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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual (Medianeras) - 2011; a solidão dos tempos modernos

Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual (Medianeras), lançado em 2011.
Um filme de Gustavo Taretto.
Outro interessante exemplar do cinema argentino. Ele se oferece para estudar a vida e as relações humanas contemporâneas em grandes centros urbanos, coisa que faz com leveza e bom humor, ao estilo de Woody Allen, inspiração do diretor argentino. O filme ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro e melhor diretor no Festival de Gramado.

Em Buenos Aires, vivem Mártin e Mariana. Moram sozinhos em prédios vizinhos, mas não se conhecem. Ele é web designer, viciado em internet e video games. Foi abandonado pela namorada e quase nunca cruza a porta de casa. Ela é formada em arquitetura mas trabalha como vitrinista. Acaba de sair de um relacionamento infeliz e não é capaz de se envolver novamente. Apesar das características em comum que os tornariam um belo casal, as circunstâncias e a vida agitada urbana não permite que se cruzem.

Medianeras, antes de qualquer coisa, é um filme sobre solidão. Um retrato fiel das dificuldades da vida contemporânea, sobretudo em grandes centros urbanos.
Ambientado numa das maiores cidades da América do Sul (e que é parte da terceira maior metrópole da América Latina), o longa explora o modo como temos vivido nas últimas décadas. A urbanização da população ocorrida no mundo inteiro na segunda metade do século XX nos deixou mais próximos fisicamente um dos outros. Por outro lado as relações humanas tem caído de qualidade ano após ano, ainda mais com o advento de um catalizador chamado internet, que promete nos aproximar mas faz o contrário.

Na cidade nos sentimos mais seguros entre quatro paredes, muitas das vezes vivendo num mundo virtual. Quando finalmente saímos cruzamos o tempo todo com uma multidão de outros seres humanos. Geralmente, no máximo ocorrem olhares rápidos e mecânicos; com alguma raridade trocamos cumprimentos no elevador e os mais desinibidos arriscam alguns comentários sobre o tempo, no ponto de ônibus. Seja em condomínios ou em bairros, apenas entramos e saímos de casa, que boa parte das vezes são prisões nas quais nos trancamos e que nos desumaniza. Na melhor das hipóteses tendo algum nível de amizade com algum vizinho. Preocupados apenas em sobrevivermos, desaprendemos a olhar para o outro. Assim, cercados pela multidão de uma cidade, nos vemos solitários, distantes e defensivos. Assim, como todos nós vivemos, é que também vivem os dois personagens. Um pouco menos resignados, é certo, mais ainda assim pessoas comuns. Essa solidão é tão endêmica que até um cachorro se mostra "antissocial" perto de outros animais.

É sobre essa premissa pessimista - que também culpa a arquitetura da cidade por parte da desgraça - que a obra se desenvolve, num tom de melancolia e vazio de sentido na vida. Mas a visão sensível de Taretto, que escolhe um modo delicado e alegre de filmar, revela que ainda há espaço para otimismo. Com humor discreto mas verdadeiro é que acompanhamos a rotina dos dois, adentrando suas intimidades, conhecendo-os bem. Cenas interessantíssimas surgem disso. Além do ótimo desenvolvimento dos personagens (bem trabalhados também pelos atores) e do texto (inclusive o voice-over: o tom quase didático da narrativa que inicia o filme é adorável) a fotografia é linda. E também a trilha sonora.
Mais uma vez os hermanos acertam.

#ficaadica

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