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sábado, 20 de dezembro de 2014

Jesus de Montreal (Jésus de Montréal) - 1989; muita reza para pouca fé?

Jesus de Montreal (Jésus de Montréal), lançado em 1989.
Um filme de Denys Arcand.
Denys Arcand é um dos cineastas mais conhecidos do Canadá - me refiro aos que trabalham lá, não apenas nascidos lá, caso de James Cameron - , ainda mais se falarmos da parte francófona do país. Após entregar em meados dos anos 80 seu O declínio do império americano, sua carreira alavancou-se internacionalmente e seus filmes quase sempre fazem sucesso no cenário independente/alternativo e conquistam alguns prêmios e indicações em festivais. Jesus de Montreal empresta a história de Jesus de Nazaré a um ator/dramaturgo que representa o evangelho de modo pouco convencional.

Daniel, um dramaturgo desconhecido, é convidado por uma paróquia católica a "modernizar" um texto teatral que há 30 anos era encenado para os fiéis nos finais de ano. Ele reúne alguns atores desempregados ou subempregados e cria uma peça pouco convencional sobre a vida de Jesus, onde o próprio Daniel vive o protagonista. Apesar de agradar ao público e à crítica, a peça acaba irritando os clérigos.

Este, como outros de Arcand, é um filme de críticas. Como outros, há aqui um certo humor ácido que se mistura ao drama para tentar nos mostrar como a humanida é e sempre foi doente. A força desta obra está justamente aí, no roteiro que também é assinado por Arcand, já que não temos construções visuais particularmente belas nem é o elenco dos mais críveis. O cineasta - que se define como católico não praticante - traz para os dias modernos a figura bíblica de Jesus de Nazaré para denunciar a sociedade que tem uma vive de modo tão diferente do que supostamente foi pregado pelo fundador do cristianismo. Há pouca fé e poucos valores humanos. Por outro lado há muita ganância, hipocrisia e falsa fé (um beijão à todas tias solteironas que diariamente visitam a igreja para depois se reunirem nas casas umas das outras para colocarem em dia as fofocas maliciosas e discutirem o quanto seria bom a pena de morte).
E não pensem que são só os cristãos que tem seus erros apontados, há criticas direcionadas à Igreja em si, formada de padres demagogos, hipócritas (temos aqui um padre que tem um caso duradouro com uma das atrizes) e visões antiquadas do mundo que já não atendem à realidade da humanidade (os tempos são outros, nem todos os valores morais pregados nestes 20 séculos são ainda válidos, ou ao menos não se encaixam mais).


O filme critica também o capitalismo exacerbado destes nossos dias, onde absolutamente tudo é explorado comercialmente, incluindo aí as diversas formas de arte. Onde nós seres humanos não passamos de criaturas que vendemos nossa vida, nosso tempo, nosso corpo.
E não menos importante, Arcand nos dá uma - não só aqui mas em todos seus filmes - uma visão distópica do Canadá, sempre tão bem apontado como um mundo distante, onde o IDH é altíssimo e tudo é perfeito. Ainda que sempre haja lugares melhores que outros, absolutamente nenhum lugar do mundo é totalmente livre da violência, do machismo, da desigualdade, da incompetência dos governos e da mentira.

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