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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Festa de Família (Festen) - 1998; o primeiro Dogma 95

Festa de Família (Festen), lançado em 1998.
Um filme de Thomas Vinterberg.
Festen tem uma importância relativamente grande na história do cinema europeu pois foi ele o primeiro do Dogma 95, movimento criado pelos dinamarqueses Thomas Vinterberg e Lars Von Trier em 1995 com o objetivo de tornar o cinema mais realista e autoral e menos comercial.

O respeitado patriarca de uma família rica, Helge, está completando 60 anos. Um enorme jantar é oferecido num hotel de sua propriedade para os familiares e alguns amigos. A família ainda está abalada com o recente suicídio de uma das filhas, irmã gêmea de Christian. A tempos a família toda não se reunia e nem todos tem as melhores relações uns com os outros. Durante o jantar Christian faz gravíssimas acusações contra seu pai em um discurso.

Nestes tempos de eleição um assunto que tem estado em pauta, com mais evidência que nunca, é o sobre os direitos da comunidade LGBT. No meio desse debate o que não falta nem nunca faltou são pessoas mais conservadoras defendendo o modelo tradicional de família, que dizem ser o que há de mais sagrado, indestrutível e imprescindível no mundo. Festen é sobre essa configuração tradicionalista e sobre como ela não está livre de falhas.
A família de Helge é uma dessas que deu errado. Aparentemente imaculada e bem sucedida, ela vai se mostrando corrompida a medida que podemos adentrar a sua intimidade. A família que devia ser de pessoas unidas e amadas, cuja função deveria ser se proteger, vai se revelando desunida, ressentida, desconfiada. Os filhos somem por longos períodos, um deles é um fracassado na vida que não faz nada vingar, outra é uma fonte de desgostos pelo estilo de vida mais liberal, um terceiro é o queridinho bem sucedido. A mãe só se preocupa com as aparências. As paredes conhecem segredos. Mágoa, remorso, tristeza, inveja, desprezo e vingança marcam presença na solenidade.

Não pude deixar de lembrar de Quem tem medo de Virginia Woolf? e Álbum de Família enquanto eu assistia Festen: são três filmes onde a roupa suja é lavada às claras, diante de outros. São filmes para compreender a complexidade que há por traz de qualquer família. São filmes que denunciam a falsidade e a hipocrisia que permeia as relações humanas, inclusive onde elas deviam ser mais transparentes.
A trama de Festa de Família é primorosa, deliciosa.

Porém Festen não é para todos os públicos. O Dogma 95 em si já é um movimento controverso que afasta quase todo o público. Para a maioria parecem filmes chatos, difíceis, "caseiros". Isso acontece porque necessariamente devem ser produções de baixo orçamento, sem iluminação artificial, sem cenografia elaborada, sem efeitos especiais e sem tramas não-lineares, em formato 4:3. Não é toda a gente que é capaz de aturar câmeras de mão muito trêmulas, fotografias escuras (as vezes até um pouco granuladas por causa dos altos ajustes de sensibilidade necessários por causa da pouca luz, outras vezes difíceis de serem vistas de tão negras), cortes rápidos e até frenéticos. Porém para os que se arriscam mais e gostam do inesperado, do novo, é prazeroso saber que algo tão bom foi filmado.

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