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domingo, 22 de junho de 2014

Quando os Homens São Homens (McCabe & Mrs. Miller) - 1971; desconstruindo a imagem clássica do velho oeste

Quando os Homens São Homens (McCabe & Mrs. Miller), lançado em 1971.
Um filme de Robert Altman.
Recém saído de Cannes com a Palma de Ouro em mãos, por MASH, Altman filmou o western McCabe & Mrs. Miller. Assim como no trabalho anterior que lhe deu fama, o filme rompeu com padrões de Hollywood e saiu carregado de ironia e humor negro. Mais tarde o próprio cineasta declarou que a obra era na verdade anti-western, "porque o filme ignora ou subverte uma série de convenções do gênero". 

1902, estado de Washington. John McCabe (Warren Beatty), apostador de pôquer, chega em uma vila onde, principalmente sob a fama de ser um pistoleiro, adquire respeito e influência. Ele começa a construir um bordel e se torna sócio de Mrs. Miller (Julie Christie), que promete administrar os recursos humanos do empreendimento. Cheia de classe, ela torna o lugar sofisticado e conquista John. Uma grande mineradora tenta comprar o negócio, mas diante da resistência de McCabe, contrata um matador para eliminá-lo.

Nos anos 70, o gênero de faroeste já havia perdido muita de sua força. Em parte pelas pouca inovações que os filmes do gênero tiveram ao longo de todo o século XX. A fórmula sempre repetida, dos vaqueiros se perseguindo a cavalo e se matando em paisagens áridas, já cansava o público. Também nesse período houve uma grande mudança no cinema norte-americano. Vários cineastas, influenciados pela Nouvelle vague, abraçaram um cinema mais autoral e tentaram se afastar dos moldes hollywoodianos: Spielberg, Coppola, Scorsese, Bob Fosse, Kubrick, Polanski , Woody Allen e Altman. 
McCabe & Mrs. Miller, então, difere de outros westerns anteriores por buscar desfazer e desmitificar alguns clichês do gênero, mostrando de outro ângulo a conquista do oeste norte-americano.

McCabe é um homem ambicioso mas pouco instruído. Como todos os colonizadores do oeste, busca prosperidade econômica. E também status, por isso se vangloria de façanhas e mitos criados em torno de sua figura. Mas dinheiro não é tudo, por isso é um homem solitário e triste.
Aliás, Quando os Homens São Homens é um filme melancólico. Nele há uma certa tristeza que se mantém mesmo nas cenas mais espirituosas ou rápidas. Os personagens não estão muito felizes. Vivem em busca de dinheiro e ascensão social, o que não os completa. Esse olhar crítico e irônico de Altman, em vez de engraçado é triste. A suposta realização do sonho americano não é capaz, por si só, de fazer as pessoas felizes. Isso quem diz não sou eu, e sim um punhado de historiadores, economistas, sociólogos, escritores, músicos e cineastas. A segunda metade do século XIX foi marcada pela emigração em massa de pessoas para o oeste, ainda pouco explorado. Qual o preço pago e de que modos isso foi feito?
Esse olhar para o capitalismo ainda é explorado de outras formas. Se McCabe fosse real, teria sido contemporâneo de John Ford. Assim como o empresário pagava bem seus funcionários para que eles mesmos comprassem os carros que produziam, McCabe pagava seus homens o suficiente para que pudessem se deitar com as prostitutas.

Mas originalidade da obra está mesmo em desconstruir algumas das práticas comuns do gênero. Em vez de um oeste árido e infernal, aqui estamos num local chuvoso onde neva no inverno. Em vez dos machões corajosos que ou são mocinhos ou bandidos, temos homens ambíguos cheios de temores. Os romances não vingam muito bem e aqui a donzela dá lugar a uma prostituta que faz questão de cobrar do homem que ama. Em vez do escarcéu gerado nas vilas pelos duelos combinados, há uma perseguição desconhecida de todos.
Toda essa dramaticidade, que diretamente envolve os belos trabalhos do elenco, sobretudo dos dois protagonistas, é trabalhada por Altman também com movimentos de câmera, amplas capturas, zooms e closes indiscretos.

Sim, este é um dos grandes filmes de Altman.
#ficaadica

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