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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O Lobo atrás da Porta - 2014; traição e vingança

O Lobo atrás da Porta (O Lobo atrás da Porta), lançado em 2014.
Um filme de Fernando Coimbra.
A estreia de Fernando Coimbra na direção de um longa metragem (que também escreveu) não poderia ser melhor. Recontando em tempos modernos uma notícia de jornal dos anos 60, o cineasta cria um filme intenso, bem feito e bem acabado. Dentro de um gênero que nunca foi muito explorado no país, o suspense, o noir.

Quando Sylvia (Fabiula Nascimento) chega à creche para buscar a filha, é informada que a menina saíra mais cedo com uma mulher desconhecida. Diante do provável sequestro, o delegado ouve depoimentos da mãe, da diretora da creche e do pai da menina, Bernardo (Milhem Cortaz) em busca de suspeitos. E logo a principal suspeita se torna Rosa (Leandra Leal), ex-amante de Bernardo. 

A trama ocorre no subúrbio carioca, bem longe das praias da zona sul. O um tanto bruto Bernardo conhece a doce e simpática Rosa numa viagem de trem. Logo estão nus numa cama e Rosa se apaixona por ele, que só quer ter uma aventura extra-conjugal. Mais tarde ela descobre que ele é casado mas não se afasta dele, ficando, pelo contrário, cada vez mais fixada e emocionalmente dependente. Daí, para o galanteador adúltero de meia idade virar um escroto violento e a jovem e doce mulher se tornar uma desequilibrada sem escrúpulos, é só questão de tempo.


O Lobo atrás da porta não falha enquanto suspense. Todo o filme é permeado de um clima de tensão, de iminente desgraça, de suspeitas e dúvidas. Ele consegue fluir bem e manter a atenção do público. Como drama também não faz feio, os personagens são completos, na maioria das vezes verossímeis, e passam por variadas emoções que vão do medo e sentimento de impotência à ansiedade e frustração sexual. Coimbra se arrisca também com algum humor negro, vindo das falas irônicas e irritadas do delegado, que tentar costurar e dar sentido às informações que recolhem dos depoimentos. A medida que as testemunhas e suspeitos, são ouvidos, flashbacks recontam a história. No entanto não faltam mentiras, omissões e segredos. Nem tudo faz logo muito sentido e o que é mostrado na tela, baseado nos relatos, pode ser verdade ou mentira.



Não há, porém, julgamentos morais feitos pelo diretor. Num tom um pouco documental, os fatos são mostrados sem maniqueísmos, sem demonizar os erros dos personagens, sem vitimizá-los. Simplesmente Coimbra os humaniza. E o trio principal de atores é competente na tarefa. Fabiula Nascimento é aqui expansiva e mãe dedicada. Milhem Cortaz é másculo e dominador, mas tem também um jeito moleque. Bernardo é uma mistura de múltiplos personagens, até mesmo porque tem uma vida dupla, e Cortaz se sai bem em todos eles. E a brilhante Leandra Leal, a estrela maior do filme, se entrega completamente. É ótimo vê-la diante das câmeras, tão a vontade, tão verdadeira, tão complexa. Ela sabe ser sedutora, segura de si, doce, manipuladora, louca. Só não gostei de Cazarré, o delegado pareceu-me meio estereotipado e muito pouco crível.



O filme também é rico visualmente. Há amplos planos externos, bem iluminados, cenas atrás de grades e cortinas, em ambientes mal iluminados, cheios de sombras, desfoques premeditados, enquadramentos fechados: intimistas e curiosos. Sequências dinâmicas e outras longas, introspectivas. Feitas com câmera estática e com câmera de mão. Com filtros que tornam a fotografia belamente escurecida e dessaturada, o que só acreescenta na construção da atmosfera thriller.

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