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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

12 anos de escravidão (12 Years a slave) - 2013; comovente e brutal

12 anos de escravidão (12 years a slave), lançado em 2013.
Um filme de Steve McQueen.

Sem dúvida este é um dos filmes de drama mais brutais que já assisti. Baseado na autobiografia homônima de Solomon Northup publicada em 1853 (que se tornou um best-seller), ele reconta a história do autor, que tendo nascido e sido criado livre em Nova York, foi sequestrado por traficantes de pessoas e vendido como escravo nos estados sulistas, onde trabalhou por doze anos, até ser libertado e poder reencontrar sua família.

McQueen desenvolve um ambiente totalmente crível para seu filme, que vai muito além de retratar o período
no qual os Estados Unidos ainda era um país rural e dependente da agricultura e do transporte a vapor ou em animais. Os atores envolvidos, mesmo simples figurantes, conseguem criar uma atmosfera explosiva de ódio, medo e hipocrisia. Sentimentos fortes na sociedade da época e aqui tão bem retratados.

Esse cenário funciona muito bem. É quase impossível se manter indiferente às barbaridades cometidas contra os negros. Um escravo entra numa loja e seu dono pede desculpas pelo afoite de sua propriedade, não é aceitável um negro fazer isso. Só que esse gesto revoltante nem chega perto dos horrores que vemos depois. Escravos doentes, transportados em condições subumanas, sem direito a se higienizarem direito, submetidos a trabalhos exaustivos e a todo tipo de violência verbal, física e até sexual.

Esse último aspecto é importante. 12 years a slave é um filme incômodo, difícil. Isso se deve ao realismo e à crueza com a qual a violência nos é mostrada. Chutes, tapas, socos, espancamentos com pedaços de pau, cortes, queimaduras, chibatadas às dúzias, enforcamentos. Esse show de horrores está longe de ser exagerado, e é isso o mais chocante. A barbaridade faz parte do contexto histórico do ambiente da obra.
Longe de querer ser sádico, McQueen filma isso tudo com calma. Cenas arrastadas, lentas, silenciosas, produzem grande desconforto no público, que se agoniza junto aos personagens. Lindas fotografias da natureza do lugar fazem contraste com a horrível selvageria, cometida tanto pelos brancos como pelos próprios negros uns contra os outros.

Chiwetel Ejiofor é o protagonista. Não é um herói, é quase só mais um escravo, tentando sobreviver e com medo da situação na qual está metido. É um ser humano apenas. Seu trabalho é emocionante, impecável.
Michael Fassbender é Edwin Epps, o dono de escravos doentio, violentíssimo, que tenta justificar seu direito de homem branco de explorar e castigar os negros com a bíblia. Espetacular vê-lo suar de tanta raiva. Tão violenta e ainda mais desumana (Edwin ao menos mostra, eventualmente, um resquício de compaixão e remorso) é a sua esposa, interpretada por Sarah Paulson. A mulher tem o agravante de morrer de ciúmes do marido, sabendo que ele estupra as escravas. Já Lupita Nyong’o como Patsey é a grande surpresa (a atriz deverá ganhar o Oscar de coadjuvante): até seu sorriso esconde o sofrimento de uma vida.

O tema da escravidão nos Estados Unidos sempre foi usado no cinema, mas a obra em questão tem algo de especial. É fácil dizer que um filme é relevante por seu tema. Saramago dizia que a literatura não mudava o mundo. Igualmente ocorre com o cinema. Mas se um filme intenso como esse não é capaz de acabar com a discriminação que os negros ainda hoje sofrem, pelo menos ele cutuca a ferida como nenhum outro.

#ficaadica

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Atualização: O filme ganhou o Oscar de melhor filme e melhor roteiro adaptado.
Lupita também levou a estatueta. 

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