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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland) - 2006; conhecendo um pouco do íntimo de um ditador

O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland), lançado em 2006.
Um filme de Kevin Macdonald.
Baseado no livro homônimo do britânico Giles Foden, este drama histórico mostra um dos mais sanguinários ditadores africanos, Idi Amin - que governou a Uganda entre 71 e 79 - sob o ponto de vista de um médico fictício que se torna próximo a ele. Forest Whitaker, que interpreta Amin, levou o Oscar de melhor ator pelo magnífico trabalho.

Nicholas Carrigan (James McAvoy), um jovem escocês, acaba de se formar em medicina. Ele parte para Uganda, em busca de aventura e de prestar serviço humanitário. Ele chega num período conturbado, no qual um golpe militar de Amin, do alto escalão militar, o coloca no poder. Ele acaba conhecendo Amin ao lhe prestar um pequeno atendimento médico. Sua personalidade encanta ao presidente, que lhe convida a ser seu médico pessoal e ajudar no planejamento de uma melhora no sistema de saúde. Acreditando nas promessas que ele ao povo, o médico decide ajudar. Mas com o tempo ele conhece o pior lado do ditador e acaba se envolvendo em problemas ao ter um caso com uma das esposas do presidente.

Estima-se que pelo menos 100 mil pessoas (o valor pode ser cinco vezes maior) morreram durante do governo de Amin, mas aqui o personagem não é visto como um vilão. Muito bem desenvolvido, o personagem mostra também seu lado pessoal e humano, com suas qualidades e ambiguidades, numa atuação soberba de Whitaker. Mas a brutalidade do regime também tem espaço na trama, que a medida que avança se torna cada vez mais tenso.

Macdonald, que já havia ganhado notoriedade com seus documentários (inclusive ganhou um Oscar por um deles) e dirigido um filme para televisão, tem aqui seu primeiro longa de ficção. É visível um certo ar de documentário que o filme - histórico - possui, o que deixa a obra ainda melhor. A direção é competente e explora bem o ótimo roteiro de Peter Morgan e Jeremy Brock. E é injusto tirar McAvoy dos elogios, quase tão bom como Whitaker e tem papel fundamental no sucesso do filme.

#ficaadica

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Marley & Eu (Marley & Me) - 2008; choroso, meloso mas gostoso

Marley & Eu (Marley & Me), lançado em 2008.
Um filme de David Frankel.
Este filme, de certa forma, dispensa muitos comentários: é um filme que toda a gente já viu.
Embora não tão inspirado quanto a obra antecessora de Frankel, O Diabo veste Prada, ele consegue ir além do que se espera dele, e embora esteja muito longe do adjetivo "perfeito" que garotas adolescentes costumam atribuir a ele, definitivamente não é um filme ruim (vejam que nem quando criança eu gostava de filmes protagonizados por cães, hoje menos ainda). Baseado num best-seller autobiográfico homônimo, este blockbuster melodramático conseguiu agradar a quase todos que o assistiram, unindo passagens divertidíssimas com cenas chorosas mas sinceras.

John (Owen Wilson) e Jenny (Jennifer Aniston) adotam um cão para "testarem" se serão capazes de cuidar do filho que planeja ter. Em homenagem a Bob Marley batizam o cão de Marley. Mas a medida que cresce o cão se torna cada vez menos comportado. Acompanhamos então a vida dessa família durante treze anos, período no qual passam por problemas pessoais e vivem diversos momentos com Marley.

O filme não é exatamente a coisa mais verossímil que há, algumas coisas são bem artificias (o comportamento do cão é meio exagerado, por exemplo), menos uma: o amor que nós seres humanos criamos pelos nossos bichos. Talvez isso seja seu ponto mais forte, dificilmente o filme deixa de tocar quem tem ou já teve um cão (só quem já amou um cão pode entender o que é isso; eu tive uma cadela, que precisou ser sacrificada e embora não fosse um Marley, também me irritava as vezes com algumas coisas que fazia).

A parte dramática do filme se estende também ao desenvolvimento de seus personagens, ao longos dos anos o casal vai mudando seu modo de enxergar a vida e seus planos para ela, um acerto do roteiro isso de retratar a dinâmica da vida e dos sentimentos humamos. Jennifer Aniston segura essa carga dramática e puxa Wilson (que afinal, é comediante) com ela.
Mas é inegável que o bom humor da obra é importantíssimo, e nessa parte, naturalmente, é Wilson que se destaca. 

É comercial e meloso, mas é leve e divertido. Bom para um domingo (isso se você já não o viu na Temperatura Máxima)

#ficaadica

sábado, 25 de janeiro de 2014

Terror sem Limites (Srpski film) - 2010; doentio

Terror sem limites (Srpski film), lançado em 2010.
Um filme de Srđan Spasojević.
O filme acima tem pouquíssimas coisas boas. Uma delas é que é admirável que o diretor e os atores tenham tido a coragem de gravar algo assim. Em entrevistas posteriores ao lançamento deste filme - que figura, com razão, na lista dos filmes mais polêmicos da história - o diretor explicou que o objetivo de sua obra era criticar a sociedade sérvia (todos devem saber o que acontece entre Sérvia e Kosovo, na região da ex-Iugoslávia, onde sentimentos nacionalistas e ideais separatistas geram violência) e principalmente o cinema do país, que vive numa época de "politicamente correto" e não inova em nada. Mas de boas intenções o inferno está cheio.

Milos é um ator pornô aposentado das câmeras, ele está em dificuldades financeiras. Considerado por alguns fãs como um artista, um dos melhores atores pornográficos, ele é convidado (por uma boa quantia) a participar de um filme que um de seus admiradores e entusiasta da pornografia quer gravar. Mas ele percebe que aquele não é um filme normal como os de antigamente.

Proibido em diversos países devido à grande violência e pelas cenas chocantes (inclusive no Brasil, que só permitiu a exibição mais de um ano depois e onde o filme foi alvo de uma atitude vergonhosa da Petrobras, que patrocinava o festival onde ele seria exibido), o filme, que passaria quase despercebido, ficou conhecido pela publicidade negativa e imediatamente toda a gente queria ver o que ele tinha de especial para tal censura. Pessoalmente acho um absurdo terem o proibido, por mais que não tenha gostado, ainda mais por acusarem-no de algo que ele definitivamente não faz, pelo contrário, critica: violência e pedofilia.

Recheado de cenas repugnantes que causam grande asco, Terror sem limites (título brasileiro horrível) não é para qualquer um (olha que já vi de tudo em filmes, não me escandalizo facilmente mas foi inevitável o choque que essa obra produz). Na verdade só o recomendo a quem realmente gostar de cinema pesado e sem pudor.
Além da trama difícil de entender (não a trama em si, difícil entender o motivo para ela ser como é) ele peca pela fluidez (o filme começa como uma comédia escrachada, com um pirralho vendo pornografia estrelada pelo pai, vai criando uma tensão que demora mais de meia hora para realmente começar a acontecer algo e depois o final atropela - e massacra - tudo). O ator principal, Srđan Todorović, não me pareceu nem um pouco a vontade com o papel (e não é para menos) e a trilha sonora foi exageradamente usada.
Mas justiça seja feita: a fotografia é boa, Spasojevic tem certo talento, que poderia ser usado num filme menos barulhento, e no fundo ele consegue fazer o que queria: chocar o público e criticar a sociedade de seu país.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Curta-metragem: O Assassino Terrivelmente Lento Com a Arma Extremamente Ineficiente (The Horribly Slow Murderer with the Extremely Inefficient Weapon) - 2008; mais que um título longo

O Assassino Terrivelmente Lento Com a Arma Extremamente Ineficiente (The Horribly Slow Murderer with the Extremely Inefficient Weapon), lançado em 2008.
Um filme de Richard Gale.
Esse vídeo fez muito sucesso na internet na época de seu lançamento e ganhou alguns prêmios em alguns festivais de curta-metragens. De modo muito divertido e sarcástico ele realiza uma espécie de paródia de trailers de grandes produções épicas ou de suspense. Vale a pena conferir.

Infelizmente não encontrei-o legendado em português com uma qualidade muito boa. Preferi compartilhar aqui o vídeo com o áudio original e a legenda em espanhol, que acredito que todos podem compreender sem maiores problemas. Caso ainda prefira a legenda em português, pode assistir clicando aqui, mas a qualidade é inferior.
Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Silkwood - O retrato de uma coragem (Silkwood) - 1983; luta sindical

Silkwood - O retrato de uma coragem (Silkwood), lançado em 1983.
Um filme de Mike Nichols.
Entre os mais conhecidos trabalhos de Nichols, que assina filmes como Quem tem medo de Virgínia Woolf? e A primeira noite de um homem, está Silkwood, a cinebiografia de Karen Silkwood, uma técnica em um laboratório de enriquecimento de plutônio que se tornou uma ativista que lutava pela segurança nesses ambientes e que morreu por causas suspeitas. Embora não tão intenso e como Virginia nem tão simpático e descontraído como The Graduate, o filme dá certo pela icônica atuação de Meryl Streep (sua personagem acabou virando uma das grandes heroínas do cinema) e pelo belo suporte de Cher e Kurt Russell.

Karen Silkwood trabalha numa empresa que produz combustível nuclear. As duas pessoas que moram com ela, o namorado Drew Stephens e a amiga Dolly Pellike, também trabalham na empresa. Ela tem problemas com o ex-marido e sente dificuldades em poder ver os três filhos que tiveram. Preocupada com sua segurança de seus colegas, já que a empresa burlava algumas diretivas de segurança, ela se torna uma ativista sindical e procura provas para incriminar a empresa. Enquanto isso sua relação com o namorado e a amiga - que é lésbica e levou uma companheira para viver com ela - vai se desgastando.

Karen é popular no trabalho, a início é apoiada pelos colegas na sua luta sindical (sua maior motivação veio depois de ela e uma amiga sua foram contaminadas com material radioativo), mas depois passa a ser vista com repulsa, pois suas ações podem fechar a fábrica e deixar a todos desempregados. O tempo que ela gasta em reuniões e viagens com o sindicato acaba afastando ela do namorado e a levando a outros problemas pessoais. Só que o próprio sindicato não se preocupa muito com sua a e nem sequer realiza a fiscalização das fábricas, claramente estando mais interessados na publicidade que o escândalo geraria. Streep consegue encarnar Karen muito bem e consegue a admiração do público. Seu magnetismo sustenta o filme. Cher também nos dá uma agradável surpresa, num trabalho sincero e humano.

O problema é que Nichols e a montagem não conseguem levar muito bem a trama. O filme é longo, muitas vezes monótono (você se distrai facilmente) e muito imparcial - o posicionamento político dele é pouco definido e algumas questões, como a morte de Karen, devem ser decididas pelo público. Por outro lado o diretor acerta por contar não um caso cheio de suspense e sensacionalismos, mas sim a história de uma vida humana.

#ficaadica
P.S.: Não posso deixar de deixar registrado por escrito que "O retrato de uma coragem" é um dos piores títulos brasileiros que já inventaram.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A ponte do rio Kwai (The Bridge on the River Kwai) - 1957; a estupidez humana

A ponte do rio Kwai (The Bridge on the River Kwai), lançado em 1957.
Um filme de David Lean.
Falar sobre esse filme é complicado. Como dizer com palavras (sem fazer um texto muito longo) o quão fantástico é este filme, sem parecer puxa-saco?
David Lean, um dos diretores mais importantes da história do cinema, que assina pelo menos meia dúzia de obras soberbas que hoje são grandes clássicos (do qual The bridge on the river Kwai faz parte) filmou essa superprodução em plena década de 50 (tempo no qual os produtores eram quem realmente decidiam como seria uma obra; o cinema autoral foi ganhar verdadeiro espaço a partir dos anos 60) e uniu esplendor visual  à seriedade e inteligência ao contar uma história.

Estamos na atual Tailândia, no meio no nada, em plena II Guerra, onde vários soldados britânicos são prisioneiros de guerra dos japoneses. Eles são obrigados a construírem uma ponte ferroviária sobre o rio Kwai, comandados pelo oficial japonês Saito. Após duras negociações, percebendo que a obra não ia para frente, Saito aceita deixar o comando nas mãos do também prisioneiro cel. Nichoson (Alec Guinness) , que está interessado não em ajudar o inimigo mas em manter seus homens ocupados com um trabalho. Enquanto isso o exército britânico tem outros planos.

Produzido quando a poeira da II Guerra ainda assentava e a guerra fria estava em seu ápice, A ponte do rio Kwai mostra toda a estupidez humana com seus conflitos sangrentos. Inclusive toda a estupidez do contexto em que foi filmado deixou uma marca que precisou de anos para ser revelada: os verdadeiros autores do roteiro (Carl Foreman e Michael Wilson) não foram creditados, pois eram considerados comunistas e estavam sendo investigados pelo governo norte-americano. Nos créditos o roteiro era apontado como de Pierre Boulle, autor do livro que originou o longa.
A mentira pelo menos serviu para que a película fosse homenageada com sete Oscar, inclusive o de melhor roteiro adaptado.

E o roteiro é mesmo um dos maiores êxitos, inteligentíssimo, cheio de diálogos memoráveis, vivos, filosóficos, cheios de ironias explícitas e, principalmente, implícitas. O tempo todo é explicita a posição de Lean sobre tudo aquilo: a guerra é uma insanidade, no mínimo uma grande parvoíce empurrada com a barriga de homens que a defendem com discursos sobre honra e glória. Mesmo o cel. Nicholson - interpretado magistralmente por Alec Guinnes, no maior papel de sua carreira - com seus atos corajosos, heroicos, pode ser visto como um louco obsessivo cegado pelo orgulho.
Além de conteúdo, o filme é belíssimo. Fotografia deslumbrante, grandes planos dos cenários, paisagens exóticas, cenografia e figurino impecáveis. A explosão e a queda foram reais, nada de efeitos especiais. A trilha sonora também é ótima.

Tudo imponente, grandioso. Sem dúvidas um dos melhores épicos de sempre.
#ficaacida

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Curta-metragem: Ela e o seu gato (Kanojo to kanojo no neko) - 1999; amor e inocência

Ela e o seu gato (Kanojo to kanojo no neko), lançado em 1999.
Um filme de Makoto Shinkai.
Este pequeno curta japonês, o primeiro de Makoto Shinkai, nos apresenta uma espécia de crônica, narrada por um gato. Apaixonado pela dona, ele acompanha seu sofrimento sem enteder realmente o que está acontecendo com ela. Uma pequena fábula de amor e inocência.

Caso o player abaixo dê problemas, assista o vídeo aqui.

Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

domingo, 12 de janeiro de 2014

A Viagem para Darjeeling (The Darjeeling Limited) - 2007; redenção e busca espiritual

A Viagem para Darjeeling (The Darjeeling Limited), lançado em 2007.
Um filme de Wes Anderson.
Lembram do curta-metragem Hotel Chevalier? Aquele é o prólogo para este filme aqui (que pode ser visto e compreendido sozinho sem problemas, embora valha a pena assistir ao curta; basta clicar no link acima). Ambos são de Wes Anderson, conhecido pelas suas tragicomédias e com uma legião de fãs ao redor do mundo.

Depois de seu breve encontro com a namorada em Paris (isso acontece no curta), Jack (Jason Schwartzman) vai para a Índia a pedido do irmão Francis (Owen Wilson). Chegando lá ele descobre que o irmão Peter (Adrien Brody) também foi chamado. Acontece que a relação dos três não é muito boa e já não se viam a muito tempo. Francis explica que armou aquela viagem para fazerem as pazes e percorrerem o país numa viagem espiritual, a bordo do trem Darjeeling Limited.

Anderson molda uma história comovente e engraçada, cheia de situações absurdas e escrachadas. O trem em que viajam, além de colorido e excêntrico, é luxuoso. Um trem maravilhoso no qual a maioria das pessoas gostaria de viajar pelo mundo. Lá há alguns coadjuvantes peculiares, que em maior ou menor grau se envolvem com nossos personagens.
Eles, por outro lado, não escondem a fragilidade de suas personalidades e os problemas pelo quais passam. Francis arrebentou o rosto num acidente de moto (que parece ter sido uma tentativa de suicídio) e anda enfaixado como uma múmia. Com a segunda chance que teve de continuar a viver ele procura uma espécie de redenção e tenta resgatar os vínculos com os irmãos. Jack só pensa na sua relação com a namorada e Peter está inseguro, tinha planos de se divorciar da esposa que não ama e descobriu que ela está grávida. 

Mais tarde no filme descobrimos que a viagem ainda tem um significado oculto que Francis não quis revelar aos irmãos, que também tem haver com as relações familiares deles (aliás, a família sempre foi disfuncional).
Anderson nos conduz nessa viagem agradável pela Índia, lugar que exerce fascínio pela sua cultura diferenciada, exótica e mágica. Nela acompanhamos de perto os três irmãos com suas loucuras e seus dramas. Vale lembrar que os três atores dosam muito bem suas atuações.

Visualmente o filme é lindo. Além de colorido e cheio de texturas, quase somos capazes de sentir o cheiro dos cenários (inclusive numa fala há uma pequena homenagem ao pais, na qual o personagem diz que nunca vai esquecer do doce cheiro da Índia); uma experiência sinestésica que ainda conta com interessantes câmeras-lentas, cortes rápidos e uma incrível fotografia dentro do trem (não sei nem como explicar o que acontece para a imagem ficar tão legal nos corredores estreitos da locomotiva). Só vale lembrar que o bom humor do filme não é daqueles de se dar gargalhadas.

#ficaadica

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Fale com ela (Hable con ella) - 2002; amor, obsessão e morte

Fale com ela (Hable con ella), lançado em 2002.
Um filme de Pedro Almodóvar.
Aos poucos vou conhecendo a obra do espanhol Almodóvar; ainda não vi nenhum filme dele do qual não tenha gostado ao menos um pouco. Fale com ela é um de seus mais aclamados trabalhos. Como outros trabalhos do diretor, é recheado com uma trama peculiar - deliciosamente absurda, mas cheia de vida e temas densos - contada com estilo, destreza e uma fotografia viva (mas um pouco menos quente e colorida que a de outros filmes seus).

O enfermeiro Benigno, apaixonado em segredo por Alicia, cuida dela por anos, no hospital no qual ela vive de coma desde que sofreu um acidente. Paralelo a isso Marco conhece e se apaixona por Lydia, uma toureira transtornada com a recente separação de seu namorado. Uma tragédia aproximará essas quatro pessoas. Depois de juntas, outras surpreendentes reviravoltas abalarão ainda mais suas histórias.

Não é exagero dizer que dos realizadores vivos Almodóvar é um dos que tem mais talento para unir drama e comédia (mistura que poucas vezes vinga). Mais que isso, ele é, talvez, o único a nos entregar melodramas absurdos e receber de volta nossa gratidão. A maioria de seus filmes não teriam dado certo nas mãos de outros. Seus contos são improváveis, mas ele nos faz acreditar neles e nos arranca emoções sinceras.

Fale com ela não é diferente. Temos cobras na cozinha, mulheres toureiras sendo pisoteadas, enfermeiros que parecem gays mas que nutrem amores insolúveis por bailarinas moribundas, entre outras peculiaridades que juntas formam um enredo imprevisível até a última cena. 
Com grande sensibilidade ele nos apresenta dois homens que criarão uma amizade a partir da semelhança das tragédias que ocorreram em suas vidas. São unidos pela empatia de ambos amarem suas mulheres, embora lidem de modos distintos com a situação. Amor que é belo, mas egoísta. Porém esse é só mais um sentimento humano dos tantos que Almodóvar explora nesse filme - principalmente amor, compaixão e incomunicabilidade (por meio de metalinguagem, com outras formas de arte, ele mostra que a comunicação nem sempre depende de palavras, mas de sentimentos). Ele explora como poucos a alma humana e seus dramas, mesmo assim toda essa loucura da história rende um belo humor excêntrico que dá leveza à obra.
Sexualmente falando, este filme é mais leve quando comparado com alguns outros do diretor, mesmo assim ele aborda o tema, filma nus belíssimos e torna cenas sensuais quando isso parece improvável. Aliás, a sensualidade é uma de suas marcas registradas.
A fotografia aqui está um pouco mais sóbria (mas ainda assim, viva e alegre), a trilha sonora é certeira, a cenografia menos colorida mas impecável e o trabalho de montagem irretocável (há vários flashbacks). Do elenco merece destaque o trabalho de Javier Cámara (Benigno).

Só não entendi para quê tanta referencia ao Brasil. Um personagem cita Tom Jobim, Caetano aparece num show intimista cantando em espanhol um clássico do mexicano Tomas Mendez (cena belíssima) e há na trilha uma música de Elis Regina.

#ficaadica