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segunda-feira, 26 de maio de 2014

A Caça (Jagten) - 2012; o poder destrutivo de um equívoco

A Caça (Jagten), lançado em 2012.
Um filme de Thomas Vinterberg.
O dinamarquês Thomas Vinterberg é mais conhecido por ter, junto ao polêmico Lars von Trier, criado o movimento cinematográfico Dogma 95 (sob o qual, parcialmente, Dogville foi filmado). A obra mais aclamada de Vinterberg, inclusive, é um dos poucos filmes que de fato respeitam todas as regras: Festa de família. Embora contenha traços do Dogma, A caça é mais tradicional, mas não menos angustiante e incômodo.

Lucas (Mads Mikkelsen) é divorciado e por problemas financeiros aceita trabalhar no jardim de infância da cidadezinha dinamarquesa onde vive. Ele é adorado pelas crianças, em especial a pequena Klara, filha de seu melhor amigo. A menina, contrariada pela rejeição do professor quando ela o beija (ele explica que aquilo não deve ser feito) acaba falando para a diretora algo que ela havia ouvido o amigo do irmão dizer enquanto via pornografia. Imediatamente ele se torna suspeito de pedofilia, o que acaba se agravando e tornando sua vida um inferno.

Há pouco tempo a jornalista Rachel Sheherazade fez polêmica ao, supostamente, defender a ação de justiceiros. Independente de qual foi a real intenção do comentário a fala foi uma estupidez que, supostamente, aumentou um pouco os casos de linchamento no país(¹). Não faltam notícias de equívocos, onde inocentes foram agredidos pela população. Embora menos violento A caça funciona do mesmo modo, num conto moralizante sobre como não se deve precipitar conclusões graves e deixar as investigações e a justiça com a lei (isso é válido mesmo no Brasil, onde as coisas não acontecem com a eficiência da Dinamarca).

Vinterberg é natural ao filmar, preferindo uma iluminação mais realista, cenas silenciosas, pouca trilha sonora. O modo como ele fotografa e conduz a narrativa acompanha um pouco do enredo, iniciando com cenas mais alegres que vão se tornando mais pesadas na medida que o drama aumenta. Jagten não deixa a mínima dúvida da inocência do professor. O trabalho competente de Mikkelsen lhe valeu a Palma de Ouro. Essa certeza da inocência que temos se torna em revolta na medida que o professor vai sendo alvo de injustiças. Ninguém ouve sua versão dos fatos. Ninguém ouve a garotinha quando ela volta atrás e diz que falou algumas besteiras sem pensar.
No entanto é preciso se colocar no lugar dos outros personagens, que não possuem essa certeza; uma suspeita grave como a de pedofilia não pode ser simplesmente ignorada, mas é preciso bom senso e cautela para evitar problemas maiores pois crianças mentem, fantasiam e não têm muita noção do que é certo, do que é errado, do que se espera delas. O próprio ambiente de criação da garota contribuiu para os problemas, os pais brigam e não lhe dão atenção e o irmão mais velho é meio sem noção. Esses fatores indiretamente contribuíram para tantos problemas. A ingênua menina não foi vítima de abuso, mas assim como Lucas teve a vida realmente abalada a partir do momento que as pessoas tomaram conclusões precipitadas. Nesse ponto é impossível não lembrar do ótimo Desejo e Reparação onde uma mentira infantil destrói a vida de várias pessoas, inclusive da própria criança. A caça é um alerta para termos mais prudência nos pré-julgamentos e sobre como a justiça com as próprias mãos é nociva à sociedade. A cena derradeira mostra que, assim como em Atonement, alguns erros são irreparáveis.
#ficaadica

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