Um filme de Billy Wilder.
Billy Wilder foi uma lenda dos anos dourados do cinema. Com vários prêmios conquistados pelos mais variados sucessos de público e de crítica, serviu como inspiração para vários cineastas de sua e das gerações seguintes. Se dava bem com os dramas e com as comédias. Em Farrapo Humano o diretor que também ajudou na criação do roteiro conta uma história dramática de um homem dependente da bebida alcoólica.
Don é um escritor fracassado, que devido ao bloquei criativo passou a consumir cada vez mais bebida, a ponto de se tornar um alcoólatra. Depois de uma longa tentativa de recuperação ele ainda não está curado. Um dia ele fica sozinho em casa, depois de um conflito com o irmão que tenta afastá-lo do vício, e nisso entra num processo de degradação física, social e moral em busca da desejada garrafa. Enquanto isso sua esperançosa namorada tenta em vão ajudá-lo.
Na época de depressão pós guerra e pós crise econômica que o filme foi lançado, o que mais havia em Hollywood eram produções alegres e otimistas, que tentavam levantar o ânimo da população e retomar o sonho americano. Farrapo Humano chega então com um drama carregado de medo, angústia, dor e sofrimento, muito distante do entretenimento e escapismo que maioria das pessoas queriam. Apesar do tiro no escuro, o filme foi um sucesso de crítica e de público e levou o Oscar.
Até então os bêbados eram estereotipados no cinema, e apresentados como criaturas divertidas e benévolas. Aí pela primeira vez na história o cinema abordou o alcoolismo como uma doença e reproduziu todo o caos e sofrimento que o problema traz à sociedade.
Além da direção sutil e constante de Wilder, o maior trunfo da película é o trabalho de Ray Milland, que mesmo num época de cinema mais teatral, consegue ser verossímil e transmitir uma tristeza e desespero enorme de sua figura. Enquanto procura por bebida seus cabelos estão desgrenhados, mãos trêmulas e olhares arregalados, revelando a enorme degradação que enfrentou. A namorada interpretada por Jane Wyman é uma mulher doce, paciente e apaixonada.
É um filme de grandes momentos, sobretudo a cena do morcego e o da sombra da garrafa sobre o lustre. É decepcionante porém o final, um deslize feio do roteiro que quebra a constância criada até então e dá um desfecho fantasioso. Mas vale muito a pena conhecer este grande clássico.
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