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terça-feira, 30 de julho de 2013

Curta-metragem: A pequena vendedora de fósforos (The Little Matchgirl) - 2006; pequeno melodrama

A pequena vendedora de fósforos (The Little Matchgirl), lançado em 2006.
Um filme de Roger Allers.
Este pequeno curta é bastante previsível, e sendo da Disney martela num cliché criado pela própria produtora, no entanto é um filme belo. Do mesmo diretor de O rei leão.

Baseado no conto de fadas de Hans Christian Andersen, conta a história da menina pobre que não tendo dinheiro nem família tenta vender fósforos para conseguir algum dinheiro. O resto do melodrama choroso tu deve imaginar...

O bom deste curta é que ele se vale das técnicas tradicionais de animação, raro hoje em dia (inclusive este é a última produção da Disney, até o momento, a usá-la; a moda hoje é o 3D). Pessoalmente eu adoro animação feita à mão  (mas o filme foi colorido em computador, como quase tudo desde a década de 90), são ainda mais admiráveis, e trazem um gostinho ainda maior de infância.

E também, apesar de batido, sua temática é para se refletir, afinal o problema da desigualdade social está por toda a parte, afetando a todo o tipo de gente; há ainda a indiferença das pessoas para com o sofrimento alheio, se alguém tivesse comprado ao menos um fósforo talvez o desfecho tivesse sido outro.

A paleta de cores não é muito ampla, o que é compreensível já que acentua a dramaticidade da obra, mas é colorido na medida do possível e bastante agradável de se olhar, e as expressões faciais da personagem envergonham muito ator de carne e osso por aí, muito expressiva. Só achei a trilha sonora muito apelativa.
Um filme bonito, visualmente e filosoficamente, mas nada muito original.


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domingo, 28 de julho de 2013

Mais estranho que a ficção (Stranger than Fiction) - 2006; ousado e divertido

Mais estranho que a ficção (Stranger than Fiction), lançado em 2006.
Um filme de Marc Forster.
Com ares de drama e de romance, esta comédia surpreende pela ousadia do roteiro, que se valendo da ficção e da metalinguagem aborda de modo interessante o processo criador de um artista; uma pequena homenagem à arte. Provavelmente você se lembrará do brilhante Adaptação

Harold Crick vive sua vida numa rotina milimétrica, onde os passos e os segundos são contados. Ele trabalha com números na Receita Federal, e precisa fazer auditorias em casos de sonegadores. Mas estranhamente ele passa a ouvir na sua cabeça uma voz que parece narrar sua vida, o que o perturba. Logo descobrimos que realmente a vida dele está sendo escrita num livro de uma autora, que nem sequer imagina que seu personagem é real. Naquele dia ele procura uma padeira que propositalmente não pagou todo o imposto, Ana Pascal; uma mulher de personalidade forte que mexe com ele. Quando a voz diz que ele vai morrer ele procura um psiquiatra e um estudioso de literatura, tentando descobrir quem é o autor vivo que poderia estar a escrever sua história, para implorar que não o mate.

O roteiro é de um estreante chamado Zach Helm, que deu originalidade à trama ao usar a seu favor todos os clichés cinematográficos com os quais estamos acostumados. Um bom exemplo disso é a padeira lambendo o dedo libidinosamente. Outro acerto seu foi não tentar explicar o escandaloso absurdo no qual a trama se desenvolve, o público apenas aceita a irrealidade.
É interessante que a película não é uma comédia, mas sim um drama tão leve e descontraído - levado numa narrativa calma e equilibrada do diretor -, que nos tira vários sorrisos, embora não risadas. Também não é melodramático ou apelativo. 

Will Ferrell, conhecido pela comédia, tem aqui uma atuação contida, na pelo de um homem que, em suma, nunca viveu de verdade. O filme acaba sendo, então, uma parábola que denuncia a mediocridade que damos a nossa própria vida; que nos faz refletir sobre o porque de não realizarmos nossos sonhos e fantasias. Do outro lado Emma Thompson vive uma espirituosa escritora, que entre o sarcasmo e os maços de cigarro tenta inventar um bom modo de matar seu herói, irá passar pelo dilema moral entre cumprir seu dever e morrer de remorso ou terminar um livro comum. Há ainda Dustin Hoffman como uma criatura inteligente e irônica.

Um filme gratificante.

#ficaadica

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Especial: Curtas-metragens - Sessão Georges Méliès

O francês Georges Méliès é uma das maiores lendas do cinema, simplesmente porque foi um verdadeiro precursor do cinema; alguns de seus filmes datam do final do século XIX (inclusive dois dos que iremos ver). Sendo um ilusionista ele é o verdadeiro pai dos efeitos especiais, e usou diversos meios e técnicas próprias para mostrar mais que a realidade; meios bastante curiosos, que podem ser vistos em Hugo, uma homenagem de Martin Scorsese ao francês.

Seu filme mais conhecido já foi partilhado aqui no blog. Entre os mais de 500 curtas que produziu, boa parte perdida pelo tempo, selecionamos três - que juntos somam apenas 9 minutos - que mostram todo seu modo pessoal de filmar.

Delicie-se com essa viagem ao tempo, aos primórdios do cinema. Só vale lembrar que as trilhas sonoras não são originais, naquela época o cinema ainda era mudo.

Cabeças humanas (Un homme de têtes), filme de 1898.



O impressionante fim do século (L'impressionniste fin de siècle), filme de 1899.



O Locatário Diabólico (Le locataire diabolique), filme de 1909.
Colorido à mão.


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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Curta-metragem: Escuridão/Luz/Escuridão (Tma, Svetlo, Tma) - 1989; o bizarro surrealismo de Svankmajer

Escuridão/Luz/Escuridão (Tma/Svetlo/Tma), lançado em 1989.
Um filme de Jan Svankmajer.
Stop motion, na minha opinião, é uma das coisas mais bacanas do mundo cinematográfico. Milhares de fotografias para criar minutos de filme, numa paciência e técnica admiráveis.

Tma/Svetlo/Tma é um filme para se deliciar com a técnica. Do diretor tcheco Jan Svankmajer, de Dimensões do diálogo, ele traz novamente a argila usada no stop-motion. Desta vez um ser humano moldando a si próprio dentro de uma sala minúscula.
Temos aí uma crítica, pois sem coração o homem quer crescer cada vez mais, o que acaba gerando problemas. Uma verdadeira metáfora para a ambição e o egoísmo exagerados.

Brilhante e bizarro, divertido e perturbador. Todo o surrealismo experimental do diretor em 6 minutos.


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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Carta aos leitores; aniversário de um ano do blog

Caros leitores;

a triste estatística, de que a vida média de um blog é de três meses, não nos pegou. 
Hoje 22 de julho o blog está completando exatamente um ano de vida, com aproximadamente 250 resenhas e, segundo o Google Analytics, 27.188 visitas, 25.583 visitantes únicos e 37.346 visualizações de página.
Nesse meio tempo muita coisa mudou na minha vida; inclusive direta ou indiretamente o blog foi responsável por alguma destas mudanças.

O mais óbvio é que a experiência melhorou muito minha capacidade de analisar, compreender e olhar com visão crítica o cinema. Evoluiu também minha capacidade de escrever (e de digitar). Além disso minha visão, até então muito limitada do cinema, se ampliou bastante. Conheci novos diretores e atores, vi filmes de países que eu sequer sabia que produziam filmes, entrei em contato com novos gêneros, estilos, perdi preconceitos em relação a épocas, passei a questionar prêmios, aprendi que um Oscar não é tudo na vida, tomei desprezo por Michael Bay e confirmei minha certeza de que é Kate Winslet minha atriz predileta. Li inúmeros textos de colegas cinéfilos e de críticos, e criei enorme admiração pelo trabalho de alguns.

Não bastasse isso, os filmes me ensinaram muito a como ser uma pessoa melhor e a ver o mundo e as pessoas com mais humanidade. Entrei em contato com temas polêmicos, delicados ou preocupantes como todos os tipos de preconceitos, pedofilia, desigualdade e exclusão social, doença mental, manipulação midiática, prostituição, homossexualidade, drama familiar, fascismo, aborto, guerra e violência, drogas, eutanásia, doença, morte, identidade pessoal e muita, mas muitas outras coisas que contribuíram na construção de ideias, visões políticas. 

Entrei em contato também com belíssimos assuntos humanos como o amor, a nostalgia, o autoconhecimento, a solidão, a natureza, a sexualidade, o envelhecimento e o amadurecimento, a esperança e a persistência, a amizade e a fraternidade, os valores. Vi a beleza espinhosa que é a vida. Enfim o cinema ajudou a moldar minha personalidade, minha visão de mundo e de mim mesmo.

Nesse meio tempo saí do ensino médio e entrei na universidade (só eu sei o que os filmes me ajudaram no ENEM, em todas as áreas - sobretudo história e linguagens, e como escrever aqui diariamente fez a diferença na hora de escrever a redação). Graças aos filmes apaixonei-me irremediavelmente pelo jazz (e quase comecei a fumar), conheci cantores e virei fã. Conheci uma sala de cinema pela primeira vez, já depois de, estranhamente, começar a escrever sobre a sétima arte.

Graças ao blog fiz um amigo de outra cidade, Diogo, a quem quero agradecer pelo apoio, pelas visitas e por me dar a ideia de escrever este texto. Obrigado pelo carinho.

Agradeço também a todas as outras pessoas que tem visitado, elogiado, criticado meu trabalho nesses doze meses. O blog é para vocês, escrevo para vocês. Obrigado.

Que mesmo com as dificuldades este site sobreviva por mais um bom tempo.

Com carinho;

Flávio Túlio de Lima

sábado, 20 de julho de 2013

Elefante Branco (Elefante Blanco) - 2012; cru e verdadeiro

Elefante Branco (Elefante Blanco), lançado em 2012.
Um filme de Pablo Trapero.
Os maiores representantes do cinema latino americano são Brasil, México e Argentina; e este último é talvez o que mais vezes costuma surpreender, tanto que é detentor de dois Oscar, mesmo tendo menos vezes sido indicada ao prêmio que o México, que assim como o Brasil, não possui uma única estatueta.
Em Elefante Branco o diretor argentino Pablo Trapero se une a Ricardo Darín (pela segunda vez) e ao belga Jérémie Renier para nos mostrar, com uma elegante temperança, uma face do país desconhecida fora da argentina mas presente em absolutamente toda a América Latina, inclusive o Brasil: o ambiente das favelas.

Depois de se traumatizar com um episódio sangrento envolvendo as FARCs na Amazônia Peruana, onde fazia um trabalho social e religioso, o padre belga Nicolás (Renier) vai para uma "villa miseria" de Buenos Aires onde o padre Julián (Darín) e a assistente social Luciana (Martina Gusman) tentam levar um pouco de humanidade, num ambiente violento e marcado pelo narcotráfico.

O título do filme se refere à obra de um hospital (cujo projeto da década de 20 previa ser o maior da América Latina) abandonada pelo governo e onde formou-se um assentamento. Desde o início nós presenciamos um ambiente de guerra, que mesmo com a mudança de cenário vai continuar. Na comunidade uma luta entre dois chefes do tráfico alicia crianças, que desde cedo se drogam e se alcoolizam, e promove um verdadeiro caos entre a lama e o lixo. O trio tenta salvá-las e também a todo o resto da vila. Além dos criminosos o outro grande mal é o esquecimento da vila pelo poder público, que quando age é com violência policial. 

Como não poderia deixar de ser, o maior êxito do filme é a sua sinceridade, que não tenta vangloriar seus protagonistas, aqui muito humanos, envolvidos também em seus dilemas éticos e fraquezas interiores; como medo e descrença. Uma cena notável é a sequência contínua na qual Renier percorre os becos, nas mãos de homens violentos, à procura de Mario. De tirar o fôlego com sua tensão, onde quase se ouve o coração do personagem. Aliás o elenco todo é muito competente, inclusive o protagonista do também argentino e brilhante O segredo dos seus olhos surpreendeu-me novamente.

A fotografia é distante, indiferente, obscura na noite e cinzenta durante o dia. É cinema visceral, amargo, humano. Uma crítica ao descaso governamental, ao crime, à brutalidade militar, à indiferença das altas cúpulas da Igreja e às inúteis ideias utópicas.

#ficaadica

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Curta-metragem: Dia & Noite (Day & Night) - 2010; divertido e inovador

Dia & Noite (Day & Night), lançado em 2010.
Um filme de Teddy Newton.
A Pixar quase sempre agrada a seu público. Mas confesso que recebi mais do que esperava desse curta. É ótimo! 

Diferente do que que você está acostumado em animações, Day & Night usa de modo lindo o 3D e o 2D, e resulta num filme colorido e vibrante no qual Dia e Noite se conhecem. De personalidades distintas eles se estranham e tentam provar um um para o outro qual é o melhor.

Tem até uma pequena homenagem à música brasileira, ouve-se "Desafinado", composição do imortal Tom Jobim na voz do também imortal João Gilberto, além de bom jazz instrumental.


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terça-feira, 16 de julho de 2013

Curta-metragem: Vida Maria - 2006; triste realidade

Vida Maria (Vida Maria), lançado em 2006.
Um filme de Márcio Ramos.
Vida Maria é um curta brasileiro que ganhou notoriedade quando foi lançado, não pelos seus aspectos técnicos (nesse ponto é um tanto falho às vezes e brilhante em outras), mas por retratar uma triste realidade no país, sobretudo no sertão nordestino.

Ele mostra por meio de três gerações como aquela população vive esquecida pelo governo e mostra como a falta de educação condena as pessoas a viverem as mesmas vidas precárias, sem esperanças de melhora, geração após geração, onde o rancor gera mais rancor. Além disso ainda denuncia o sexismo da sociedade.

Não há dúvida que existem diversas Marias por aí. Não há dúvidas que é um filme de valor.


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domingo, 14 de julho de 2013

Amor à Queima-Roupa (True Romance) - 1993; a elegante violência de Tarantino

Amor à Queima-Roupa (True Romance), lançado em 1993.
Um filme de Tony Scott.
Por mais paradoxal que isso soe, Tarantino é conhecido por abordar a violência de modo "elegante", estilizado. Sim, nas suas mãos sangue jorrando não parece banal ou absurdo, é como se existisse uma certa indiferença irônica, como se o espectador olhasse para aquilo com um ar de superioridade. 
True Romance não é um filme seu, ele apenas assinou o roteiro, cuja venda serviu para que ele iniciasse sua trajetória de sucesso com Cães de aluguel. Mas mesmo sem dirigir, seu toque de humor negro no roteiro foi capaz de deixar o filme com bastante de seu estilo. Quem filmou foi Tony Scott, diretor de Top Gun - Ases Indomáveis, que acabou estragando um pouco o roteiro de Tarantino, ao filmar uma produção mais voltada ao sucesso comercial.

Alabama (Patricia Arquette) é uma jovem e simpática prostituta (um tanto ingênua) contratada pelo chefe de Clarence (Christian Slater) para que ela passasse uma noite com ele. Mas depois de fazerem sexo os dois se apaixonam e no dia seguinte se casam. Clarence é fã de Elvis Presley, e tem uma visão imaginária do seu ídolo orientando-o a matar o cafetão que intermediava Alabama. Ele segue o conselho e depois de levar uma surra consegue matar o homem. Na fuga, às pressas, ele leva uma mala que acredita estar cheia das roupas da esposa, mas na verdade é uma maleta com um quantia enorme de drogas. Eles viajam para Los Angeles para vender a droga, mas a máfia italiana está os procurando.

True Romance é um filme tolo; deliciosamente estúpido. No primeiro ato temos vários clichés que aos poucos forma algo que mais se parece com uma daquelas comédias românticas batidas. Mas está aí um acerto. Os clichés são propositais, estão lá para aumentar a carga de humor negro. Pombinhos apaixonados perdidamente, como Romeu e Julieta, mas que transam à beira da rodovia, com toda a gente a vê-los, e que têm as mãos sujas de sangue e muito dinheiro em drogas no porta-malas. A ironia está também noutros aspectos (quase sempre), a fotografia é clara e alegre e a trilha sonora divertida mesmo nas cenas mais violentas e trágicas.

O filme é engraçado e sangrento, e um elenco competente, que inclui super famosos que na época estavam em início de carreira, contribui para elevá-lo a outro patamar (como Brad Pitt na pele de um drogado inútil). Não é um filme perfeito, mas bastante gratificante e divertido.

#ficaadica

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre) - 1999; o charme da mais reconhecida obra de Almodóvar

Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre), lançado em 1999.
Um filme de Pedro Almodóvar.
Reconhecido em todo o mundo pelo seu modo particular de fazer filmes, Pedro Almodóvar é talvez o mais poderoso nome da atualidade do cinema espanhol. Tendo recebido fama internacional já no final dos anos 80, foi a partir do final dos anos 90 que se consagrou definitivamente, sobretudo com o sucesso de Todo sobre mi madre, que levou diversos prêmios ao redor do mundo, inclusive o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Manuela (Cecila Roth) é uma mãe solteira que vive em Madri. No aniversário de seu filho ela leva o garoto ao teatro, e quando ele tenta pegar o autógrafo da estrela do espetáculo é morto por um atropelamento. Arrasada com a perda ela se muda para Barcelona, onde espera encontrar o pai do garoto, Lola, um travesti que nunca soube que tinha um filho.

Almodóvar, que também assina o roteiro, é conhecido pelas singelas homenagens à vida, por abordar temas polêmicos e por colocar mulheres nos papéis principais de suas obras. Não é diferente com Tudo sobre minha mãe, que é um filme feminista, mas do melhor e mais despretensioso modo possível. Cecilia Roth é Manuela, uma enfermeira que um dia engravidou de um travesti e fugiu para outra cidade para criar sozinha o filho. Quando ela volta à Barcelona encontra uma transsexual já conhecida, e fica a saber que o pai de seu filho a roubou. Com a dor de sua perda ela acaba assumindo um papel maternal em relação à Agrado, que sofre nas ruas mas sem nunca perder o bom humor, e sobretudo com Rosa (Penélope Cruz), uma freira que também está grávida de Lola. Ainda se torna assistente da atriz lésbica - cuja amante é viciada em heroína- que, indiretamente e sem pretensão, matou seu filho.

Apesar do absurdo no qual este enredo se embrenha, chegando a ser ridículo e lembrar uma novela mexicana, Tudo sobre mi madre é um filme humano, intenso, real.
Com passagens bem humoradas e outras dramáticas, temos uma obra agridoce poderosa, profunda e sensível, capaz de machucar e levantar uma reflexão sobre variados temas como a doação de órgãos, a vida, a morte e o impacto nos que ficam, identidade sexual, HIV e os laços afetivos entre os seres humanos. Os personagens são muito bem desenvolvidos, e a humanidade que exalam, entre suas alegrias e frustrações, sonhos e desilusões nos comovem e nos afasta dos estereótipos; o elenco é competente, destacando-se além de Roth as atrizes Marisa Paredes e Antonia San Juan. 

É um filme melancólico (mas nem um pouco apelativo), mas paradoxalmente ele transborda vida com sua fotografia colorida e alegre (marca registrada do diretor) e com a trilha sonora sutil. É cinema em sua mais artística e gratificante forma, daí seu poder de agradar a praticamente qualquer tipo de público (menos os mais conservadores). Para os amantes do cinema ainda há uma pequena paródia, uma pequena homenagem, ao filme A Malvada. 

É tragicômico, bizarro, mas imensamente real. Obra obrigatória para os cinéfilos.

#ficaadica

terça-feira, 9 de julho de 2013

Corra Lola, Corra (Lola rennt) - 1998; fantasioso e ousado

Corra Lola, Corra (Lola rennt), lançado em 1998.
Um filme de Tom Tykwer.
O diretor alemão Tom Tykwer já nos foi apresentado com Perfume, mas se naquele filme ele usa toda sua capacidade para criar um cenário obscuro e podre, transformando o filme de época num thriller sombrio, em Lola rennt temos uma ficção alucinante e bastante contemporânea, ambientado na época de sua filmagem e trazendo como protagonista uma verdadeira personificação da rebeldia.

Lola é a espirituosa filha de um banqueiro. Seu cabelo é escandalosamente vermelho e seu namorado é um coletor de dinheiro de uma gangue de contrabandistas. Um dia o rapaz recebe o trabalho de receber cem mil marcos e levar o dinheiro até seu chefe, mas ele acaba deixando a sacola no metrô e um mendigo leva o dinheiro. Desesperado, sentindo que será morto pelo patrão caso não resgate a grana, ele telefona à Lola e pede ajuda. Ela tem então 20 minutos para tentar arrumar o dinheiro com o pai, antes que o namorado agrave a situação assaltando uma loja. Literalmente ela corre.

Corra Lola, corra é um filme juvenil. Não só pela protagonista, jovem, rebelde e inconsequente. Tudo nele, desde a trilha sonora constantemente e frenética, até as animações, os efeitos especiais, a fotografia colorida, os closes e ângulos extravagantes. Lembra um pouco as produções televisivas da MTV (não sei se isso é bom ou ruim). Mas é um filme criativo e um tanto inovador.

O filme tem nítidos contornos surrealistas, até porque muita coisa nele é absurdo, fantasioso. Desde os gritos até a corrida longa (como a garota tem fôlego!) pela cidade quase deserta. Com a repetição do que foi, ou que poderia ter sido, presenciamos três finais distintos. Eles mudam por pequenas coisas, um passo mais rápido pode mudar a história de quem corre e de quem esbarra com o corredor. Uma teoria bastante plausível acerca do poder do tempo. É o que faz o enredo medíocre se tornar um filme tão interessante. A trama varia do drama à comédia, passando por doses de adrenalina.

Corra Lola, corra é divertido, é inventivo, é jovem e é rápido.

#ficaadica