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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Especial - 200ª resenha: Cidadão Kane (Citizen Kane) - 1941; "o maior filme da história"

Pois é, meus leitores. Quando decidi começar este blog lembro-me de ler em algum lugar que a esmagadora maioria dos blogs duram apenas 90 dias, antes de morrerem e viverem enterrados "nas profundezas da internet". Sendo assim posso me sentir orgulhoso de já estar no nono mês, ainda vivo. Espero que daqui para a frente o site saia da gestação e viva plenamente no mundo, chegando a muitos leitores. Faço parte de uma minoria que persiste mesmo com os baixos números no Analytics e raros comentários. E hoje, para o bem ou para o mal, publico este que é o 200º texto crítico do blog (postagens são mais que isso). Já foram 200 filmes (entre longas e curtas) assistidos e comentados, uns com textos - modéstia à parte - excelentes, outros nem tanto, (principalmente os primeiros), mas que enfim indicam que estou evoluindo gradualmente minha capacidade de escrever. E sem mais delongas vamos descobrir que filme eu vos apresento hoje. 

Cidadão Kane (Citizen Kane), lançado em 1941.
Um filme de Orson Welles.
Quem já ouviu falar o nome deste filme deve saber que ele foi considerado pelo Instituto Americano de Cinema, em 1998 e novamente em 2007, como o melhor filme da história do cinema. O título se baseia em pesquisas com milhares de artistas, produtores e críticos cinematográficos. Estou longe de conhecer todos os filmes da história para poder afirmar que é o melhor, mas posso garantir que é um filme excelente e inovador, que merece sua aclamação entre críticos e público.


Numa majestosa e estranha mansão um homem está enfermo numa cama. Ele deixa cair um globo de neve logo após dizer "Rosebud" e então morre.  Na tela começa a rodar um documentário que revela quem é o falecido: Charles Foster Kane (Orson Welles), um magnata do ouro e dono de diversos jornais e outros meios de comunicação. Uma figura pública que foi amada, odiada, admirada, invejada. Então inicia o verdadeiro enredo. O produtor não está satisfeito com o resultado do vídeo e quer saber, a todo o custo, o significado de "Rosebud", qual a importância do que quer que seja isso na vida de tão grande homem para ser sua última palavra. Thompson (William Alland) é o jornalista encarregado de descobrir, e para isso irá conversar com diversas pessoas que viveram próximas a Kane e fazer outras pesquisas.

Talvez você esteja a se perguntar o que este filme tem de tão especial, por isso peço que assista o filme (se ainda não o viu) antes de terminar de ler a resenha.

Primeiramente devemos sempre lembrar que o filme é de 1941, lançado às vésperas da entrada oficial dos EUA na II Guerra, numa sociedade tradicionalista em que os jornais eram o maior meio de comunicação e de formação de opinião. E Cidadão Kane brilhantemente explora isso de modo crítico, e muito simbolista. Na época o filme foi um fracasso, e só anos depois começou a ser compreendido e aceito, tornando-se o clássico imortal que é hoje.

O protagonista, interpretado pelo próprio diretor, é um homem riquíssimo que controlava o país em seus tempos de juventude, devido a ter em suas mãos a maioria dos meios de comunicação. Sua vida privada era pública e suas ações acompanhadas pela população. A vida deste polêmico personagem (claramente inspirado na vida de um tal William Randolph Hearst, que na época ajudou a desmoralizar Welles e seu filme) é então contada a partir de fragmentos, de flash-backs aleatórios, formulados a partir dos relatos dos entrevistados do jornalista. E nisso há uma grande inovação. Welles foi o precursor dessa narrativa não-linear e moldou padrões de cinema ainda seguidos hoje, além de a fotografia da produção se valer de mais um monte de experimentações que revolucionou o modo de filmar, como ângulos e movimentos especiais da câmera e um jogo de sombras e luz e de primeiro e segundo plano. 

Mas acima de toda a técnica é que está o melhor de tudo: as entrelinhas do enredo e a "moral da história".

Kane nasceu numa família pobre que por um golpe de sorte enriqueceu. Ainda menino sua vida sofreu uma grande mudança: foi afastado da família e criado por empresários para aprender a administrar a fortuna que herdaria. Tornando-se um jovem adulto ele adquire um jornal modesto, mais como um capricho, uma rebeldia; mas acaba o tornando o mais lido do país, fruto de um jornalismo sensacionalista que agradava às massas. Logo ele tem um império midiático e uma vida carregada de fama, luxo e jogos de interesse. 
A trama gira em torno da palavra "Rosebud" que apenas no final ficamos a saber o que é, apenas nós expectadores, não as pessoas que estão no filme. Rosebud é traduzido como algo perto de 'botão de rosa', o que por sua vez é uma espécie de metáfora para clitóris (sim, clitóris! Em pleno anos 40, Welles era ousado). Rosebud era o que havia de mais íntimo, de mais secreto, na vida de Kane. "Rosebud", ainda por cima, só é pronunciado em Xanadu, o monumento ao prazer. Assim, Rosebud que na verdade é a marca do trenó que Kane possuía em sua infância, representa o último resquício da vida ingênua e feliz de Kane, antes de ser entregue a um banco. Na ocasião a vida de Kane foi interrompida, junto com a infância e com a brincadeira. Kane é vazio, não teve vida, e por isso se cerca de coisas materiais na esperança de ser amado e de lembrar da vida que ele não teve mas quis ter. Kane era rico e famoso, mas infeliz e solitário. Sua vida acabou e o último vestígio dela foi perdido, foi literalmente queimado.

Quer um filme mais atual que este de 1941? Não é esse o problema humano de hoje? A falta de sentimentos e excesso de ambição e de informação? E hoje ainda não existe a manipulação midiática e jornalismo sensacionalista e desumano?
Cidadão Kane é clássico imortal que vale cada minuto, que vale a pena ser assistido e que merece ser amado.

#ficaadica

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