Um filme de Billy Wilder.
C.C. Baxter (Jack Lemmon) é um contador de uma grande empresa em Nova York. Tentando conseguir uma promoção, ele empresta seu apartamento aos seus superiores, para onde eles levam suas amantes. Isso faz com que ele precise sempre voltar para casa mais tarde, enquanto não desocupam sua casa, e que seus vizinhos pensem que é um prosmícuo e baderneiro. Ele também corteja uma bela ascensorista, sem saber que ela é a amante de um de seus chefes.
Em Medianeras os personagens sofrem com a solidão, com o forte sentimento de solidão e impessoalidade resultante de viver em uma metrópole, onde há tantas pessoas e tão poucos contatos. Baxter sofre do mesmo mal. No monólogo em voice over da abertura o contador dá a dimensão de sua pequenez e de sua insignificância diante da Nova York dos anos 60, já na época com mais de 8 milhões de habitantes. Essa desolação acompanha o personagem durante todo o filme, quando tenta conquistar a garota de que gosta e tenta agradar os chefes em busca de promoção e dinheiro. Um homem comum com defeitos e qualidades. O filme é também sobre as aparências, as impressões que causamos nas diferentes pessoas em diferentes situações, nossos diferentes papeis. Baxter adora que pensem que ele é um garanhão em seu prédio, enquanto para seus chefes é um competente e confiável empregado e para a garota com quem flerta (que também assume diferentes papeis), um divertido e educado colega.
Hipócrita como é a sociedade norte-americana (todas as sociedades o são, mas a estadunidense parece-me uma das piores): puritana, defensora da família, dos bons costumes e da prosperidade financeira, não me surpreende que mesmo que este filme tenha sido um sucesso, a ponto de ganhar até mesmo o Oscar, ele tenha sofrido resistências pelas alas conservadoras na época de seu lançamento; chamado de imoral. Em 1960, para se ter ideia, ainda os negros eram impedidos de votar e discriminados com base em leis estaduais, e a "revolução sexual" ainda tardaria uns poucos anos. Estando o mundo em plena Guerra Fria, imagino também que alguns até chamaram Billy Wilder de comunista, palavra que em terras ianques é um xingamento. Essas reações se devem ao fato de que Se meu apartamento falasse é sim uma grande crítica social.
Por um lado os bem-sucedidos pais de família, chefes na empresa (veja que em nenhum outro lugar do mundo a prosperidade econômica e o crescimento profissional é tão valorizado, romantizado e almejado quanto nos EUA), são mostrados como adúlteros, claramente interessados apenas em sexo e não perdidamente apaixonados sofrendo por um amor proibido. O apartamento de Baxter vira uma espécie de quarto de motel. Eis a imoralidade. Por outro lado, a tão romantizada e tão defendida meritocracia (a menina-dos-olhos do liberalismo e neo-liberalismo) é alfinetada com a ascensão profissional ocasionada exclusivamente por troca de favores que o filme retrata. Eis o comunismo.
Hoje o filme já não choca ninguém pelo conteudo "depravado", e tirando alguns neuróticos como Rodrigo Constantino, a direita já não é tão taxativa na hora de definir o que ou quem é comunista. Mas Se meu apartamento falasse continua atual e brilhante. Um clássico!
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