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quarta-feira, 19 de março de 2014

Salò ou Os 120 Dias de Sodoma (Salò o le 120 giornate di Sodoma) - 1975; perversão humana e crítica ao fascismo

Salò ou os 120 Dias de Sodoma (Salò o le 120 giornate di Sodoma), lançado em 1975.
Um filme de Pier Paolo Pasolini.
Polêmico desde antes de ser lançado - há quem acredite que o assassinato de Pasolini, pouco antes do lançamento, foi por causa do filme -, Salò ou os 120 dias de Sodoma foi proibido em vários países, devido a seu conteúdo brutal que mostra cenas de tortura, estupro, nudez aos montes e todo tipo de violência física, moral e sexual. Não é um filme fácil, nem é para todos os públicos. Além de forte e perturbador o ritmo é cansativo e a obra não oferece muitos atrativos em relação à narrativa ou as atuações (a maioria ruim, embora deva se considerar que um filme como este não é todo ator que tem coragem de participar e por isso boa parte do elenco nem é composto por atores profissionais).
É baseado na obra do controverso Marquês de Sade, mudando poucas coisas em relação ao livro.

A Ítália, depois de declarar guerra aos Aliados em 1940, sofreu grandes derrotas. Logo tropas aliadas controlavam boa parte do país e em 1943 Mussolini foi deposto (e a Itália, como sabem, mudou de lado e se voltou contra o Eixo). Mas com ajuda de Hitler, Mussolini conseguiu criar um pequeno estado nos territórios ainda livres das tropas alemãs e britânicas, a República de Salò. É na curta vida dessa república que o filme de Pasolini se ambienta. Quatro homens unem suas fortunas e com o dinheiro levam moças e rapazes sequestrados, prostitutas velhas que contam histórias horrendas e soldados "bem dotados" para uma mansão isolada, onde eles podem se aproveitar dessas pessoas e realizar as mais sórdidas fantasias sexuais.

Poucos filmes conseguem chocar tanto quanto Salò, choque que continua mesmo depois que se termina de assistí-lo. Mas Pasolini não choca apenas por chocar, para causar rebuliço. Por trás de Salò há uma forte crítica, que por vezes se mostra explícita em algumas passagens. 
A maior crítica é ao capitalismo. Diz um dos personagens, eventualmente:

Só quando eu vejo a degradação dos outros, é que me alegro...
Enquanto homens forem iguais, sem esta diferença, a felicidade não pode existir...
Em todo o mundo, nenhuma volúpia lisonjeia mais os sentidos do que o privilégio social.

As vítimas dos quatro poderosos são instrumentos de prazer (prazer que ninguém parece sentir, nem eles próprios. O sexo sempre é vazio e frio). São objetos de consumo, um consumo que vai muito além do corpo, mas da dignidade humana. 
Também há uma visão pessimista do mundo e da humanidade, que não se abstém de praticar o mal e se aproveitar do mais fraco. No filme, as vítimas são obrigadas a aprenderem a também serem cruéis e depravados, e alguns de fato aprendem.
No mais também é muito fácil perceber uma dura crítica ao fascismo (que controla o povo submisso) e à ditadura religiosa praticada pela Igreja.

Nós Fascistas, somos os verdadeiros anarquistas.

O desrespeito aos atos religiosos,
por qualquer um, será punido com a morte.
(é irônica a hipocrisia dessa fala)


Não é um filme fácil, mas é uma obra de importância histórica que os cinéfilos menos sensíveis deverão querer conhecer.

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