

Enfim, Hoje eu quero voltar sozinho tem seu valor artístico (há cenas visualmente interessantes ou bem construídas, a fotografia é em tons quentes) e social, e é sim um dos melhores da safra nacional de 2014, só não é tudo o que dizem ser. Veja sem grandes expectativas que será mais gratificante.

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