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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Adeus (Goodbye Solo) - 2008; humano e duro

Adeus (Goodbye Solo), lançado em 2008.
Um filme de Ramin Bahrani.
Bahrani tem uma força muito grande para o neorrealismo. Vendo sua obra é difícil ficar indiferente. Ele comove sem nenhuma apelação, sem melodrama. Seus filmes são crônicas. Retratos da realidade. Simplicidade e crueza são bons adjetivos para o cineasta. Em Chop Shop ele já mostrara ao que veio. Em Adeus ele dá a confirmação.

Solo (Souléymane Sy Savané) é um imigrante senegalês que trabalha como taxista em Winston-Salem, Carolina do Norte. Sua companheira, filha de imigrantes mexicanos, está grávida e já tem uma filha de outro relacionamento. Seu sonho é de se tornar comissário de bordo de aviões. Numa noite em que fazia uma viagem em seu táxi, um velho chamado William (Red West) lhe pagou adiantado por uma viagem que seria feita dias depois, até uma reserva ambiental com um enorme precipício. Ele percebe que o homem quer ir até lá para cometer suicídio. Nos dias seguintes Solo arruma meios de se aproximar do homem, descobrir o que pode ter o levado para tão profunda depressão e tentar mostrar que há alegria na vida.

Apesar do resumo sugerir um filme meloso e adolescente, não é essa a realidade. Não há finais felizes nem ceninhas pretensiosas ou cínicas. Tudo é cru e real.
Que leva uma pessoa a tirar sua própria vida? Adeus não tenta dar uma resposta pronta e fácil para essa questão, mas aceita o desafio de nos indicar caminhos ou ao menos nos fazer pensar na pergunta.
Red West traz no rosto as marcas do tempo. E as empresta para William, de quem sabemos pouco, apenas que não está feliz, que é muito solitário e que no seu tempo foi um daqueles motociclistas estereotipados. Porque ele é tão sozinho? Porque não se aproxima de seus familiares ainda vivos? Você não saberá, mas levantará hipóteses. No mais, vai compartilhar da dor deste homem.

Solo é a antítese de William. Ainda jovem, é alegre e não lhe falta amor. Embora também tenha seus problemas, sua sede é de vida, não de morte. Seu caráter é benévolo e generoso demais para ficar indiferente à situação e deixar que William se mate assim. Mas que pode ele fazer? Há algo que poderia mudar a decisão de William? Embora não seja senegalês, Savané é mesmo um ator africano (nasceu na Costa do Marfim). Foi sua estreia como ator; e foi ovacionado em festivais ao redor do mundo pelo trabalho. West e Savané se entendem. Tão bem que acreditamos nos desentendimentos entre os personagens que interpretam. Entre eles há uma amizade que foi limitada para que não crescesse mais, já que um tem data marcada para morrer. Em determinada cena, tudo é dito num olhar entre os dois.
Há algo de autobiográfico em seus trabalhos. Savané foi mesmo comissário de bordo. West foi amigo e uma espécie de guarda-costas de Elvis Presley, teve mesmo uma juventude agitada. E Bahrani, o diretor, além de ser filho de imigrantes iranianos, nasceu em Winston-Salem.
A câmera que espia furtiva à distância e as cenas silenciosas de Chop Shop estão aqui. Os closes também.


Adeus é poderoso. É muito humano. É amargo. É inesquecível.

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