Um filme de Lynn Shelton.
Em todos os lugares este filme é marcado como um filme de comédia (eu não quis fazer diferente), e fui vê-lo com este pensamento. Humpday tem momentos engraçados, é certo, mas não muitos. Ele prefere se aprofundar mais na relação de seus personagens, o que não é algo ruim (só não é muito engraçado). Inclusive não tem cara de comédia. O filme é muitas vezes silencioso, filmado com câmera de mão, e se alterna entre os closes nos personagens. É cinema independente (até foi premiado em Sundance), e como tal deixa transparecer as características de um. Mas apesar do baixo orçamento, o texto é bem inteligente e honesto. Uma obra que entre erros e acertos ainda merece ser vista. Só não é exatamente uma comédia, tenha isso em mente antes de montar um programa de domingo com os amigos.
Dois amigos, na casa dos trinta anos, voltam a se reencontrar depois de anos sem se verem. Um deles viaja pelo mundo com espírito livre. O outro está casado e planeja ser pai. Ambos são heterossexuais, mas bêbados em uma festa liberal, sabendo de um festival de cinema pornô independente, eles decidem que farão um filme dos dois fazendo sexo, e programam o ato para dias depois. Nesse meio tempo eles passam pelos dilemas morais, sexuais e familiares que a decisão implica.
Lynn Shelton usa também a improvisação (que embora, por vezes, acabe levando os atores a uma interpretação mais forçada, acaba sendo benéfica por aumentar ainda mais o desconforto de certas situações) em Humpday. O filme, basicamente, explora a amizade masculina. Além da cumplicidade entre os dois amigos, há também um senso de competitividade (lembro de já ter lido sobre isso, inclusive. A neurociência explica porque a amizade entre dois homens costuma ser muito mais violenta e competitiva que a feminina) entre eles. Nenhum tem de fato vontade de produzir o tal vídeo, mas querem testar a coragem do outro. Essa relação gera muita conversa ao longo da película, algumas leves e despretensiosas, outras mais tensas porém sinceras. Conversas que se estendem a outros personagens, sobretudo a esposa de um deles, que naturalmente não entende que ideia é essa do marido e precisa tentar ter diálogos francos com ele, onde a culpa se torna uma catarse necessária, afinal um casamento, mesmo feliz, priva as pessoas de determinadas coisas.
O filme também pende, obviamente para a questão sexual. Não sobre homossexualidade, mas sobre o sexo. Aqui ele é visto por vários ângulos. Seu papel na reprodução, seu papel como um meio de prazer e descoberta, e finalmente como uma atividade feita por obrigação, para testar seus próprios limites, para sanar uma dúvida, para demonstrar liberdade em poder usar o corpo.
Visualmente não há nada de especial, Humpday não é exatamente despudorado (não há nem nudez), nem consegue ser engraçado e profundo como Shortbus; mas consegue pelo menos te deixar com um sorriso melancólico a refletir sobre ele e seu tema.
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