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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Gran Torino (idem) - 2008; culpa e redenção

Gran Torino (Gran Torino), lançado em 2008.
Um filme de Clint Eastwood.
Clint Eastwood prova que a idade não é empecilho em sua vida. Quando filmou Gran Torino já estava beirando os 80 anos. Além de dirigir, atuou, num tipo de personagem recorrente em sua carreira como ator: durão e másculo. Mas a visita de Gran Torino à parte da obra de Eastwood é ainda maior, tornando a abordar temas como expiação, justiça feita com as próprias mãos e a relação de mestre-aprendiz.

Walter Kowalski é um veterano da Guerra da Coréia que vive no subúrbio de Detroit. Com a morte da esposa, ele passa a viver só, contrariando o desejo da família que quer levá-lo para um asilo. De personalidade forte, antipático, ele não tem muitos amigos. Xenofóbico, ele odeia os vizinhos, imigrates asiáticos, sobretudo depois do filho deles tentar roubar seu carro, um Gran Torino 1972. O garoto, tímido, fez isso pressionado por uma gangue, como um ritual de iniciação. Mas Walter acaba se aproximando da família dos vizinhos, tanto do garoto como da irmã durona. Mas a paz de todos eles continua sendo ameaçada.

Um velho amargurado e cheio de remorsos do que fez na vida, sobretudo os assinatos que cometeu enquanto na guerra; e pessoas do tipo que despreza servindo como ponte para a expiação e um pouco de alegria e paz interior. Uma premissa sem nada de original, reconheço. E ainda mais condenável pela presença de alguns estereótipos e exageros do roteiro. Mas estamos falando de Eastwood; Gran Torino não é um filme qualquer. E para os fãs do ator e diretor (como eu) o prazer está principalmente em reconhecer elementos de outras obras suas.
Há cantores que comemoram seus 40, 50, 60 anos de carreira fazendo um show especial onde eles, mais que revisitarem a própria obra, agradecem ao público pelas décadas "vividas juntos". Gran Torino é quase isso, e Eastwood faz essa própria homenagem, essa auto-reflexão, num tom meio fúnebre (mesmo o filme sendo bem humorado e cheio de momentos leves). Tivesse eu visto este filme em seu lançamento teria pensando que o diretor estava abandonando o cinema ou estava doente com a morte já anunciada.

Walt é um misto de outros personagens de Eastwood. É também o retrato de uma geração de norte-americanos. Velho e doente (e não faltam closes explorando os efeitos do tempo, mostrando as rugas, as manchas, a pele áspera) ele relembra o passado e se indigna com as mudanças que o mundo sofreu. A juventude já não é a mesma, o valor da família parece ter desaparecido, a violência se torna cada vez mais gratuita. Até a vizinhança mudou, sendo agora quase toda de imigrantes. O fim do sonho americano. Nesse contexto, e agora ainda mais solitário, ele repensa um pouco sua visão de mundo. O desfecho, embora não seja exatamente imprevisível, não deixa de surpreender positivamente. 

Até seu modo de filmar condiz com essa idealização do passado, utilizando de um estilo mais clássico, que também sempre foi seu estilo pessoal. A fotografia levemente acinzentada, fria, também está aqui mais uma vez. Ora mais, ora menos sutil, mas sempre elegante, Eastwood critica a sociedade, a Igreja, o ser humano. Reflete sobre a própria carreira (e porque não dizer até sobre a própria vida pessoal?), celebra-a, homenageia um carro, perdoa os pecados dos antigos personagens que não puderam se redimir.

Um filme incrível, com direito até a ouvir Eastwood cantando o tema nos créditos finais.
#ficaadica
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P.S.: Não posso, porém, deixar de dizer que os atores coadjuvantes estão um tanto insossos.

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