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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Anticristo (Antichrist) - 2009; a mente perturbada de Lars Von Trier nos perturba também

Anticristo (Antichrist), lançado em 2009.
Um filme de Lars von Trier.
O dinamarquês Lars von Trier é conhecido pelos seus filmes peculiares e polêmicos. Muitas de suas obras são consideradas obras primas por uns e lixo por outros. Seu filme mais recente, Ninfomaníaca (post em breve), andou a causar rebuliço. Também já chocou com uma declaração considerada antissemita e nazista, fez uma presunçosa declaração na qual disse ser o maior diretor de cinema vivo e certa vez matou um jumento. Ele já passou por um período de profunda depressão. Foi nesse tempo que escreveu o roteiro de Anticristo, filme - toda a gente concorda - perturbador.

Num prólogo belíssimo em câmera lenta e filmado em preto e branco um casal (Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg) faz sexo apaixonadamente. Enquanto estão distraídos na atividade, o filho do casal, um bebê que começa a aprender a andar, sai do berço e vai até a janela, encantado com a neve caindo. Ele se joga para a morte. A partir disso o filme toma cor e vemos que a mãe está num luto profundo que dura semanas, precisando até ficar no hospital. O pai é psicoterapeuta e conduz a esposa a uma terapia na qual a obriga a enfrentar seus medos.


O significado e o conteúdo desse filme é tão ambíguo que é melhor falarmos nele depois. Comecemos pela parte mais técnica. A fotografia belíssima, independente do prólogo em preto e branco ou o restante do filme, colorido, é do mesmo responsável por Quem quer ser um milionário. Ela varia das cores vivas e alegres aos tons sombrios e tristes. A trilha sonora é bem utilizada, sem exageros. O cenário é basicamente uma floresta e uma cabana no meio dela.
Gainsbourg e Dafoe se entregam. Com coragem. Não são quaisquer atores que aceitam fazer algo arriscado assim, eles deram a cara a tapa. Mas como dizem, se está no inferno abrace o capeta. A coragem deles só é superada pela de Trier. Se lixando para as polêmicas que sabia que se instaurariam, sabendo que estava fazendo algo pouco comercial, ele realiza o que tem vontade, o que sua mente "perturbada" inventa. O resultado foi esse filme amargo e perturbador, mas muito belo e artístico.

Muitos estudiosos tem levantado teorias sobre o significado do filme. As conclusões variam. O diretor nunca revelou o que pretendia, deixa muitas coisas abertas à interpretação do espectador. Não é um filme fácil, nem é para todos os estômagos, o mundo está cheio de quem o odiou.
A obra é cheia de alegorias. Já alguns dizem que o diretor encheu a película de cenas chocantes e fortes visando marketing e "Ibope"; pessoalmente acho que não, essas coisas estão lá porque tinham que estar. 

O casal se isola num mundo de lamentações e culpas. Ela se entrega à amargura, está perturbada pela sua tese de doutorado e pelo rancor que sente do marido; ele tenta ajudá-la (ou puní-la?) com a psicologia, mas neste processo percebe o quanto é ruim, dominador e arrogante. Ambos são cruéis um com o outro e com eles mesmos (e se punem). Enquanto estão na cabana vivem em meio à violência (tanto física quanto psicológica), a dor, o remorso e luxúria; uma luxúria exacerbada que tenta livrar a mulher de parte de sua culpa (ou agravá-la?). O diretor nos diminui até o nível dos animais que somos; é preciso humildade para aceitar isso. O onírico e o psicótico estão presentes, e podem deixar dúvidas que jamais serão sanadas (afinal, a mãe viu o menino na janela e se recusou a salvá-lo, ou era apenas um devaneio causado pelo remorso? Em dado momento acreditamos que sim, pois ao que tudo indica a mãe fazia mal ao filho. E o epílogo, o que ele quer dizer?).

Acompanhamos tudo isso chocados (a violência e o sexo são explícitos), mas acabamos por nos mostrar sádicos muitas vezes. Creio ser esse o objetivo de Trier: dizer que o ser humano é ruim por natureza.

#ficaadica

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