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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Orações para Bobby (Prayers for Bobby) - 2009; uma trama razoavelmente interessante, mas mal conduzida

Orações para Bobby (Prayers for Bobby), lançado em 2009.
Um filme de Russell Mulcahy.
Diferente de um filme de cinema, que para assistí-lo você deve ir até ele, seja no sala de exibição ou por meio de uma mídia, os filmes para televisão simplesmente chegam ao receptor, por isso tentam não chocar demasiadamente o público, para não perdê-lo. Talvez aí esteja a explicação para Prayers for Bobby se entregar tão pouco à sua premissa e tomar outros rumos, contando não a história de Bobby, mas sim uma quase cinebiografia de sua mãe.

Mary Griffith é uma mulher muito devota da igreja que frequenta. Um dia o filho Bobby confidencia ao irmão mais velho que acredita ser gay. Quando a notícia chega aos ouvidos do restante da família a relação familiar começa a ruir, sobretudo a interação mãe-filho.

Orações para Bobby é baseado numa história real, que rendeu o livro do qual foi adaptado. É bem melodramático. Muitas são as cenas grudentas, com um sentimentalismo excessivo. Mas o que mais decepciona no filme é o cinismo do elenco e os furos do roteiro. Tirando Sigourney Weaver, nenhum dos atores parece se entregar ao papel, e isso inclui Ryan Kelley, que faz Bobby (ele não me convenceu que era gay, não me convenceu que estava desesperado diante de um mundo que não o ouvia, não me convenceu que ele não queria que ninguém soubesse de seu segredo). Quando uma tal de Kelly foi dar seu testemunho no grupo da igreja, não contive um riso de desprezo, nem para figurante a garota serviu.

O roteiro está cheio de falas que soam falsas, e várias ações dos personagens, ainda que de certa forma fossem de se esperar deles, também parecem absurdas. Um exemplo é Ed a jogar o capacete no gramado e gritar. E realmente duvido que Bobby, por mais rebelde que tivesse ficado, levaria dois travestis fantasiados até sua casa.

Mas o filme tem seus acertos, ou pelo menos virtudes, centrados do enredo. Embora o filme não seja sobre Bobby e sua condição sexual (a isso me referi no início do post, programas de TV precisam "ir devagar" com "coisas novas" para o público) ele faz uma coisa interessante: aborda mais a questão da homoafetividade que da homossexualidade, o que é bom já que muitas pessoas veem a homossexualidade apenas como perversão sexual, não acreditando que existe sentimento e afeto. Outro ponto interessante é o de culpar explicitamente a religião e seus ensinamentos pela falta de diálogo entre pais e filhos. Ninguém pode negar que as igrejas, de um modo geral, e também a sociedade, reprimem desumanamente a sexualidade humana. Não só homossexualidade, mas também masturbação, desejo, sexo antes do casamento, sexo oral etc. O maior conflito interno do protagonista é justamente a culpa por estar pecando. Não bastasse isso, o mundo também corta as asas dos sonhos. Ele não pode nem mesmo sonhar em ser escritor.

Mulcahy conduz seu filme de modo muito simples. Do ponto de vista cinematográfico o filme não nos oferece quase nada, uma das únicas cenas interessantes, neste sentido, é o uso da câmera de mão e da grade quando Mary recebe a notícia da morte do filho. Ela estava isolada de todos. A melhor cena da película. E ele devia ter exigido mais de seus atores, acredito que eles são capazes de trabalhos melhores. E acho o filme deveria ter acabado após o suicídio. A meia hora restante é desnecessária, só serve para centrar ainda mais o enredo em Mary. Para que nos mostrar a família amargurada em remorso. E já era um tanto previsível a expiação da mãe, não?

Prayers for Bobby é um simbolo do movimento gay, bem aceito por retratar o universal problema da aceitação e os dramas que isso causa na família e no indivíduo, mas como filme é apenas regular. Ainda prefiro a obra de Ang Lee.

#ficaadica

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