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quinta-feira, 27 de março de 2014

Dogville (idem) - 2003; entre riscos de giz, o ser humano

Dogville (Dogville), lançado em 2003.
Um filme de Lars von Trier.
Considerado por muitos como a obra prima de Lars von Trier, dinamarquês que é um dos cineastas mais escandalosos dos últimos vinte anos, criando uma legião de fãs e detratores de sua obra, Dogville é um filme peculiar, que desfaz o sonho americano e mostra um lado não tão bonito da humanidade, de uma forma bem vanguardista e teatral.

Estamos na década de 30, durante a Grande Depressão iniciada com a quebra da bolsa em 29, num vilarejo chamado Dogville, onde vivem umas 20 pessoas pobres. Uma noite uma misteriosa mulher, Grace (Nicole Kidman), chega ao vilarejo fugindo de gangsters. Ela é amparada por Tom (Paul Bettany), um intelectual metido a escritor e a filósofo. Ele convence a comunidade a dar duas semanas para Grace provar que é uma boa pessoa. Se todos gostarem dela ela pode morar em Dogville e eles a ajudam a se esconder dos criminosos e da polícia, do contrário tem de ir embora. Eventualmente ela é aceita, mas a medida que passa o tempo sua situação fica pior e o tratamento que recebe vai mudando.

O que chama logo a atenção para Dogville é seu cenário: num galpão escuro há uma espécie de plataforma iluminada. Nessa plataforma há desenhada uma espécie de planta, indicando onde existe uma casa, um cão ou até uma groselheira. Há alguma porta, janela, ou pedaço de parede, mas quase tudo fica a cargo da imaginação do espectador. Apesar dessa falta de cenários concretos incomodar um tanto, ele tem papel importante ao nos dar uma sensação de onipresença e onisciência (sim, nós cinéfilos podemos ser deuses!) maior que a que muitas vezes temos no cinema convencional. Também é capaz de mostrar como ao mesmo tempo as pessoas estão cada uma em seu próprio mundo, indiferentes ao que acontece fora.
Essa loucura toda exige dos atores, muitas vezes, verdadeiras mímicas. E o elenco se destaca, sobretudo, claro, Nicole Kidman. A protagonista é doce e paciente, que por medo ou apatia fica passiva frente aos abusos que recebe.

Mas não para por aí. A crítica nas entrelinhas (acredite, ela é fácil de ser identificada, mas é retratada de modo bem discreto, quase cínico - uma história com direito a narrador e envolvendo uma mulher aparentemente ingênua não costuma levar suspeitas sobre seu conteúdo) é grande. Eu não duvido que Trier seja um homem muito deprimido e pessimista. Em Dogville ele mostra claramente sua visão negativa sobre a humanidade. Aos poucos as pessoas vão mostrando seu pior lado, antes mascarado: gente violenta, preconceituosa, egoísta e hipócrita. Retratando um período negro da economia americana, cheio de gente infeliz e pouco próspera, Trier também ri do sonho americano.
O que houve de críticas negativas foram muitas, mas, como era de se esperar, quase todas de críticos americanos. No restante do mundo foi um pouco melhor recebido, ou, ao menos, menos hostilizado pela crítica. Plateia nem tanto, não faltam relatos de que nos cinemas brasileiros as pessoas vaiavam, riam e faziam comentários sarcásticos em voz alta e boa parte deixava a sala antes do final. Há também quem diga que a obra defende vingança e violência, mas na minha opinião essa é uma interpretação simplória, precipitada e, se me permitem um julgamento tão pretensioso, tola.  

Minha impressão é de que é uma obra única e riquíssima, incrível apesar de desagradável. Mas obviamente não é um filme para todos os públicos, nem todo mundo é capaz de engolir um filme tão silencioso e um cenário mais simples que os de teatro. Sem falar nos exageros da trama, que busca identificação por parte do público mas não muita verossimilhança.

 #ficaadica

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