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terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Futuro (The Future) - 2011; o retorno de Miranda July

O Futuro (The Future), lançado em 2011.
Um filme de Miranda July.
Infelizmente Miranda July, aqui, não foi tão feliz quanto em sua estreia como diretora em Eu, você e todos nós. Aliás, The Future não é um filme sobre felicidade. Se na sua estreia grandes doses de humor se misturavam à tristeza, aqui esse humor foi quase inteiramente filtrado, sobrando a amargura. Ainda assim é um filme interessante. Se não é melhor que seu "irmão", ao menos ainda está acima da média. E prova que a artista/atriz/diretora mantém seu olhar peculiar e sensível sobre as pessoas.

Sophie (July) e Jason (Hamish Linklater) são um casal de namorados que moram juntos e levam uma vida um tanto alternativa e conectada à internet. Juntos há anos, a relação dos dois anda fria e monótona. Os dois empurram a vida juntos com a barriga. Permanecem juntos muito mais por hábito que por vontade de continuarem unidos. Eles decidem adotar um gato doente para se dedicarem e vencerem o ócio. Depois de escolhido o animal, ainda precisam esperar 30 dias antes de poderem levar o gato para casa. Eles tem 30 dias para darem rumo em suas vidas, já que depois que chegar o gato não poderão deixá-lo.

Como em seu primeiro filme, Miranda July constrói com elementos fantasiosos ou cenas e diálogos absurdos um mundo verossímil. Ao mesmo tempo que tudo parece surreal ou pouco crível (até os dois protagonistas são construídos de forma um pouco caricata, o estereótipo do casal indie, sensíveis e hesitantes), quase tudo é muito verdadeiro. Não consigo explicar esse paradoxo. É preciso ver o filme. É preciso degustar de seu existencialismo. É um filme dinâmico, mas é cheio de passagens contemplativas, silenciosas, monótonas.
As belas e delicadas fotografias retornaram, e também a discussão sobre o papel e o peso da internet nas relações humanas. O distanciamento da realidade (embora reitero que paradoxalmente é um filme denso e sincero) também se amplia, há liberdade até para um gato falante e uma lua que conversa com a mente perturbada de Jason.

A parte mais legal é que July, aqui, critica sua própria arte. E principalmente a "arte" dos "artistas" do YouTube. Além de mostrar como bobagens logo ganham milhares de visualizações e "likes", a personagem também almeja um espaço nessa plataforma.
Já a crítica a sua própria arte vem da essência de Sophie: um choque de realidade a abala, a faz perceber que a vida é menos "bonitinha" e mais cruel do que imagina, que a dureza da vida é bem mais que aquela melancolia autoimposta (fenômeno observável no estereótipo do gótico) na qual ela vive por parecer pensar que é essa a "vibe". Esse amadurecimento tardio é algo pelo qual passa também Jason, embora ele ofereça mais resistência que ela. Dois dos momentos em que esse crescimento interior fica mais claro são a cena da dança do casulo de Sophia, feito com sua camisa (estando ela a pensar que estava num auge de inspiração artística, outro personagem flagra o momento com indiferença; e as cenas surreais que revelam o medo de Jason em encarar a nova realidade, passando horas vivendo num mundo imaginário em que para o tempo para não perder a companheira.

Na resenha que fiz de Me and You and Everyone We Know cheguei a estabelecer uma relação entre o filme e Beleza Americana. Em O futuro a sacola voando perderia a beleza e não passaria de uma sacola voando banalmente. Sophie, e porque não dizer, July, podem ter perdido uma parte da inocência e da poesia interior, do olhar infantil que acha tudo novo e belo. Mas ganharam em amadurecimento e autoconhecimento.

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