Um filme de Victor Erice.
Há quem diga que O espírito da colmeia é o mais belo dos filmes espanhóis. Não acho que chega a tanto, só do Almodóvar há ao menos uns três muito mais interessantes; mas é verdade que há aqui muita poesia e sensibilidade na fotografia e no texto de Erice.
Estamos numa zona rural da Espanha em plena II Guerra Mundial e a Guerra Civil, quando ocorre a exibição de “Frankenstein” (1931), de James Whale, numa sala de cinema improvisada do vilarejo. Duas irmãs, Ana e Isabel, filhas de um apicultor, assistem ao filme juntas a outras crianças e adultos. Ana vai embora impressionada com a história, sem entender porque o monstro mata uma garotinha. Aparentemente querendo assustar a irmã mais nova e se aproveitar de sua ingenuidade, Isabel diz que o monstro é um espírito que Ana pode conhecer se procurá-lo. A partir daí vemos o mundo pelos olhos da pequena Ana, que passa por momentos de descoberta e amadurecimento.
Já num primeiro momento percebe-se que o filme de Erice é metalinguístico. É sobre a subjetividade de se ver um filme. Qualquer filme induz emoções distintas em cada pessoa. Isso depende da idade, da escolaridade, da vida, da classe social, da experiencia com cinema etc de quem assiste. Fica claro que para Ana o filme de James Whale teve um impacto muito maior que nas outras pessoas, inclusive a irmã, pouca coisa mais velha que ela.
El Espíritu de la colmena é melancólico. A fotografia amarelada, as tomadas estáticas e longas, o silêncio de um roteiro de poucas falas e sem música dão ao filme um ar de tristeza e reflexão. E a melancolia está lá nos olhos brilhantes de Ana, tão confusa e tão curiosa. A escuridão e a tristeza de um período de guerra civil contrasta com toda a imaculada ingenuidade de Ana.
A linda fotografia de Erice é cheia de belos planos e simbolismos. Também o é a cinegrafia. Reparem como as janelas da casa da família são formadas por hexágonos, igual às favas de mel dos apiários. Estes hexágonos tornam a aparecer em outros lugares.
Não levem a mal este que vos escreve, mas demorei um tempo até entender que eram duas meninas os protagonistas. A princípio pensei serem dois garotos, embora um deles me parecesse muito feminino (!). E mesmo depois de entender que Ana era uma menina, ainda demorei mais um tempo para saber que Isabel também não era um garoto.
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