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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O jardineiro fiel (The Constant Gardener) - 2005; a exploração na África

O jardineiro fiel (The Constant Gardener), lançado em 2005.
Um filme de Fernando Meirelles.
Nestes últimos dias a mídia tem discutido muito a polêmica do uso de animais em testes de cosméticos e remédios. Mas e usar seres humanos? Baseado no livro homônimo de John le Carré, The constant gardener denuncia (ou pelo menos tenta) a exploração da população africana miserável pela indústria farmacêutica com seus testes de medicamentos na população.

Justin Quayle (Ralph Fiennes) é um diplomata britânico vivendo no Quênia. Lá sua esposa Tessa (Rachel Weisz), uma ativista dos direitos humanos, é assassinada e ele investiga, por si só, as causas de sua morte. Descobre então que ela estava envolvida numa investigação sobre a atuação de uma indústria farmacêutica multinacional em território africano.

Já ao começar a assistir este filme a primeira coisa que me veio a cabeça foi outro filme: Diamante de Sangue, lançado um ano depois do filme de Meirelles. Ambos tratam sobre a exploração na África por empresas e governos do primeiro mundo, ambos se perdem num ritmo confuso, ambos retratam um romance desnecessário, ambos se jogam num ritmo frenético de thriller e violência deixando a denúncia social em segundo plano e fazendo pessoas desaparecem numa luz desfocada.

Meirelles, em sua estreia no exterior, seguindo o livro, narra a história de modo não linear, fragmentando a trama e enchendo-a de flashbacks para gerar suspense. Coloca uma câmera ágil na mão, mostra a pobreza e a sujeira coloridas da periferia urbana queniana. Nisso ele acerta como em Cidade de Deus: O jardineiro fiel é um thriller capaz de entreter, com uma dose de melodrama que é para sensibilizar o público (vide os flashbacks do romance e o epílogo). No entanto não vai muito além de um suspense e sua denúncia parece querer dar respostas prontas para a AIDS na África e a exploração. Como o filme e sua trama não nos deixa tão indignados quanto deveríamos ficar, Meirelles joga a câmera no rosto de crianças surradas e pobres, tentando causar nossa simpatia.
Ralph Fiennes me deixa confuso: hora aparece tentando ser engraçado mas na maior parte do filme é um britânico frio, imerso em sua jardinagem, sem ver o que acontece ao seu redor. Rachel Weisz, por seu papel, levou um Oscar de atriz coadjuvante; realmente sua atuação é uma das mais notáveis, mas nada que justificasse o prêmio, principalmente considerando que venceu Catherine Keener e Michelle Williams, irrepreensíveis em seu Capote e Brokeback Mountain, respectivamente. Há ainda vilões inescrupulosos (nada pior que este tipo de personagem num filme como esse.

O jardineiro fiel até é um filme decente, capaz de entreter, mas infelizmente não é nada memorável como Cidade de Deus. Ao menos não é um lixo como o seu sucessor no portfólio do diretor: Blindness.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Curta-metragem: Coisas de Pássaros (For the Birds) - 2000; aqui se faz, aqui se paga

Coisas de Pássaros (For the Birds), lançado em 2000.
Um filme de Ralph Eggleston.
Já falei bem da Pixar aqui tantas vezes que já estou sendo chato. Mas é inegável o talento da produtora, e For the birds é mais um curta dela; vencedor do Oscar 2002 de melhor curta de animação.
Uma história simples e curta, mas divertida e com excelentes gráficos (note os detalhes de renderização do fio e das penas dos personagens).

Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

sábado, 26 de outubro de 2013

Funny Girl - Uma garota genial (Funny Girl) - 1968; uma atuação intensa, mas um filme fraco

Funny Girl - Uma garota genial (Funny Girl), lançado em 1968.
Um filme de William Wyler.
A primeira vez que ouvi falar em Barbra Streinsand foi há alguns anos, quando ouvi seu famoso dueto com Celine Dion, Tell Him. Pensei, Que voz bela a dessa cantora. Funny Girl, dirigido por William Wyler, diretor de Ben Hur, é sua estreia no cinema; que já de cara lhe rendeu o Oscar de melhor atriz, dividido com a lendária Katharine Hepburn, no primeiro - e até o momento único - empate da história da categoria do prêmio. Adaptação do musical homônimo da Broadway, Funny Girl é a cinebiografia de Fanny Brice, atriz e comediante norte-americana de sucesso nos anos 20 e 30, morta em 1951.

Fanny Brice nasceu numa família nova-iorquina humilde, sonhando ser uma artista. No início de sua vida adulta consegue um emprego num cabaré, onde encontra Nick Arnstein, seu futuro marido. Com sua bela voz e senso de humor consegue fama até ser convidada a trabalhar com o renomado produtor teatral Florenz Ziegfeld. Com ele sua carreira deslancha, sendo que boa parte de seu sucesso foi por desobedecer as ordens do produtor e levar humor para peças dramáticas. Mas sua vida pessoal passa por alguns problemas.

Pessoalmente acredito que Barbra Streisand, assim como vários outros cantores que eu poderia citar, melhorou sua voz a medida que envelheceu. Quem ouviu Tell Him, gravada nos anos 90, pode observar que sua voz está mais bela do que em sua famosa The way we were, dos anos 70, que por sua vez está bem melhor que neste filme de 98. Mas nele, mesmo com uma voz menos interessante, ela toma tudo para si. É a estrela, é o filme. Além dela ninguém mais é notado, nem Omar Sharif. Quando ela canta vamos às alturas, mas num geral o filme é muito chato, principalmente a segunda parte, onde quase não há canções, apenas melodrama. Sem falar que é um filme longo sem motivos para sê-lo, arrastados 150 minutos com pouca coisa interessante e uma trama previsível.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Shortbus (idem) - 2006; uma inesperada celebração do envolvimento humano

Shortbus (Shortbus), lançado em 2006.
Um filme de John Cameron Mitchell.
Em 1989 Steven Soderbergh lançou Sexo, mentiras e videotape, um filme maduro sobre a sexualidade humana; poucos anos depois da descoberta da AIDS. Depois da crise da doença, o sexo se tornou um tabu ainda mais forte do que já era no cinema não pornográfico. Mas recentemente o tema tem aparecido com mais naturalidade e frequência. Em Shortbus John Cameron Mitchell, que também assina o roteiro, usa o sexo para nos contar uma história cheia de bom humor e reflexivo drama. E além do tema da sexualidade, tem outras semelhanças com o filme de Soderbergh: frustração sexual, filmadoras e diálogos francos.

Na Nova York pós 11 de setembro, James e Jamie estão pensando em abrir a relação deles e para conhecerem outras pessoas. A partir dessa ideia decidem procurar uma espécie de sexóloga para conversarem, Sofia Lin. Nesse breve contato ela confidencia aos clientes que nunca teve um orgasmo, mesmo ela e o marido tendo uma vida sexual agitada. Então eles a convencem a visitar o clube Shortbus, uma espécie de cabaré comandado pelo mais famoso travesti nova-iorquino, Justin Bond (interpretado por ele mesmo), onde, além dos espetáculos, ocorrem orgias, entre outras atividades sexuais liberais. Lá ela conhece uma dominatrix que vai tentar ajudá-la.

Shortbus já se inicia com uma memorável sequência de cenas: ao som alegre do jazz de Anita O'Day passeamos por uma maquete animada de Nova York, espiando algumas janelas. Um brilhante prólogo. Depois inicia-se divertidas tramas paralelas mas altamente dependentes uma das outras e coexistentes (não como Crash), envolvendo diversas pessoas e sua vida sexual.

Assim como fez Nagisa Oshima nos anos 70, em seu O império dos sentidos (inclusive John Cameron Mitchell faz uma pequena mas inteligente homenagem ao filme de Oshima, muito fácil de ser identificada), Mitchell usa o sexo real e explícito apenas como mais um elemento que compõe a trama, tratado com naturalidade, sem buscar a excitação sexual do público, como faz a pornografia. Apesar de altas doses de humor bastante inteligente, capaz de arrancar boas gargalhadas, Shortbus é, na verdade, um drama intenso e humano sobre intimidade. Ele nos mostra como somos impenetráveis em todos os aspectos da vida, fechados em nossos próprios dramas. Os corpos se despem e também se despem as almas, seja em vídeos, em conversas dentro do armário ou em spas. Pena que o roteiro dá alguns deslizes e algumas das tramas são mal desenvolvidas assim como algumas ações parecem pouco críveis.
Shortbus é um dos filmes mais honestos sobre o 11 de setembro, mostrando a desolação e aparente falta de esperança da população jovem da metrópole.

O filme foi gravado com uma série de atores desconhecidos, profissionais ou amadores (pois o diretor diz, com razão, que as estrelas de cinema não fazem sexo para as câmeras), mas a escolha do elenco foi feita com cuidado e mesmo que, claro, uns foram melhores que outros, as interpretações surpreendem positivamente. A fala do prefeito, por exemplo, de pouquíssimos minutos, foi tão carregada de emoção, de uma sabedoria que só a velhice é capaz de dar, de auto-perdão, que só por ela o ator merecia uma indicação a um Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante.

Apesar de num primeiro momento parecer que o filme está defendendo práticas fetichistas, Mitchell apenas defende um envolvimento sem pudores e traumas: ele nos mostra que nem sempre o sexo é o suficiente, mas nos convida a nos libertar e sermos felizes.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Curta-metragem: Parcialmente Nublado (Partly Cloudy) - 2009; um belo e colorido conto de amizade

Parcialmente Nublado (Partly Cloudy), lançado em 2009.
Um filme de Peter Sohn.
Essa jóia do Pixar nunca foi lançada nos cinemas, tendo sido distribuída como bônus do DVD de Up e nos cinemas antes da exibição. Uma pena é que este filme poderia ter levado alguns prêmios, é de longe um dos melhores curtas da produtora. 
Uma animação belíssima e divertida. Com uma história linda, capaz de emocionar.


Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

domingo, 20 de outubro de 2013

A fita branca (Das weiße Band) - 2009; violência gera violência

A fita branca (Das weiße Band), lançado em 2009.
Um filme de Michael Haneke.
Os trabalhos de Michael Haneke são marcados pela crueza com que expõe os fatos. São filmes densos, perturbadores, sem trilha sonora, distantes, arrastados. Nada de floreios, nada de misericórdia. A fita branca, uma de suas mais aclamadas obras, vencedora da Palma de Ouro em Cannes e de um Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, segue essa receita. Belo e perturbador.

Um narrador nos conta fatos que presenciou. Às vésperas da I Guerra Mundial, numa vila alemã, algumas crianças crescem inseridas num ambiente marcado pelo controle moral e religioso, pela autoridade patriarcal e por uma hierarquia social. Alguns eventos estranhos começam a ocorrer, como ataques violentos a duas crianças e um médico que quase morre depois de seu cavalo tropeçar num arame propositalmente colocado em seu caminho. O narrador é o professor das crianças e ele tenta desvendar os mistérios.

Entre as inúmeras causas que impulsionaram a II Guerra, estava o sentimento revanchista da Alemanha, que havia perdido a Primeira. Isso, somado a um forte nacionalismo alemão, permitiu a propagação da ideologia nazista. Mas na visão de Haneke antes do primeiro conflito já se instalava um clima favorável ao nazismo e ao holocausto. 
O título do filme se refere a um símbolo de pureza adotado na trama como forma de castigo. Uma pureza que já não existe e que a própria fita ajuda a eliminar. Rodeados de atrocidades cometidas pelos adultos, muitas vezes em nome de uma moral e de um fé tolas (que ao invés de educar gera medo e frieza) e repreendidos com violência por pequenas falhas, as crianças, futura geração nazi, crescem carregadas de ódio e intolerância. 
A bela fotografia em preto e branco, a ausência de trilha sonora, a lentidão no qual o filme se desenvolve, a distancia da câmera; tudo isso intensifica a frieza do filme. O tema é universal, estamos na Alemanha mas poderia ser qualquer outro país, violência sempre gera mais violência. As respostas não nos são dadas, cabe a cada um sua própria interpretação. Mas o filme de Haneke é tão distante, tão pessimista, que de certa forma parece estar não a denunciar, mas a ser um cúmplice de tanta crueldade.

De Michael Haneke só conheço o filme acima e Amor; mas lendo um pouco sobre esse polêmico austríaco soube que sua obra é marcada por filmes sobre a violência. A fita branca mostra uma visão pessimista do diretor, que parece acreditar na ideia de que o ser humano é ruim por natureza. Compreendi, então, que Amour, de certa forma, é uma espécie de redenção do cineasta pois, apesar de denunciar alguns problemas sociais, é muito mais humano, mostra que pode existir amor e compaixão entre os seres humanos.
Embora a tese de Haneke possa ser equivocada, seu filme merece ser assistido; seja bela fotografia, pelas atuações infantis notáveis, pela trama intrigante que não dá respostas fáceis ou pelo estilo peculiar do diretor filmar.

#ficaadica

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Duas Mulheres (La Ciociara) - 1960; tempos difíceis

Duas Mulheres (La Ciociara), lançado em 1960.
Um filme de Vittorio De Sica.
O Brasil e o resto do mundo, exceptuando-se, claro, os Estados Unidos, lamentou quando em 1999 Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar de melhor atriz por Central do Brasil, perdeu o prêmio para Gwyneth Paltrow. Decepção semelhante tivemos este ano quando Emmanuelle Riva perdeu a estatueta para Jennifer Lawrence. Em ambos os casos, a maioria absoluta do público e da crítica achou injusta a escolha. Em ambos os casos as atrizes foram prejudicadas por falarem línguas latinas e estrearem filmes de língua não inglesa. Em apenas duas ocasiões o prêmio ultrapassou a barreira da língua, e a primeira foi em 1962, quando a italiana Sofia Loren levou o prêmio por Duas mulheres, do diretor Vittorio De Sica, um dos diretores precursores do neo-realismo italiano, que assina o clássico Ladrões de bicicleta. A segunda, mais recente, foi a premiação de Marion Cotillard para Piaf - Um Hino ao Amor.

Durante a II Guerra a viúva Cesira (Loren) e sua filha Rosetta vivem em Roma, onde administram um armazém. Diante dos bombardeios que a cidade recebia, Cesira decide abandonar a capital durante algum tempo, levando a filha para o interior da Itália, onde ela própria havia nascido e crescido. Com dificuldade e depois de quase serem mortas elas chegam ao destino, onde um homem de ideais comunistas, Michele (Jean-Paul Belmondo), se apaixona pela viúva.

La Ciociara é baseado no romance homônimo de Alberto Moravia. Seu ponto mais notável é o trabalho de Loren, que levou seu nome ao reconhecimento internacional. Com muita naturalidade (embora, claro, nos anos 60 o cinema ainda tinha vestígios das interpretações teatrais, um tanto exageradas) ela dá vida a uma jovem mulher, muito forte e determinada, quase inabalável, cujo maior propósito é proteger o que mais ama, a filha. Sua coragem é tanta que chega a ameaçar oficiais fascistas com uma pedra. É a fera protegendo a prole.

Ambientado na Itália da II Guerra, De Sica nos mostra a guerra do ponto de vista da população, com todos os problemas que o conflito trouxe para o povo, bem como a divisão interna da população: uma parte politicamente ativa, defendendo o fascismo ou alguma outra ideologia, e a maioria indiferente a tudo, desejando apenas o fim do conflito, da violência, da fome. Ninguém é, exatamente, um herói ou um vilão, apenas pessoas a seguir uma ideologia política. Essa não divisão entre "bem e mal" ficará clara no dramático episódio dos muçulmanos: forças aliadas fazendo mal para a população civil. A belíssima fotografia em preto e branco sempre cria planos dos planaltos italianos, mostrando a desolação e medo que existe neles, e sempre valoriza Loren. La Ciociara é um filme que merece ser assistido.

#ficaadica

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Maria Bethânia - Maricotinha Ao Vivo - 2002; a apoteose

Já que o blog se chama "O que assistir hoje à noite?", me atrevi a resenhar um DVD musical - que afinal, também é para se assistir, mesmo que a melhor parte seja ouvir. Espero que gostem da novidade.

Maricotinha Ao Vivo, lançado em 2003. Apresentação ao vivo de Maria Bethânia.
Direção de Fauzi Arap. Gravado em novembro de 2002 no Canecão; Rio de Janeiro.
É possível não se apaixonar perdidamente por Bethânia depois de vê-la cantar "Casinha Branca", sentada num degrau do palco, com um sorriso de orelha a orelha? Ou depois de vê-la cantar "Baila Comigo", de Rita Lee, se deitando esparramada no chão durante o verso "e tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol..."? 

Maricotinha ao Vivo é a estréia da cantora numa gravadora independente onde ainda hoje persiste, a Biscoito Fino. Mas mais importante que isso é a comemoração de 35 anos de carreira da baiana. O DVD junta dois espetáculos feitos na mais famosa casa de shows do Rio, o Canecão; onde a mais inoxidável voz da MPB mostra o porquê de ser considerada, por muitos, a maior intérprete da história da música brasileira.

O disco possui quase 50 faixas, entre canções e poesias. Ela empresta sua voz e dá vida a poemas de Fernando Pessoa, Ferreira Gullar, entre outros, intercalando os versos com músicas. Isso, apesar de dar toda uma magia ao show, por vezes incomoda, como quando ela canta Fotografia, de Tom Jobim, declama um poema, e só então solta o último verso da música. Mas nós a perdoamos quando ela, em seguida, inicia Anos dourados, também de Jobim.
Os ouvidos mais atentos perceberão um trecho de Não quero ver você triste, de Roberto Carlos, antes dela se meter a cantar Nossa Canção, música imortalizada em sua voz. Outros grandes sucessos de sua carreira estão no disco, como Álibi (Djavan), Fera Ferida (Erasmo e Roberto) e Negue (Adelino Moreira).


Bethânia, além da MPB, oscila entre o samba e o pop-rock, passando pela bossa e dando feições nordestinas ao arranjo de algumas músicas. Ela resgata músicas velhas mas também prova que nem tudo está perdido, interpretando músicas recentes (para a época do show) como Depois de ter você e Pra rua me levar, esta última de Ana Carolina. Do irmão Caetano Veloso, temos O quereres, que leva o público ao derílio.
Passa por Gilberto Gil (Se eu morresse de saudade, cantada com perfeição), Gonzaguinha (Festa), Dorival Caymmi, que assina MaricotinhaSábado em Copacabana - que ela canta antes de fazer uma declaração de amor ao compositor baiano e à praia de Copacabana - e chega até em Cazuza em Todo amor que houver nessa vida, uma das melhores interpretações da noite. De Chico Buarque ela canta músicas como Apesar de você, Rosa dos ventos, De todas as maneiras e Sob medida.

Liderada por Jaime Alem (arranjos, regência, teclado, violão), a banda é formada por João Carlos Coutinho (piano e sanfona), João Castilho (guitarra), Rômulo Gomes (baixo), Marcio Mallard (violoncelo), Bernardo Bessler e Ricardo Amado (violinos), Carlos Bala (bateria) e Reginaldo Vargas (percussão). Todos músicos de primeira, que não decepcionam durante o show.

Além de ser a voz mais inconfudível do Brasil (pode fazer o teste, qualquer pessoa, mesmo que não conheça praticamente nada dela, mesmo que não goste de MPB, é capaz de reconhecer sua voz, que não se asemelha a de mais ninguém), Bethânia também é uma das cantoras com mais presença de palco e carisma. Ela bate o pé e parece dizer "esse palco é meu", ajeita seus cabelos rebeldes e parece estar a dizer "estou viva". Mesmo inerte, apenas a cantar, ela enfeitiça o público. E o mais bonito de tudo é o sorriso que ela exibe o show inteiro, entre as músicas, e principalmente enquanto canta. 

Em Maricotinha ao Vivo Maria Bethânia oficializa sua apoteose, e prova que já está entre os imortais.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Encontros e Desencontros (Lost in translation) - 2003; o indivíduo e sua identidade num mundo globalizado

Encontros e Desencontros (Lost in translation), lançado em 2003.
Um filme de Sofia Coppola.
Ser filho de um grande artista não significa absolutamente nada. Talento não é e nem nunca foi hereditário. Mas é inegável que são vários os exemplos de proles que, seguindo os passos dos pais, acabaram se dando bem na profissão: Cissy e Whitney Houston, Julio e Enrique Iglesias, Glória e Cléo Pires, Gonzagão e Gonzaguinha, Francis Ford e Sofia Coppola.
Depois de se dar muito mal como atriz, a filha de Coppola decidiu dirigir filmes. Nisso ela acabou se saindo bem. Seu penúltimo trabalho, Um lugar qualquer, até recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Mas é Encontros e Desencontros, o segundo de seu portfólio, que é considerado sua melhor obra.

Bob Harris (Bill Murray) é um ator maduro, numa certa crise em seu casamento, que viajou a trabalho sozinho para Tóquio. No hotel ele conhece Charlotte (Scarlett Johansson), esposa de um fotógrafo que também está em Tóquio a trabalho. Seu marido viaja para outras cidades do país para fotografar e a deixa no hotel. Juntos os dois irão passear pela cidade e compartilhar suas frustrações e inseguranças.

Sofia Coppola, que também assina o roteiro (levando um Oscar por isso), faz um filme simples, elegante e polido, com um roteiro bastante enxuto, poucos recursos e pouco dinheiro - pro padrão americano, 4 milhões é uma merreca. Ela insere seus dois personagens, muito bem trabalhados pelos atores, em especial Murray, numa das mais agitadas metrópoles do planeta. Somos então conduzidos pelos dois, numa relação de harmonia, cumplicidade e identificação (e não, os dois não fazem sexo na primeira oportunidade que aparece). Eles passam pelos mesmo problemas: crise no casamento, frustração profissional, insônia causada pela diferença de fusos e um sentimento de serem incompreendidos. Aliás, o título Lost in translation (Perdido na tradução) sintetiza isso. Por várias vezes vemos os dois num choque de cultura, e ainda por cima com dificuldades para se comunicarem.
 
Encontros e Desencontros nos leva a uma reflexão sobre a identidade do indivíduo. É um filme humano, sobre pessoas; a trama não é nada de mais, mas os dois personagens cativam o espectador com suas ambiguidades, com a intensidade e verossimilhança de suas emoções, e fazem tudo funcionar.

Vamos torcer para que Coppola continue trilhando uma carreira de sucesso e acertos, e que um dia, assim como o pai, se torne uma lenda vida do cinema.

#ficaadica