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domingo, 30 de dezembro de 2012

O selvagem da motocicleta (Rumble fish) - 1983; sujo, violento, feio

O selvagem da motocicleta (Rumble Fish), lançado em 1983.
Um filme de Francis Ford Coppola.
Coppola, de Apocalypse Now e da trilogia O poderoso chefão nos presenteia também com este belíssimo e inovador preto-e-branco, carregado com seu estilo pessoal. Num ambiente sujo e violento se desdobra uma história de interação entre irmãos e pai e filhos.

Rusty James é o líder de uma gangue, rebelado e com ânsias de poder. Vive cercado de outros marginais com quem luta contra outras gangues. Mas o que ele realmente gostaria era de ser como o irmão mais velho, o Garoto da Motocicleta, um ídolo no subúrbio da cidade, que após passar um tempo desaparecido, acabou de voltar da Califórnia, onde passara por momentos de reflexão existencial e encarou traumas como o de ser abandonado pela mãe. Calmo e inteligente, ele parece querer ensinar ao irmão sobre duras verdades da vida, enquanto vivem num mundo de drogas, sexo, violência e rock. Isso num ambiente sujo, feio, mal-cheiroso, escuro.

É um filme carregado de simbolismos e marcas pessoais, várias vezes inovadora, de Coppola. Para se ter idéia, o filme tem um motivo para ser preto e branco, e não era falta de dinheiro ou de tecnologia. É uma referência ao personagem chave do enredo. O jogo de ângulos e sequências da fotografia também são impressionantes, várias vezes nos sufoca, nos deixa desconfortáveis e apreensivos. Mas em algumas breves cenas temos cores na tela. Lembram-se da garotinha de vestido vermelho em A Lista de Schindler, de Steven Spielberg? Temos aqui artifício semelhante, porém muito mais carregado de significado, pois peixes de briga (nas cores da bandeira americana!) acabam servindo como um reflexo de Rusty e das gangues, que mais tarde é capaz de se ver colorido no reflexo de um vidro, simbolismo este que será compreendido por quem assistir. Ainda é mostrada a delicada relação dos dois irmãos com o pai bêbado, abandonado com os filhos pela mulher. Mas sem dúvida alguma, os dois irmãos são os interessantes personagens, brilhantemente interpretados por Matt Dillon (Rusty) e Mickey Rourke (Garoto da motocicleta). E não se pode deixar de mencionar o retrato de uma geração jovem e rebelde dos anos 70 que este filme é.

#ficaadica

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O quarto do pânico (Panic Room) - 2002; um thriller excelente

O quarto do pânico (Panic Room), lançado em 2002.
Um filme de David Fincher.
David Fincher, conhecido nosso de O curioso caso de Banjamin Button e de A rede social, nos presenteia com esse suspense maravilhoso, estrelado por Jodie Foster, com histórico favorável nesse tipo de filme (O silêncio dos inocentes), que atua ao lado de, na época já insossa, Kristen Stewart, e de Forest Whitaker.

Jodie Foster é uma rica mulher recém-divorciada, acaba de se mudar com a filha Kristen Stewart, que tem diabetes, para um casarão com uma peculiaridade: um quarto do pânico; feito para proteger de vários perigosos quem estiver dentro dele, contando, ainda, com um circuito interno de TV, sendo possível monitorar toda a casa a partir dele. Acontece que três homens querem roubar uma quantia milionária escondida no quarto do pânico, por isso invadem a casa pensando que está ainda sem moradores.
Foster acorda pela noite, pelos monitores vê os assaltantes e então corre com a filha para o quarto. Quando lá chega descobre a linha de telefone inoperante e o celular sem sinal.

Os assaltantes, então, iniciam tentativas de tirar as duas lá de dentro, iniciando por injetar gás dentro do quarto. Mas é uma disputa de inteligência, do lado de dentro Foster usa a cabeça e o ambiente para tentar se salvar e a filha. Mas Stewart está sem seus remédios e o diabetes começa a debilitá-la. Foster precisa sair, mas isso pode tomar o rumo inesperado e ainda mais tenso.

Fincher se revela um mestre do suspense, com sequências incríveis, e um jogo de câmera e pós-produção surpreendente. O roteiro é impecável e muito interessante. Foster e Whitaker são o ponto alto do elenco; Kristen Stewart, na época uma menina, já mostrava o pouco talento que hoje revela, mas não chega a estragar o filme, e a trilha sonora só acrescenta.
#ficaadica

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Fabuloso destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain) - 2001; meigo e peculiar

O Fabuloso destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain), lançado em 2001.
Um filme de Jean-Pierre Jeunet.
Este é um filme francês adorável, simpático, leve, divertido e MUITO extravagante; sem soar infantil.
Um mix delicioso de drama, romance, suspense e comédia que foi sucesso absoluto de público e crítica.

Amélie cresceu numa família parisiense nada carinhosa. O pai frio só se aproximava dela para fazer exames (é médico), e emocionada o seu coração sempre acelerava, fazendo com que o pai desse um diagnóstico errado de problema cardíaco e impede que ela vá a escola e viva com outras crianças, sendo alfabetizada em casa pela mãe. Um dia sua mãe é atingida por um suicida e morre junto. Tudo isso afeta profundamente a personalidade da garota.
Já adulta ela trabalha numa lanchonete e seu mundinho fechado se restringe a alguma poucas pessoas estranhas e hilárias. Certo dia ela encontra uma caixa cheia de brinquedos e outros "tesouros" que um dia algum ex-morador do apartamento, ainda criança, escondeu. Extasiada ela inicia uma busca pelo homem, e após algumas dificuldades encontra-o, e dá um jeito de entregar a caixa sem revelar sua identidade. Como era de se esperar, o senhor já idoso chora de alegria. A partir daí ela decide fazer sempre o bem, tornar a vida de outras pessoas feliz, a fim de também ficar feliz. E faz isso sempre sem mostrar a identidade, armando planos fantásticos para aproximar pessoas e amenizar seus dramas. Ainda se vinga de gente ruim,. O problema é que ela própria, ingênua e tímida, não é capaz de declarar seu amor a um rapaz que coleciona fotografias (juro que quando vi a coleção, e o tipo de fotografia que era, fiquei com vontade de imitar).

Analisando o filme, é fácil perceber sua beleza e sensibilidade, assim como a de seus personagens. Uma verdadeira fábula criada por uma menina sonhadora que ainda possui a esperança de ser feliz, num mundo egoísta, individualista e cada vez pior. A trilha sonora é simplesmente fantástica. E Audrey Tautou aparece-nos simplesmente fantástica, dando vida a sua personagem de modo impressionante, com olhos arregalados, sorrisos tímidos. O único problema é que Paris nos aparece idealizada, linda, limpa, sem problemas sociais, feliz. O que não é bem assim. Mas esses são pormenores que embora levando à ruína alguns filmes, em Amelie são totalmente perdoáveis e esquecíveis.

Com certeza dá uma paz de espírito ao terminar de assistir.

#ficaadica

domingo, 23 de dezembro de 2012

Magnólia (Magnolia) - 1999; extremamente amargo e imprevisível

Magnólia (Magnolia), lançado em 1999.
Um filme de Paul Thomas Anderson.
Acho que já a muito um filme não me fazia sentir tão mal, mas também havia algum tempo que um filme não me agradava tanto. Sua melancolia fúnebre é divertida e até engraçada (não, eu não sou um masoquista). Escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson, nosso conhecido de Sangue Negro, essa preciosidade trás um elenco composto por nomes conhecidos como Tom Cruise, Jason Robards (o último de sua carreira), Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, John C. Reilly, Alfred Molina e Melora Walters. Vale salientar que dos filmes de Cruise e de Moore que assisti, em nenhum estavam tão convincentes como neste. O primeiro encarnando um palestrante exótico que ensina os homens a conquistarem mulheres, e a segunda como uma mulher que casando-se por interesse se apaixona pelo velho marido à beira da morte. 

O início do filme tem um ar cômico e descontraído, narrando três eventos que envolviam fatalidades, coincidências (ou não) e improbabilidades. Mas então são revelados, aos poucos, os temas que vão compor o enredo, que acaba entrando num ar tão pesado, tão amargo, que é quase impossível não se sentir mal também, principalmente por uma coisa: o filme fala sobre erros, arrependimentos e pessoas infelizes com a vida que levaram. Talvez esteja até cogitando nem ver mais, mas acredite, é uma experiência riquíssima, tanto do lado pessoal como cinematográfico. Só uma coisa me decepcionou um pouco. Justamente no clímax de tensão e melancolia, inicia-se uma chuva de rãs - sim, cai rãs (sapos) do céu, como chuva -, notavelmente uma analogia a temas bíblicos. Mas a chuva tem sua razão de existir no enredo, embora ainda ache que ela jamais devia ter ocorrido.

Tom Cruise é um homem que cresceu com ódio do pai, que o abandou junto a mãe doente, e seu ódio se converteu de alguma forma contra as mulheres, ele é um conquistador que ganha a vida ensinando outros homens a se darem bem na conquista. Seu pai é Jason Robards, um produtor de televisão no leito de morte, cheio de remorsos; casado com Julianne Moore, mulher que se casou por dinheiro e agora se vê depressiva, cheia de culpa e dependente de remédios; e assistido pelo enfermeiro Philip Seymour Hoffman. Um dos programas que ele produzia é um reality show de sucesso, apresentado por Philip Baker Hall, que descobriu que tem apenas dois meses de vida, e é pai de Melora Walters, mulher viciada em drogas que se afastou do pai por ele supostamente a ter molestado. Ela se envolve com um bondoso policial, John C. Reilly. O programa de Hall é um game show onde crianças inteligentes disputam contra adultos. E então temos Jeremy Blackman como o atual jogador, controlado por um pai autoritário, e William H. Macy é um ex-participante, que perdeu o emprego e precisa pagar um aparelho ortodôntico que colocou apenas para tentar seduzir um garçom.

A exemplo de outros filmes de que já falamos, como Babel Crash, ambos posteriores a Magnolia, aqui também temos uma rede de subtramas que interligam a vida dos personagens, mostrando a consequência de uma ação sobre outras, a casualidade de certos eventos, o jogo de ação-reação. Tudo numa confusão maravilhosa, as vezes difícil de ser acompanhada e totalmente compreendida, mas impecavelmente bem trabalhada.


Seu principal tema é a consequência de nossas escolhas e dos acontecimentos de infância. Mas outros assuntos como homossexualidade, drogas, conflito familiar, incesto, adultério, expiação, remorso, doença, morte, solidão, remorso e perdão também são abordados.
Magnólia é uma espécie de parábola, ensinando-nos a pensar muito bem antes de tomar ações.

#ficaadica
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Hoje em dia entendo Magnólia um pouco melhor do que quando escrevi esta resenha.
Na verdade hoje vejo que a chuva de rãs é um dos maiores êxitos deste filme; e ela não é gratuita, de certa forma o diretor nos prepara para essa cena ao longo da obra. Hoje gosto ainda mais deste filme, e o recomendo ainda mais.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Trilhos do destino (Rails &Ties) - 2007; um melodrama decente

Trilhos do destino (Rails & Ties), lançado em 2007.
Um filme de Alison Eastwood.
Me lembro de uma vez ter visto o escritor José Saramago, no documentário sobre ele, José e Pilar (talvez um dia faça uma postagem) elogiar um cantor dizendo que ele era o filho do grande Fulano (me foge o nome agora), mas que isso não significava nada. Ou seja, o simples fato de ser filho de alguém talentoso não quer dizer que a prole seja talentosa.

E aqui temos um filme da filha de Clint Eastwood que não tem os níveis de qualidade dos filmes de Clint Eastwood. Não se pode culpar a direção exclusivamente, está claro que a Srta. Eastwood tem qualidades além da incomum beleza, tendo lidado muito bem com vários pontos do filme; talvez o roteiro falho seja o grande problema. O elenco é poderoso, e é para elogiar logo Marcia Gay Harden e o pequeno Miles Heizer, ator mirim que impressionou.

A primeira impressão foi a de um grande filme, mas este foi se desviando dos trilhos e tomou rumo a um melodrama um tanto previsível, meio improvável e um pouco pretensioso.

Temos uma mulher doente (cancro na mama) precisando da atenção do marido, um condutor de trens, que só pensa em sua profissão e não dá atenção suficiente a ela. Esse mesmo homem esbarra de maneira trágica na vida de um menino: a mãe dele estacionou o carro sobre os trilhos do trem, num acesso de loucura. O maquinista, seguindo os protocolos, não freia o trem (para evitar um descarrilhamento) e mata a mulher louca, o menino só se salva porque pula no último segundo. A primeira relação com o maquinista é de ódio, acusando-o de nem ter tentado salvar sua mãe. Mas desolado ele vai morar com parentes próximos. Ele então foge e procura o maquinista para um confronto, mas acaba sendo adotado (ilegalmente) pela esposa doente dele. O menino também tem paixão por trens e isso o liga ao maquinista enquanto passa por um processo de amadurecimento. 

Aproveitando-se da doença e solidão da mulher e do sofrimento pós-traumatico do garoto, o enredo tenta levar o espectador a um caminho de choro e angústia forçada, muitas vezes com eventos pouco críveis, e música pretensiosa; mas mesmo assim podemos classificá-lo como, no mínimo, decente. Esperamos todos que Aliosn melhore e consiga continuar o trabalho do pai com talento.

#ficaadica

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A cura (The cure) - 1995; o importante papel da amizade retratado de modo falho

A cura (The Cure), lançado em 1995.
Um filme de Peter Horton.
A cura é um típico melodrama que aborda alguma doença como tema. Embora não seja tão pretensioso e desagradável como Uma prova de amor ele também tem sérias falhas, mas apesar dos pesares, mesmo parecendo muito com filmes da Sessão da Tarde, eu gostei de assisti-lo. O público adolescente, de um modo geral, com certeza é quem mais se identificaria com ele, uma vez que trata de um modo um tanto idealizado a amizade (em Portugal o título do filme é Laços de amizade).

Dexter é um menino que pegou AIDS em uma transfusão de sangue, recém chegado na vizinhança. Ele mora com a mãe. Como já é de se esperar, a vizinhança nunca viu com bons olhos a presença de um garoto doente por ali, e ele vive a brincar sozinho sem nenhum amigo. É quando aparece Erick. No começo ela também rejeita o garoto, mas logo se tornam grandes amigos. Juntos eles começam a procurar em meio a ervas uma cura para a doença além de eventualmente fugirem de casa na esperança de que Dexter seja curado por uma suposta descoberta de um médico em Nova Orleans.

O grande problema do filme, é que, além de fazer piadas com a morte e a doença (embora nada de mal gosto, acaba tirando boa parte da intensidade do filme, que ao menos contribui para ficar mais leve) ele é bastante improvável. Quantos garotos você já viu tentando chegar a uma cidade a mais de 1200 milhas em uma embarcação rudimentar movida a correnteza num grande rio como o Mississipi? Algumas ações são simplesmente ridículas.

Em contrapartida temos pelo menos cinco cenas memoráveis, que são o ponto alto de filme e que fez ter valido a pena vêlo: o diálogo entre os dois meninos quando Erick encontra Dex ensopado de suor no saco de dormir e entrega-lhe o sapato; depois da pouco convincente cena da mão ensanguentada, temos uma sequência legal, um monólogo seguido de dialogo quando Dex se dá conta de que seu sangue é "veneno"; o dialogo entre Dex e o médico a lhe falar sobre milagres; a melhor de todas, que é o confronto entre as duas mães dos meninos; e finalmente quando a mãe de Dex encontra o corpo do filho segurando o calçado de Erick, a mais simbólica das cenas. O destaque do elenco é Annebella Sciorra, que faz a mãe de Dexter, bondosa e que acolhe o grosseiro novo amigo de seu filho. Uma pena que a maior parte da película tenha sérias falhas, mas como disse, valeu a pena.

#ficaadica

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Especial: Clint Eastwood

Fã do trabalho de Clint Eastwood?
Confira os filmes do ator e diretor já resenhados pelo blog (clique nos links, não nas imagens):







Postagem sujeito a atualizações à medida que o autor do blog resenhar mais trabalhos do artista. Você pode acompanhar as postagens de qualquer diretor, ator ou mesmo músico específico por meio dos marcadores (links sempre abaixo dos títulos). Temas, gêneros e ano também costumam ser marcados. Para fazer uma busca de marcadores de Clint Eastwood clique aqui ou no link com seu respectivo nome logo abaixo do título.

Notas sobre um escândalo (Notes on a Scandal) - 2006; o peso da solidão e da sexualidade na vida humana

Notas sobre um escândalo (Notes on a Scandal), lançado em 2006.
Um filme de Richard Eyre.
Em 2001 Judi Dench já havia trabalhado com Richard Eyre, no filme IrisNa época recebeu diversas indicações a prêmios, inclusive ao Oscar. O sucesso se repetiu em 2006. Neste excelente filme ela faz um papel diferente e convincente na pele de uma mulher amarga e solitária e novamente é indicada ao Oscar, entre outros prêmios, sem dúvida um de seus melhores trabalhos. Ao seu lado, não menos talentosa e convincente, está Cate Blanchett, igualmente indicada ao prêmio. Quem acompanha o blog sabe que as duas estão entre minha lista de atrizes prediletas, mas não suspeitem: estou sendo imparcial ao dizer que ambas fizeram bom trabalho aqui e são o maior ponto alto desse drama com ar de thriller psicológico, junto à trilha sonora de Philip Glass. O roteiro é adaptado de um romance de Zoë Heller, de mesmo nome.

Estamos em Londres, numa escola pública. Barbara (Judi Dench) leciona história. É uma mulher solteirona, à beira da aposentadoria, solitária, fria e amargurada. Não é bem vista pelos alunos pelo seu jeito durão. Ao contrário dela, Sheba (Cate Blanchett) é uma professora recém-chegada, jovem, bonita e popular entre os alunos. As duas se tornam amigas e Barbara se sente num período feliz de sua vida. Mas a relação é abalada quando ela descobre que Sheba tem um caso amoroso-sexual com um de seus alunos, de apenas 15 anos. Ela ameaça levar a verdade ao colégio caso a amiga não prometa encerrar o caso. Sheba tenta, mas não consegue e continua seu relacionamento com o garoto em segredo. Mas Barbara volta a descobrir e desta vez obriga Sheba a terminar. Mas Barbara tem planos obsessivos para Sheba, e faz o que for preciso para tentar conseguir o que quer, inclusive revelar o escândalo, trazendo consequências destrutivas.

Ambas as personagens são curiosas e tem algo em comum que as une: a solidão. Barbara, embora possa parecer a primeira vista, não é uma vilã; é uma vítima de si mesma, como todos nós o somos. A verdade é que este filme, como todo bom drama, não possui vilões e mocinhos, assim como a nossa vida também não possui, tudo é relativo e fruto das circunstâncias, e é este realismo que torna a película tão sedutora. Mas voltando a Barbara, suas atitudes reprováveis são um reflexo da vida solitária que levou, revelando o papel das relações sociais e da plena sexualidade na construção da felicidade; não sabemos se ela é homossexual - talvez seja bissexual - o que sabemos é que nutre um desejo por Sheba. 
A personagem de Cate Blanchett também possui suas singularidades. Mesmo sendo casada e possuindo dois filhos, um deles doente, ela sente-se sufocada e distante, até sem personalidade, talvez por ter se casado cedo e com um homem bem mais velho. Seu caso com o aluno é um refúgio de tudo isto, mas infelizmente é um crime. Nesse momento o espectador pode se escandalizar e julgar Sheba, a pedófila adúltera, mas acompanhando sua vida ao longo do filme, e entendendo que o caso foi iniciado por, e com total consentimento do garoto - que nem é tão jovem assim, 15 anos, e além do mais que garoto nunca se sentiu atraído por uma professora? - nos questionamos sobre a validade de tal tabu social. Ela e o garoto são livres e humanamente falhos e cheios de vigor e desejo sexual.

A questão é que todos os personagens, protagonistas ou não, possuem seus defeitos, qualidades e singularidades; são humanos. E toda essa história escandalosa nos conduz a uma reflexão.

#ficaadica