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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Shortbus (idem) - 2006; uma inesperada celebração do envolvimento humano

Shortbus (Shortbus), lançado em 2006.
Um filme de John Cameron Mitchell.
Em 1989 Steven Soderbergh lançou Sexo, mentiras e videotape, um filme maduro sobre a sexualidade humana; poucos anos depois da descoberta da AIDS. Depois da crise da doença, o sexo se tornou um tabu ainda mais forte do que já era no cinema não pornográfico. Mas recentemente o tema tem aparecido com mais naturalidade e frequência. Em Shortbus John Cameron Mitchell, que também assina o roteiro, usa o sexo para nos contar uma história cheia de bom humor e reflexivo drama. E além do tema da sexualidade, tem outras semelhanças com o filme de Soderbergh: frustração sexual, filmadoras e diálogos francos.

Na Nova York pós 11 de setembro, James e Jamie estão pensando em abrir a relação deles e para conhecerem outras pessoas. A partir dessa ideia decidem procurar uma espécie de sexóloga para conversarem, Sofia Lin. Nesse breve contato ela confidencia aos clientes que nunca teve um orgasmo, mesmo ela e o marido tendo uma vida sexual agitada. Então eles a convencem a visitar o clube Shortbus, uma espécie de cabaré comandado pelo mais famoso travesti nova-iorquino, Justin Bond (interpretado por ele mesmo), onde, além dos espetáculos, ocorrem orgias, entre outras atividades sexuais liberais. Lá ela conhece uma dominatrix que vai tentar ajudá-la.

Shortbus já se inicia com uma memorável sequência de cenas: ao som alegre do jazz de Anita O'Day passeamos por uma maquete animada de Nova York, espiando algumas janelas. Um brilhante prólogo. Depois inicia-se divertidas tramas paralelas mas altamente dependentes uma das outras e coexistentes (não como Crash), envolvendo diversas pessoas e sua vida sexual.

Assim como fez Nagisa Oshima nos anos 70, em seu O império dos sentidos (inclusive John Cameron Mitchell faz uma pequena mas inteligente homenagem ao filme de Oshima, muito fácil de ser identificada), Mitchell usa o sexo real e explícito apenas como mais um elemento que compõe a trama, tratado com naturalidade, sem buscar a excitação sexual do público, como faz a pornografia. Apesar de altas doses de humor bastante inteligente, capaz de arrancar boas gargalhadas, Shortbus é, na verdade, um drama intenso e humano sobre intimidade. Ele nos mostra como somos impenetráveis em todos os aspectos da vida, fechados em nossos próprios dramas. Os corpos se despem e também se despem as almas, seja em vídeos, em conversas dentro do armário ou em spas. Pena que o roteiro dá alguns deslizes e algumas das tramas são mal desenvolvidas assim como algumas ações parecem pouco críveis.
Shortbus é um dos filmes mais honestos sobre o 11 de setembro, mostrando a desolação e aparente falta de esperança da população jovem da metrópole.

O filme foi gravado com uma série de atores desconhecidos, profissionais ou amadores (pois o diretor diz, com razão, que as estrelas de cinema não fazem sexo para as câmeras), mas a escolha do elenco foi feita com cuidado e mesmo que, claro, uns foram melhores que outros, as interpretações surpreendem positivamente. A fala do prefeito, por exemplo, de pouquíssimos minutos, foi tão carregada de emoção, de uma sabedoria que só a velhice é capaz de dar, de auto-perdão, que só por ela o ator merecia uma indicação a um Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante.

Apesar de num primeiro momento parecer que o filme está defendendo práticas fetichistas, Mitchell apenas defende um envolvimento sem pudores e traumas: ele nos mostra que nem sempre o sexo é o suficiente, mas nos convida a nos libertar e sermos felizes.

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