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sábado, 12 de julho de 2014

Deus e o Diabo na Terra do Sol - 1964; o cinquentão do Cinema Novo

Deus e o diabo na terra do sol (Deus e o diabo na terra do sol), lançado em 1964.
Um filme de Glauber Rocha.
Influenciados pela Nouvelle Vague e pelo neorrealismo italiano, no final dos anos 50 alguns cineastas brasileiros começam a produzir um cinema mais autoral e independente. Surgia o movimento Cinema Novo. Um dos nomes mais representativos nessa vanguarda foi Glauber Rocha, sobretudo com seu Deus e o diabo na terra do sol, que completa 50 anos de lançamento. O filme foi indicado à Palma de Ouro e ainda hoje é reconhecido como um dos maiores filmes brasileiros já produzidos.
No final dos anos 30 Manoel e Rosa vivem no árido sertão da Bahia, em estado de miséria. Depois de ser explorado por um latifundiário, Manoel o mata e foge com sua esposa para Monte Santo, onde um profeta, "São" Sebastião, conduz uma legião de fieis miseráveis numa revolução contra a injustiça social e por um caminho de sacrifícios que diz ser o da salvação divina. Antônio das Mortes é contratado pela Igreja e pelos grandes fazendeiros para matar o profeta e acabar com alguns cangaceiros.

Glauber Rocha não esconde as referências à Guerra de Canudos, ocorrida cerca de quatro décadas antes do enredo do filme. Inclusive o conflito e suas consequências são citadas várias vezes na obra. Canudos foi uma comunidade liderada pelo líder religioso Antônio Conselheiro no finalzinho do século XIX, no sertão baiano, onde milhares de sertanejos e ex-escravos foram viver na crença de uma melhora de vida que era prometida por ele. A cidade foi massacrada pelo exército. No filme essa história se repete, uma estratégia do diretor para mostrar como a miséria e a desigualdade não melhorara desde então. O cangaço também aparece no filme: um dos protagonistas, Corisco (personagem histórico que inspirou o diretor a realizar o filme) é o sobrevivente do massacre que matara Lampião e Maria Bonita.

Sebastião é um lunático que promete aos sertanejos miseráveis um novo tempo de fartura e boa-aventurara.
Mas sua insanidade chega a levar os fieis, inclusive Manoel, a cometerem sacrifícios enormes, crimes e assassinatos. Quem se mantém preso à razão, caso de Rosa, é condenado pelos outros fieis. Já Antônio é o mais racional e passa por uma crise existencial. É um filme de paradoxos, de antagonismos. Mas seja do lado de Deus, seja do lado do Diabo, a vida no sertão é de violência e sofrimento.

Foi de modo novo e muito pessoal, mas também fortemente inspirado pelos westerns americanos, que Glauber Rocha filmou. A fotografia natural dos cenários áridos, feita com câmera de mão, realiza alguns movimentos bem peculiares, alguns deles belos, como os giros que acompanham os personagens.
Giro este que também é dos mais teatrais. Aliás, Deus e o diabo na terra do sol é bastante teatral. O filme é cheio de improvisações, monólogos, atores falando de modo sempre sussurrado ou eloquente de mais, falas pouco críveis ou descartáveis.

A trilha sonora mistura a música clássica de Villa-Lobos com canções de cordel que como radionovelas narram os acontecimentos. Não achei a obra assim tão unanimemente boa, mas com toda a certeza é um filme que vale a pena assistir, não só pela qualidade mas também por sua importância no cinema nacional.

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