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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Entre nós - 2014; o tempo passa e os laços afetivos se afrouxam

Entre nós (Entre nós), lançado em 2014.
Um filme de Paulo Morelli e Pedro Morelli.
Apesar de o título parecer de algum desses filmes sobre espiritismo que nos últimos tempos tem surgido no país, Entre nós é um drama sobre a passagem do tempo, cuja força maior vem da intimidade de seu elenco. 

Estamos em 1992 e sete amigos de classe média alta, todos na faixa dos vinte anos e com pretensões literárias, se reúnem num sítio na Serra da Mantiqueira para comemorar. Eles acabam escrevendo cartas destinadas a eles mesmos para serem enterradas e só desenterradas uma década depois. Um deles morre num acidente no mesmo dia. O novo encontro, em 2002, é carregado de segredos e conflitos.

Dirigido por pai e filho, Entre nós tem algo de diferente de outras produções nacionais. Não só por ser um legítimo drama (embora com uma pitadinha de suspense) em meio a um mar de comédias e filmes de ação, mas também por sua temática intimista e estética que mais se aproxima do cinema europeu.
O filme dos Morelli é o retrato de uma geração. Ambientado num tempo de esperanças que foram em vão, entre a redemocratização do país pós ditadura de 64 e o final do governo FHC, o filme mostra os efeitos da passagem do tempo na vida humana, que vai além muito da mudança física. É um conto de amadurecimento.

E também de endurecimento: os jovens sonhadores e liberais, diante das desilusões, dos sonhos não realizados, das culpas e remorsos se tornam consumidores de antidepressivos, entram em crises conjugais, se tornam mais moralistas, antipáticos e irritadiços. A perda de contato por anos dilui a intimidade que tinham e mal se olham dez anos depois. A leitura das cartas traz à tona os sonhos mortos, as declarações de amores que já não existem ou que nunca foram correspondidos e segredos de maior gravidade com potencial para diluir o que resta de amizade. Todo esse poder, esse desenvolvimento lindo dos personagens, é baseado no elenco afiado. Se os atores não convencem assim tão bem na alegre primeira parte do filme, em 92, eles brilham em 2002 quando o clima é de tensão. Muitos deles são Globais, o que é desestimulante. Mas apesar das atuações cínicas que geralmente exibem na TV, aqui o trabalho é diferente.
Carolina Dieckmann pôde provar que não é só um rostinho lindo. Caio Blat, que sempre achei um porre, me deu uma grata surpresa como o único bem sucedido da turma, mas que também é o que carrega maior fardo. E até Paulo Vilhena, que nunca me pareceu dos mais promissores, faz um trabalho legal. Martha Nowill também fez um belo trabalho, não acho que era caso de ganhar prêmios como foi no Festival do Rio, mas ela cativou. Maria Ribeiro foi quem mais me agradou.
Foi importante a escalação sábia de Morelli filho, que quis atores que já fossem amigos entre si, pediu ajuda a eles para finalizar o roteiro e insistiu que usassem um pouco de improvisação.

A maior proximidade com o cinema europeu vem da fotografia cinzenta e sóbria e do cenário serrano. O clima bucólico e calmo do cenário contrasta com a inquietação dos personagens. A fotografia é assinada por
Gustavo Hadba, que surpreende pelos constantes closes no rostos dos atores, o jogo de sombras, a iluminação fria nas cenas externas e quente e cálida nas internas, longas desfocagens, enquadramentos pouco óbvios. Numa cena em que o grupo conversa sobre a Copa de 2002 e as eleições presidenciais que elegeriam Lula, a câmera passeia pela mesa, olhando os atores um por um, descobrindo detalhes, revelando os sentimentos.  

Algo parece ter acontecido com o cinema nacional neste filme, não foi dos mais originais, nem sei se dos mais patrióticos, mas foi bom.
#ficaadica

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