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terça-feira, 25 de novembro de 2014

2001 - Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey) - 1968; um milagre do cinema

2001 - Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey), lançado em 1968.
Um filme de Stanley Kubrick.
Uma das mais famosas e importantes obras de Kubrick, 2001 nos conduz por uma complexa trama de ficção que mistura passado e futuro para questionar a origem do homem e a evolução humana. Até hoje se discute o que o diretor, que também co-escreveu o roteiro, queria dizer com seu filme, lançado um ano antes do homem chegar á lua.


Estamos na pré-história onde um grupo de macacos (ou quase isso) luta para sobreviver, tendo predadores, pouco alimento e rivalidade com outros grupos como ameaça. Eles dormem num buraco no chão e quando acordam se deparam com um misterioso bloco negro gigante e perfeitamente retangular. Pouco depois um dos macacos descobre a utilidade de um osso como ferramenta e como arma. Saltamos milhões de anos no tempo e estamos numa avançada estação espacial envolvida numa pesquisa secreta relacionada a descoberta de um bloco identico ao anterior na superfície da lua.

Já de cara a excêntrica mas genial e inesquecível seguência dos macacos, batizada como "A Aurora do Homem", mostra que o filme não é dos mais comuns e que na época de seu lançamento era ainda menos. Observar os macaquinhos na sua vidinha de animal no meio do nada é no mínimo intrigante. Onde Kubrick quer nos levar com isso? Ele queria nos levar até a antológica cena onde o primeiro macaco, o Adão não bíblico, descobriu uma ferramenta primitiva que lhe deu vantagem diante dos outros animais e dos grupos rivais. De fato estamos diante da aurora da humanidade, o passo maior da evolução. Curiosamente, minutos depois, uma não menos famosa transição ocorre: o osso que se convertera em arma é arremessado ao alto, onde dá lugar a imagem de um satélite militar, uma arma futura. Será um modo de Kubrick dizer que no fundo não evoluimos tanto assim, já que continuamos a usar nosso potencial para matar e destruir?

Passado o choque (ou não) dessa abertura fascinante, começa o espetáculo visual e auditivo.A beleza do espaço sideral criado por Kubrick nos anos 60 pouco perde em realismo e técnica para o recente Gravidade. O mais incrível é que estávamos a décadas da computação gráfica, mesmo assim, do modo mais difícil e artesal possível, o cineasta criou um belíssimo universo. Quero ver Cuarón sem uma equipe de editores equipados com computadores poderosíssimos fazer algo ao menos parecido. Esse espetáculo de cores e luz vem acompanhado por uma imponente trilha sonora, tão grandiosa quanto o universo que ela ilustra. Depois o silêncio total. Um astronauta que não sei mais quem, ao lhe perguntarem o que é mais marcante lá em cima, respondeu que é o total silêncio. Kubrick recria o silêncio enquanto perambula pelo ambiente de uma nave espacial onde astronautas entediados caminham de cabeça para baixo. Repito: na época que em foi filmado os computadores existentes perdiam para sua calculadora de R$1,99; querendo ou não, 2001 é um milagre do cinema. Não é à toa que Kubrick é considerado um dos deuses da sétima arte.

Depois ainda conhecemos HAL, computador inteligente capaz de sentir emoções, a mais avançada máquina já criada até então. HAL é de enorme importância na trama, que flui calma por duas horas e meia de filme. O final amado e odiado por muitos, tão ou mais intrigante que o começo, é daqueles psicóticos.


Muito além de diversão e efeitos especiais, o filme de Kubrick é de questionamentos e instigações.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Do Jeito Que Ela É (Pieces of April) - 2003; onde assar o peru?

Do jeito que ela é (Pieces of April), lançado em 2003.
Um filme de Peter Hedges.
Alguns filmes não tem um bom motivo para existirem, para terem sido filmados. Este é um deles. Não faltam por aí filmes piores, este Pieces of April (que assisti por engano, queria era Abril Despedaçado (post em breve)) ao menos tem uns momentos divertidos, que geram sorrisos sinceros, e atuações interessantes de Katie Holmes (como uma jovem mulher que é a ovelha negra da família e tem uma relação muito problemática com a mãe) e Patricia Clarkson (a mãe, decadente por causa de um câncer em estado avançado que endureceu ainda mais seu coração).

April (Holmes) vive no subúrbio de Nova York com o namorado. Ela mal tem contato com sua família, não tendo uma relação muito saudável com os irmãos - sobretudo a irmã - e muito menos com a mãe (Clarkson) que está morrendo. Numa tentativa de fazer com o que é possivelmente o último dia de Ação de Graças da vida da mãe seja realizado com toda a família, April se oferece para fazer o banquete em sua casa. Mas ela não sabe cozinhar, seu forno falhou e tirando seu pai, ninguém quer ir até sua casa.

O dia de Ação de Graças é um feriado norte-americano que já virou clichê no cinema e televisão. Existem milhares de filmes e episódios de séries e animações abordando tal data e os costumes dela. Pieces of April não oferece nada novo. Temos aqui a velha receita da família disfuncional que durante o feriado se ajusta. E embora April seja uma personagem interessante e bem construída por Katie Holmes, é também muito datada. Suas roupas e até mesmo seu comportamento rebelde são o estereótipo dos anos 2000. 11 anos depois já não inspira muita empatia. Por outro lado, sendo o câncer doença que mata desde que o mundo é mundo, a mãe vivida por Clarkson continua atual, verdadeira. Tentando manter um resto de orgulho próprio esta mulher não mede as piadas ácidas sobre seu estado e nem poupa a família de comentários maldosos. E não posso deixar de dizer que a irmã de April é uma intrigueira chata e invejosa.

Hedges também erra ao estereotipar o namorado de April e enfiá-lo numa cena violenta sem sentido, sem benefício algum para o roteiro, muito pelo contrário. O estilo do cineasta de fotografar e narrar é bem comum, embora seja de cores e iluminação agradáveis. O terceiro ato vem de forma brusca e incompleta, algo que as más línguas dizem ter acontecido por falta de mais dinheiro para a produção. O filme custou uma pechinchinha.

Pieces of April tem suas boas cenas, como a divertida via sacra do peru assado e a cena em que Clarkson num banheiro vê uma garotinha onde reconhece a filha. 
Mas nada que valha muito a pena.
Se na próxima semana quiser passar o dia de Ação de Graças (sempre comemorada na quarta quinta-feira de novembro) vendo um filme sobre esta data, não faltam opções melhores. Mas também não faltam piores. A escolha é sua.

sábado, 8 de novembro de 2014

Adeus, Lênin! (Good Bye, Lenin!) - 2003; mentiras e mudanças

Adeus, Lênin! (Good Bye, Lenin!), lançado em 2003.
Um filme de Wolfgang Becker.
Está aí um filme que divide opiniões. Alguns o veem como uma crítica ao socialismo, já que mostra o declínio da ideologia na Alemanha Oriental e mostra a suposta mentira que foi todo aquele governo. Outros veem o filme como uma nostalgia daqueles anos, que inclusive chegou a acometer vários alemães que viveram o antigo regime e se desiludiram, passada a admiração inicial, com o sistema capitalista. Creio eu ser uma mistura dos dois. Coincidentemente, é amanhã, dia 9/11/2014 que os alemães celebram os 25 anos da queda do muro.

Estamos na Berlim de 1989, a poucas semanas da queda do muro que dividiu a cidade entre parte socialista e capitalista desde a década de 60, no contexto da Guerra Fria e da divisão da Alemanha em duas. O jovem Alexander faz parte da juventude que se opõe ao governo e defende e a liberdade de viajar para o outro lado. Porém sua mãe, mulher de ideias socialistas que inclusive possui reconhecimento oficial do governo pela sua luta em favor da ideologia, ao ver o filho ser agredido pela polícia enquanto marchava, teve um ataque que a deixou de coma por vários meses. Debilitada após acordar, ela não pode sofrer choques emocionais, sob risco de morrer. Então o filho esconde dela a reunificação do país sob regime capitalista e tenta recriar um ambiente que permita enganar sua mãe quanto às mudanças pelas quais passou o país.
Nestes tempos onde duas dúzias de antas falam em erguer um muro a separar o Brasil em dois países independentes, o norte "petralha" que "quer ser Cuba" e o sul dos "trabalhadores" e "gente de bem" , este filme é ainda mais pertinente para ser visto. Esta comédia dramática de Becker explora a grande desgraça que foi a construção do muro. No auge da Guerra Fria, que polarizara o mundo entre capitalismo e socialismo, cometeu-se o absurdo de separar uma cidade com um muro de ódio que desuniu casais, amigos e famílias inteiras, por quase trinta anos ou para sempre.
No entanto é mais sobre o declínio da Alemanha Oriental e de todo o bloco socialista. Não é à toa que a queda do muro é o maior símbolo do fim da Guerra Fria. Através das mentiras que o jovem conta à mãe para poupá-la (e que para isso gasta um bom tempo e trabalho) é possível compreender melhor o que foi a vida dos alemães dos dois lados da fronteira e como a reunificação mexeu com as suas vidas. Bem como vivenciar junto aos personagens aquele período de transição. Transição que melhorou a vida das pessoas do leste por um lado (mais liberdade individual, direito à propriedade), mas que trouxe resultados negativos por outro (elevação do desemprego, fim das políticas sociais que garantiam um mínimo de dignidade e conforto a toda a população).
A discrepância era tão grande que ainda hoje, passados 25 anos, é nítida as diferenças sociais entre as duas partes de Berlim e há uma certa raiva entre eles.


No mais o filme diverte e emociona, embora bem menos que o esperado. Eu não engoli Alexander muito bem, pareceu-me um personagem fictício demais. E ainda preciso viver mais para decidir se uma mentira é mesmo justificável só porque é para fazer o bem a alguém.
No entanto tem-se que elogiar o cineasta pelo modo que conduz a trama, fluida, fácil de acompanhar, equilibrada. E também a tilha sonora de Yann Tiersen, o mesmo da trilha de O fabuloso destino de Amélie Poulain, inclusive a música mais famosa deste filme está em Goodbye, Lenin.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Short Cuts - Cenas da Vida (Short Cuts) - 1993; a banalidade (bem) filmada

Short Cuts - Cenas da Vida (Short Cuts), lançado em 1993.
Um filme de Robert Altman.
Talvez o melhor dos filmes de Robert Altman (o que não é pouca coisa) seja este Short Cuts, vencedor do Leão de Ouro. O cineasta pegou um punhado de textos do contista Raymond Carver e misturou-os num só roteiro que explora tramas cruzadas. Esse estilo narrativo já fora usado antes por ele e por outros cineastas, mas foi Short Cuts que o popularizou verdadeiramente e inspirou dezenas de filmes nas últimas duas décadas, como Magnólia, Amores Brutos e Crash. Poucos foram tão bem sucedidos como este de Altman.

Estamos em Los Angeles. Uma garçonete cujo marido é um taxista bêbado atropela um garotinho, filho de um apresentador de TV que fora abandonado pelo pai. Este acontecimento está mais ou menos relacionado com diversas outras tramas, de mais de duas dezenas de outros personagens que moram na cidade e seguem suas vidas.

Este filme, esta preciosidade, é sobre pessoas comuns. É a banalidade filmada. São mais de três horas acompanhando um punhado de personagens chatos, deprimidos, com uma vida comum. Porque este é um filme sobre a insignificância da vida humana. Ou, olhando por outro lado, o poder das ações humanas, um retrato de como o acaso e o ambiente externo/ações de outras pessoas interferem em nossas vidas. Mas não se engane com esta sinopse. É um filme divertido e brilhante, vivo e cativante.

Essas pessoas juntas formam um turbulento sistema de ação/reação, de efeito dominó, de influências nas ações umas das outras. Riem, choram, trepam, traem, posam nus, pescam, passam trotes, são atropeladas, matam, morrem, suicidam, trabalham, se dedicam aos filhos, negligenciam as relações com os filhos, separam, voltam, brigam, pinta, fazem sexo por telefone, gritam, ajudam ou fazem mal a outras pessoas, fumam, mentem, trazem verdades à tona, cantam e bebem, bebem muito. Pessoas comuns tentando passar por cima da solidão, do tédio e da frustração da vida urbana na esperança de uma vida mais feliz e completa. Isso numa Los Angeles tomada por um enxame de insetos transmissores de doenças e mergulhada numa nuvem de inseticidas, onde até os palhaços são melancólicos.

E toda essa gente comum é encarnada por um elenco de grandes nomes, só para citar alguns: Frances McDormand, Julianne Moore, Robert Downey Jr. e Andie MacDowell. Altman sempre soube aproveitar bem seus atores, extrair suas potencialidades. E a montagem é incrível, rapidamente passamos de uma trama para outra e o filme mantém um dinamismo lindo. Some isso a uma trilha que é um personagem à parte (e a cantora de jazz é uma delícia de ouvir) e a uma ótima fotografia.

É difícil descrever o poder deste filme, explicar o que há de tão humano e interessante nele. E como mesmo com tanta banalidade e sentimentos ruins, é engraçado. Mas para que não se pense que é só mais um filme metido a cool que só críticos chatos e cinéfilos hipsters assistem, basta dizer que já na época teve uma boa bilheteria e hoje tem uma aprovação do público de 89%. O que quero dizer é: veja-o logo! Ainda mais se você já viu e gostou de outros filmes de mesmo estilo narrativo.