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terça-feira, 3 de junho de 2014

José e Pilar (2010); o final da vida de um gênio

José e Pilar (José e Pilar), lançado em 2010.
Um documentário de Miguel Gonçalves Mendes.
Sendo fã da obra de José Saramago e do homem que ele foi, sou suspeito para falar algo assim, mas José e Pilar é um dos documentários mais belos e emocionantes que já vi. E essa é uma opinião quase unânime entre quem já viu a obra. Lançado poucos meses depois da morte do escritor, este documentário acompanha alguns momentos dos seus últimos três anos de vida e seu relacionamento com a esposa Pilar del Río. Para os fãs do escritor um lindo filme para trazer saudade, para os não fãs, uma bela oportunidade de conhecê-lo melhor.

Nobel de Literatura, Saramago foi um dos intelectuais mais polêmicos e respeitados do final do século XX e início do XXI. Comunista e ateu ele sempre deu declarações fortes que exaltavam os ânimos. Em um de seus livros, "O evangelho segundo Jesus Cristo" (leitura que recomendo), ele reconta o mito bíblico de Jesus de Nazaré sob outra perspectiva, carregada de críticas à Igreja Católica. Para resumir o escarcéu que o livro gerou: Saramago se auto exilou numa ilha espanhola. No filme pode-se ver que ele tinha uma legião de admiradores e outra de detratores. Mas muito mais que alfinetadas, ele levantava questões e refletia sobre política, filosofia e amor. Era um humanista. Apesar da fama de pessimista, acreditava que o mundo podia ser melhor

Acompanhamos parte do processo de escrita de um de seus romances, "A viagem do elefante", a criação da Fundação José Saramago e até o lançamento de adaptações para teatro e cinema de obras suas, inclusive a estreia de Ensaio sobre a cegueira (e não é porque o próprio autor gostou da adaptação que mudo minha opinião negativa sobre o filme). Também acompanhamos o ritmo frenético do casal, sempre em viagens para o exterior para participar dos mais variados eventos.

Já com 85 anos o escritor (que como nos livros é irônico e engraçado ao mesmo tempo que é sisudo) fala sobre a brevidade vida, sobre sua obra, o modo como vê o mundo de belezas e de desgraças, sobre a proximidade da morte. Este último tema o mais amplo, e também o mais belo e emocionante, principalmente porque o acompanhamos cada dia mais debilitado pela idade avançada, mesmo assim ativo.

Mas a parte mais bonita é o amor gigantesco que Saramago tinha pela esposa, a quem dedicou praticamente todos os livros que já lançou.  
Ela também parece ter um sentimento muito forte pelo marido, embora seja quase impossível não ficar com um pé atrás com ela ao acompanharmos algumas de suas ações. Quase trinta anos mais jovem que ele, ela acaba por sobrecarregá-lo ao fazer com ele consiga acompanhar seu ritmo, já que ela é quem controla sua agenda e boa parte do trabalho complementar. Concordo totalmente quando ela diz que não poderia colocar o marido numa cadeira e cobrir as pernas com um cobertor, como um inválido, mas também me parece radical responder a um convite, sem antes nem consultar o marido, dizendo que ele iria nem que fosse numa cadeira de rodas.
Seja como for, era sua musa inspiradora. 

Em vez dos típicos documentários em tom didático, com recortes de notícias e entrevistas com um punhado de gente envolvida, José e Pilar acompanha a rotina do escritor entre 2006 e 2009. Momentos banais do dia-a-dia dele com a esposa são mostrados, assim como momentos importantes na vida de ambos nesse meio-tempo. Por vezes os dois dão alguns depoimentos diretamente para a câmera, mas na maior parte do tempo ela apenas espia discretamente. O resultado é uma espécie de crônica. Saber que tudo aquilo é real aumenta ainda mais a magia da coisa.
Não bastasse isso o processo de montagem ficou muito bacana. E a fotografia é BELÍSSIMA.

Vale a pena conhecer ainda mais um homem que foi apaixonadíssimo pela esposa, pela vida e pelo seu trabalho. 

#ficaadica

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