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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Short Cuts - Cenas da Vida (Short Cuts) - 1993; a banalidade (bem) filmada

Short Cuts - Cenas da Vida (Short Cuts), lançado em 1993.
Um filme de Robert Altman.
Talvez o melhor dos filmes de Robert Altman (o que não é pouca coisa) seja este Short Cuts, vencedor do Leão de Ouro. O cineasta pegou um punhado de textos do contista Raymond Carver e misturou-os num só roteiro que explora tramas cruzadas. Esse estilo narrativo já fora usado antes por ele e por outros cineastas, mas foi Short Cuts que o popularizou verdadeiramente e inspirou dezenas de filmes nas últimas duas décadas, como Magnólia, Amores Brutos e Crash. Poucos foram tão bem sucedidos como este de Altman.

Estamos em Los Angeles. Uma garçonete cujo marido é um taxista bêbado atropela um garotinho, filho de um apresentador de TV que fora abandonado pelo pai. Este acontecimento está mais ou menos relacionado com diversas outras tramas, de mais de duas dezenas de outros personagens que moram na cidade e seguem suas vidas.

Este filme, esta preciosidade, é sobre pessoas comuns. É a banalidade filmada. São mais de três horas acompanhando um punhado de personagens chatos, deprimidos, com uma vida comum. Porque este é um filme sobre a insignificância da vida humana. Ou, olhando por outro lado, o poder das ações humanas, um retrato de como o acaso e o ambiente externo/ações de outras pessoas interferem em nossas vidas. Mas não se engane com esta sinopse. É um filme divertido e brilhante, vivo e cativante.

Essas pessoas juntas formam um turbulento sistema de ação/reação, de efeito dominó, de influências nas ações umas das outras. Riem, choram, trepam, traem, posam nus, pescam, passam trotes, são atropeladas, matam, morrem, suicidam, trabalham, se dedicam aos filhos, negligenciam as relações com os filhos, separam, voltam, brigam, pinta, fazem sexo por telefone, gritam, ajudam ou fazem mal a outras pessoas, fumam, mentem, trazem verdades à tona, cantam e bebem, bebem muito. Pessoas comuns tentando passar por cima da solidão, do tédio e da frustração da vida urbana na esperança de uma vida mais feliz e completa. Isso numa Los Angeles tomada por um enxame de insetos transmissores de doenças e mergulhada numa nuvem de inseticidas, onde até os palhaços são melancólicos.

E toda essa gente comum é encarnada por um elenco de grandes nomes, só para citar alguns: Frances McDormand, Julianne Moore, Robert Downey Jr. e Andie MacDowell. Altman sempre soube aproveitar bem seus atores, extrair suas potencialidades. E a montagem é incrível, rapidamente passamos de uma trama para outra e o filme mantém um dinamismo lindo. Some isso a uma trilha que é um personagem à parte (e a cantora de jazz é uma delícia de ouvir) e a uma ótima fotografia.

É difícil descrever o poder deste filme, explicar o que há de tão humano e interessante nele. E como mesmo com tanta banalidade e sentimentos ruins, é engraçado. Mas para que não se pense que é só mais um filme metido a cool que só críticos chatos e cinéfilos hipsters assistem, basta dizer que já na época teve uma boa bilheteria e hoje tem uma aprovação do público de 89%. O que quero dizer é: veja-o logo! Ainda mais se você já viu e gostou de outros filmes de mesmo estilo narrativo.

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