Um filme de Bob Fosse.
Bob Fosse, ao longo de sua vida, dirigiu muitos musicais, tanto no cinema como no teatro. Isso lhe rendeu diversos prêmios e nomeações ao redor do mundo, não só em seus trabalhos do gênero mas também os dramáticos. Ao lado de Cabaret, All that Jazz é sua mais reconhecida obra, que inclusive recebeu a Palma de Ouro. Chicago é uma adaptação cinematográfica da peça teatral que ele ajudou a criar nos anos 70. All That Jazz é praticamente uma auto-semi-cinebiografia, acompanhando a vida de um diretor e coreógrafo mulherengo, depressivo e apaixonado pelo trabalho.
Joe Gideon (Scheider) está para morrer de infarto, e vive num sedutor diálogo com a personificação da morte, lutando para não ser seduzido por ela. Ele então recordará de sua agitada vida, cheia de trabalho e arte e regada a cigarros, anfetaminas e mulheres.
Bob Fosse é brilhante com seu roteiro auto-centrado. Além de apresentar fatos sobre sua própria vida, seja de modo sutil ou escancarado, ele brinca com a morte de pelo menos duas maneiras: a primeira é, sendo ele um homem sedutor que já dormiu com dezenas das mais belas mulheres, personificar a morte não como um demônio, algo indesejável e assustador, mas sim como uma mulher bela, jovem e sedutora, de aparência angelical. Sua luta contra a morte é sua luta em não se deixar ser seduzido por ela, ainda deseje-a muito. A segunda é usar um filme que Joe Gideon está a produzir (filme este semelhante ao filme anterior de Fosse), para dar humor à morte e ainda por cima apresentar Joe nos cinco estágios (assista e entenderá).
Roy Scheider encarna seu personagem de uma maneira tão natural e convincente que é impossível imaginar qualquer outro ator em seu lugar. Seu rosto cansado parece carregado de uma ironia, de uma descrença, de um remorso, mas também de uma alegria, um orgulho, um tesão. É dificil explicar, como também é difícil desvendar totalmente a personalidade de Joe. O filme mostra seu lado profissional - teimoso e perfeccionista -, e pessoal, sobretudo a relação com suas mulheres. Ao longo do filme ele cria falas e diálogos memoráveis, como sobre a generosidade de seus genitais e como na cena em que pede perdão à ex-esposa e a namorada. Vemos também ele editar o filme, escalar elenco para sua peça e mostrar aos produtores uma peça que escandalizaria a sociedade, dada sua alta libidinosidade.
O restante do elenco também não deixa a desejar, seja interpretando as mulheres de Joe, os amigos, os patrões. O filme é uma aula de direção, e um show carregado de luzes, belas canções e curvas humanas.
Bob Fosse morreu, anos mais tarde, de ataque cardíaco. Fechou-se o círculo de semelhanças.
#ficaadica
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